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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AIRAM - o Mago em Qumrum - A Tektoniké - 2002 - João Basileu (Fernando M C de Mello)

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fmcmello@hotmail.com




Capa: Ao fundo fotografia do sitio de Khirbet Qumrum, nas covas das escarpas onde foram encontrados Manuscritos do Mar Morto, em 1947.

Copyright©João Basileu 2002


publicado pela Vivalli Editora com a seguinte Capa

E-Mail fmcmello@hotmail.com

Realização:

Supervisão Gráfica: .
Assistente Editorial: .
Editoração: Fernando M. C. de Mello.
Revisão: Fernando M C de Mello.
Projeto de Capa:
Ilustração: Fernando M C de Mello.
Editoração Eletrônica: Fernando M C de Mello.
Fotolitos:

Ficha Catalográfica


Basileu, João.
Airam, O Mago - Qumrum -Tektoniké.
São Luís – Editora Tektoniké, 2003.
Bibliografia
ISBN 85-85387-57-
1. Ficção


Editora Tektoniké
Rua Piauí, 109.
Chácara Brasil – Turu
Fone/Fax (0xx98) 3255-0620 - Cel (0xx98) 981652765
Pedidos para Telemarketing –(0xx98) 3248-4022
São Luis – MA BR


Colabore com a produção científica e cultural.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização expressa do editor

Dedicatória


Ao Amado Espírito Santo, Pessoa de Deus Mesmo.

Índice


Capitulo

Pág.
    .
    .
    I
    II
III

IV

V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
XIII
XIV

    S1-6
    S2-1
    8
    15
    25
    34
    51
    61
    74
    85
    97
    105
    115
    124
    128
    146

Dic. Tectônica - Tektoniké

Kirbet Qumrum

Prefácio

A estória deste livro é uma ficção, entretanto, qualquer relação com nomes, situações e experiências da vida real é uma “sincronicidade” e deve ser considerada cuidadosamente.
Foi escrito em prosseguimento ao desenvolvimento do tema do meu primeiro livro “Airam – O Mago – O Quarto Rei”, que voce pode adquirir no seguinte link:

http://www.submarino.com.br/produto/1/127482/airam:++o+mago+o+quarto+rei.

Entretanto, a vastidão da matéria envolvida no tema central, extremamente simbólico e que encontra representação na vida cotidiana, a qualquer tempo, na vida espiritual daqueles que se interessam por esta temática, havia deixado uma lacuna agora preenchida, em parte, pelo embasamento de conceitos, valores e revelações no texto bíblico. É pesquisa rápida, mas vida de vinte anos.
As situações são como comparações, como parábolas, que consideradas nas letras, que matam, têm forma de ficção, mas o Espírito que delas se desprende, pelas analogias e comparações, ou pela inspiração, é o que mais nos interessa, porque diz respeito à nossa vida, vivifica e não é ficção, mas realidade da vida espiritual, a mais sutil, íntima e subjetiva das pessoas.
Não temos a pretensão de formular um Postulado Teológico ou qualquer Hipótese Científica, mas, sob a forma da ficção, deixamos aos especialistas da Teologia, da Filosofia e mesmo da Pedagogia, da Psicologia ou da Psiquiatria, uma base firmada sobre as Escrituras Sagradas, para considerarem o “quadro sintomático“ apresentado no texto que é fundamentado na experiência real de uma vida humana transferida aos personagens. Aqui pode estar formulado um fundamento da composição de uma possível e importante vacina contra a loucura: Uma Didática para a apropriação da Segurança Ontológica!
Agradeço a minha esposa Ester, com seu Amor e sua Fé, ciosa de seus deveres com Deus e nossa família, é responsável por minha aproximação e convívio mais íntimo com a Pessoa central deste livro, o Espírito Santo.
Agradeço ao amigo Gustavo Farina, de Recife, companheiro em diversos trabalhos técnicos e que, conhecedor de meu interesse na pesquisa deste tema, presenteou-me com precioso material da pesquisa científica acadêmica sobre os Manuscritos do Mar Morto, com o que enriqueceu muito o embasamento do tema em Qumrum.
Também a todos os que contribuírem para a publicação e divulgação desta obra, que desejo, seja positiva para nutrir o amor entre as pessoas, a Fé e a confiança em Deus, semeando a paz entre Nações, Etnias, Raças, Religiões e demais diferenças, aplainando os caminhos do Senhor em nossas vidas. Espero assim alegrar o Espírito Santo, para que Ele não se afaste de nós.
Finalmente, dedico este livro a todos aqueles que morreram nos conflitos armados de todas as Nações na História da Humanidade e aos que, mais recentemente, perderam ou deram suas vidas no episódio de 11 de setembro, no World Trade Center de Nova York, nos Estados Unidos, no Afeganistão, Iraque e na Palestina, aos filhos de AbRam, aos filhos de Ismael e aos filhos de Israel, assim como na violência urbana das grandes cidades, a seus familiares remanescentes, meu voto de que as pessoas, suas experiências e dores, suas provas, seus atos e os seus resultados nesta verdadeira Tektoniké humana, sejam confiados às mãos do DEUS ALTÍSSIMO e transformados em terapêutico Perdão.
Em caso do(a) leitor(a) ter vivenciado alguma experiência igual ou semelhante às descritas neste livro e tenha o desejo de compartilha-la com outras pessoas, visando maior edificação de todos, envie e-mail para fmcmello@hotmail.com ou visite o Site do Airam.
Deus seja Louvado e Glorificado!
São Luís, Maranhão, 11 de setembro de 2003.
João Basileu
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Introdução

O que motivou este livro foi uma pergunta sobre Melquisedeque, que meu filho Fernando me enviou por email. Na pesquisa para responder corretamente, surgiu a motivação de fazer atraves de uma ficção a apresentação de uma experiencia humana vivida nos personagens. A carta de resposta se encontra no Prólogo.


A Teu Serviço, Senhor!
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AIRAM

O Mago



QUMRUM


Tektoniké

O Manual dos Reis



MCM - MM


Pedra Rubra


Pedra Branca



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I

RUM

Porque o Senhor ouve aos necessitados e não despreza os seus cativosג

Lentamente Airam recobrava-se do impacto da percepção do Rei dos reis, a quem fez a entrega da última pedra preciosa, a pedra rubra, a mais bela das que trouxera e que por muito tempo havia guardado, na busca do Salvador, para celebração e desfrute daquele momento.
De suas costas pendia o leve manto azul escuro com estrelas douradas com que o Salvador o honrara, culminando a árdua busca que o trouxera desde o longínquo Oriente. Seu olhar circunvagava ainda absorto no êxtase e notou um grupo de pessoas que permanecia aos pés de três cruzes que se lançavam ao céu enegrecido por pesada nuvem. Airam levantou-se e caminhou devagar em direção ao Gólgota, o Monte do Crânio. Eram os amigos do Salvador acompanhados de uma jovem senhora que parecia ser sua mãe, todos permaneciam diante da cruz central.
Seu contacto com o Mestre, instantes antes, foi tão vívido que sua morte parecia impossível, permanecendo a imensa esperança de retirar-Lhe com vida daquele madeiro em que o haviam crucificado.
Airam aproximou-se da cruz da direita, correu seus olhos pelo corpo pendurado, observando o flagelo a que o haviam submetido e na tentativa de recobrar-lhe alguma dignidade, endireitou as pernas quebradas, havia pouco, por violentos golpes com que os carrascos abreviavam os martírios na cruz.
Naquele gesto, retificando as pernas de um malfeitor, companheiro do martírio de Cristo, o mago via contido um simbolismo que por varias vezes traria significado às graves passagens de sua vida no futuro, quando haveria de corrigir seus próprios passos, retificando sua trajetória na vida.
Na cruz central, onde ostentado estava o corpo do Salvador, subindo o olhar dolorido desde os pés, passando pelo tecido banhado de sangue que envolvia os rins da vítima, pelo tórax perfurado por lança aguda e injusta, Airam passou a investigar o rosto magoado por socos do desrespeito, desfigurado pelo inchaço da cabeça coroada de espinhos e que mais se assemelhava a uma melancia de sangue, profundamente perfurada e rachada, que pendia do madeiro derramando suas sementes. Ali estava o cadáver d’Aquele a quem fizera entrega da mais bela pedra rubra, instantes antes.
Um senhor de meia idade colhia o sangue que ainda vertia das chagas do Salvador e a água abundante que se derramava de seu lado perfurado, em uma taça de ouro reluzente. -Ouro de Ofir, lembrou o mago, notando aquela taça que lhe era tão familiar. – Melki... Or, sussurrou. – Zedeck. - Oh! Rei da Paz... Completou. Mas, rapidamente foi recoberta por um manto pelo precavido senhor ao perceber a aproximação de um soldado romano.
-Persa, lembras de mim? Perguntou-lhe o soldado que trazia uma placa para fixar no madeiro central cumprindo as ordens de Pilatos.
-Sim, te reconheço pelas características de teu ávido semblante, respondeu o mago.
-Onde está a outra pedra? Tu somente me destes a branca, quando encontramos o Galileu amigo deste aí, indicando o Cristo crucificado com um aceno preguiçoso de queixo e prosseguiu...Mas falta a vermelha, asseverou.
-Dei-a ao Rei dos reis, este aí, a quem quisestes matar, mas vive e viverá eternamente como verdadeiro Rei, respondeu-lhe Airam condoído pela miserável atitude daquele homem alienado, que não percebia a extensão e grandeza dos fatos que presenciava. Em busca da pedra o soldado se aproximou do corpo crucificado, revistou os panos que envolviam os rins de Jesus nada encontrando. Apoiando-se no madeiro central elevou a placa e fixou-a com um único cravo, acima da cabeça do morto.
INRI”, mostrava a inscrição. Airam interessou-se pelo gesto do centurião e o questionou sobre aquela sigla que acabara de ler.
- Tu disseste que este é rei, aí está: ”INRI” – “IESVE NAZARENUM REX IODEORUM” – Jesus Nazareno Rei Judeu – e prosseguiu: - O governador mandou fixar esta placa e disse-me ainda que, se preferisse, poderia escrever “ROTA” ou “TORA”, que daria no mesmo, mas preferi assim. Parece melhor ilustrar a “causa mortis”. Não disseste que Ele era o Rei? Pois aí está teu rei, concluiu com sarcástico sorriso.
Ah! Jesurum, bem anunciou teu profeta י*, lembrava o mago:
Agora, pois, ouve, ó Jacó, servo meu, ó Israel, a quem escolhi”.
Assim diz o Senhor que te criou e te formou desde o ventre, e que te ajudará: Não temas, ó Jacó, servo meu, e tu, Jesurum, a quem escolhi.
Porque derramarei água sobre o sedento, e correntes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre a tua descendência;
E brotarão como a erva, como salgueiros junto às correntes de águas.
Este dirá: Eu sou do Senhor; e aquele se chamará do nome de Jacó; e aquele outro escreverá na própria mão: Eu sou do Senhor; e por sobrenome tomará o nome de Israel.
Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus.
Quem há como eu? Que o proclame e o exponha perante mim! Quem tem anunciado desde os tempos antigos as coisas vindouras? Que nos anuncie as que ainda hão de vir.
Não vos assombreis, nem temais; porventura não vo-lo declarei há muito tempo, e não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas! Acaso há outro Deus além de mim? Não, não há Rocha; não conheço nenhuma.

- “Io-deo-rum!” – “Je-su-rum!” Airam soletrou pausadamente, sob o eco das ultimas palavras do soldado, assentiu com a cabeça e baixou os olhos. Atento aos movimentos de sua alma abalada. Sentia, entretanto, surgir um movimento novo, uma promessa, um porvir, como se uma parede fosse rompida desvendando novos horizontes, como um véu que separasse um recinto de ouro e que sendo rasgado desvendasse toda a riqueza e toda a glória ante a invasão de nova e mais potente luz...
A profecia e a estrela Nova que o guiaram por todos aqueles anos, materializavam-se, agora, naquele encontro e renovava as esperanças para o novo mundo. Suas dores, lutas e ansiedades passadas assumiam novos significados, como os de um parto, algo novo estava nascendo junto com aquele que acabara de dar sua vida na cruz por seus amigos. E toda a Natureza contorcia-se em dores, o sol permanecia oculto e o céu escuro negava sua luz.
O soldado retirou-se, depois de recolher algumas ferramentas no chão e desceu o Monte do Crânio. A chuva havia diminuído, mas pequenos fios d’água ainda escorregavam pelas fendas deixadas pelo tremor da terra naquele monte e misturados com o sangue de Jesus se aprofundavam no subsolo fertilizando todo o Orbe. O mago sentou-se em busca de mais calma, para acompanhar o intenso movimento das forças interiores em suas reflexões, como um abalo sísmico movimenta as estruturas da Terra. Tomando uma lasca do madeiro e refletindo concentradamente no que fazia, escreveu na terra molhada:
IESVE NAZARENUM REX IODEORUM.
Mirando atentamente cada palavra da frase escrita, buscava na memória a associação das idéias remanescentes de suas experiências. Lembranças de suas viagens, imagens do Egito, recordações das conversas à beira das fogueiras e com israelitas piedosos que lhe transmitiram conhecimentos importantes de Moisés e dos Patriarcas, a Lei Mosaica, a TORA, os profetas e tantas outras tradições que fazem da cultura dos filhos de Abraão um manancial de sagradas maravilhas sobre o convívio de Deus com suas criaturas para quem trazia, naquela cruz, uma nova ROTA, um novo Caminho.
Rum, Rama, Ab Ram, “Rubem jamais morrerá!”, mesclavam-se as diversas línguas que conhecera, como tantas vezes em sua vida acontecia, como se reconstruísse dos cacos a Torre de Babel, removendo a confusão das Línguas e restabelecendo uma linguagem universal, o que lhe proporcionava ampliações importantes na compreensão daqueles enigmas e no discernimento daquelas revelações. Tantas semelhanças no nome de grandes personagens da História... Em todo este exercício uma palavra insistia em suas intuições...- QUMRUM!
Aos poucos a água apagava as palavras escritas na terra: - Iod, lembrou ao mago: O Reino, sim Malkut, pronunciou em hebraico. – Deo, em língua dos romanos: Deus. E...Jesu, Rum!

O Reino
- O Reino de Deus! Exclamou com uma alegria nascente – o reino cuja porta estava ali, em Jesus, na cruz, para os homens sérios, que ousam aprender, que ousam querer, que ousam buscar, que ousam o sacrifício...- Oh! Jesurum, a quem escolhi! Concluiu e voz baixa lembrando as profecias de Isaías.
A noite que irrompeu naquela tarde ainda não havia cedido. A atmosfera úmida e a luminosidade esmaecida lembravam as madrugadas de inverno. Era uma Tarde e Manhã de um primeiro dia como descrito no livro da Gênesis. Olhando mais uma vez para o corpo do Salvador, do Filho de Deus, morto, transfigurado, pálido e sem expressão, daquele que foi em vida tão vibrante, intenso e amigo de todos, desde os pobres, os doentes, os loucos e os leprosos até às altas autoridades. Com todos o mesmo respeito, lamentava o mago. Sem compreender ainda, completamente, o significado daquela morte por todos, se aproximou tocando os pés frios cravados no madeiro, revestidos da terra misturada ao sangue e assim despediu-se, sentindo-se também vazio e ainda sem qualquer perspectiva para o futuro, porém, atento a novos caminhos que surgissem.
Com a profecia de sua juventude cumprida, iniciou a descida do monte, lentamente, deixando atrás de si numa cruz, o fim, certamente, de todo homem de bem neste mundo de orgulho, vaidades e disputas. Mas, ali também se insinuava na intuição do mago um novo início, como no primeiro dia da criação feito de Tarde e Manhã.
Um novo exemplo, um novo modelo, um novo herói, um novo mundo no porvir, onde o amor vencerá ao ódio, inexoravelmente, e a violência do homem natural diminuirá. Ali estava um primeiro desafio, na cruz que se lançava ao céu, o primeiro desafio à Justiça divina.
- Sim! Sussurrou o mago, isto é um desafio que clama por Justiça, a Razão clama por Justiça, a Autoridade clama por Justiça, não há Monoteísmo injusto, não é possível... a última palavra, a última sentença será divina e não humana, não pode haver Monoteísmo injusto. Sim, Monoteísmo injusto seria a única circunstância no Universo a que se aplica a palavra “impossível”, concluiu Airam a sua reflexão.
É Páscoa e Deus é morto. Airam enxugou a lágrima e não entrou mais naquela cidade. A alegria desceu à mansão dos mortos.


Gólgota – Monte do Crânio

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II
-AIRAM, SAI!
Airam caminhou pelos jardins fora da cidade. Caravanas chegavam para os festejos da Páscoa. Aquela festa dos hebreus comemorava a libertação do povo que experimentou a escravidão no Egito alguns séculos antes. Naquela noite, no cativeiro, foi realizado um rito prescrito por Deus, com o sacrifício de cordeiros sem mácula; as casas tiveram seus portais marcados com o sangue dos animais, como sinal de uma aliança de Deus com o seu povo, como uma garantia, uma fiança, mediante o qual os filhos primogênitos das famílias afiançadas foram poupados.
A Autoridade de Deus visando restituir a liberdade a seu povo agiu com Poder, de forma sobrenatural, com prodígios que patentearam sua soberania sobre o poder temporal humano e afirmou, definitiva e soberanamente, o Monoteísmo na História da Humanidade, restituiu-lhes a Liberdade com Justiça enquanto estabelecia a resposta final a um povo que transgredia tanto a leis naturais quanto a divinas e explorava um outro povo simples, humilde, de muitos homens piedosos que recorriam a Deus e a Ele entregavam suas causas legítimas, sendo a maior: A Liberdade.
Ali também estava acontecendo uma Páscoa. Ali também havia sido imolado e crucificado um homem manso, um cordeiro simbólico, sem mácula, mas o sangue era humano, de um primogênito hebreu e isto era o que mais indignava a consciência do mago. Aquele homem era bom, terapeuta exímio em sua arte e cuja vida foi exemplo de solidariedade, fraternidade, amor e misericórdia à Humanidade decaída.
Já comentavam durante o cortejo da crucificação que durante o suplício do Salvador ele repetia em oração: ”– Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem...” – enquanto a autoridade terrena enfurecida, com motivos egocêntricos, cortava-lhe a carne e impunha ao orante, seu intercessor, as piores dores que se poderiam produzir numa tortura. A ira do Homem não faz a Justiça de Deus!
A cada revelação respondiam com mais crueldade. Mediante a revelação de sua dignidade de rei responderam-lhe com uma coroa de espinhos e um manto de sangue; diante da Revelação de sua imortalidade, retaliaram sua carne com chicote; diante da manifestação de seu poder de obedecer desafiaram-lhe a salvar-se a si mesmo, porque um dia havia dito que daria sua vida e que a tomaria de volta; enfim, a cada uma das maravilhosas Revelações de que tomavam ciência, respondiam-lhe com mais crueldade e tentativas de humilhação até que, por fim, à necessidade humana de seu organismo que tinha sede, deram-lhe vinagre a beber. Então, bradou: - Pai, em tuas mãos entrego o Espírito! E expirou.
-Graças a Deus ele entregou o Espírito e pôde ter fim aquele suplício, pensou Airam. Caso assim não fosse, até agora ele estaria lá, sangrando e sofrendo vivo, com o Imortal e Eterno em Si Mesmo, mas também com todas as dores, e lá permaneceria, imortal e eterno, esvaindo-se em água e sangue com todas as dores até a consumação dos séculos. Não fosse o Espírito, aquele organismo humano já teria morrido muitas horas antes, devido à brutalidade da tortura que o infringiram.
Era mais uma tentativa de afirmação do ódio sobre o amor, inaceitável para os homens saudáveis. Os pensamentos nasciam da memória do mago e buscavam o entendimento que amainasse a revolta com a brutalidade dos fatos, cujos resultados presenciou no Monte do Crânio e que viesse a acender a chama da esperança para o futuro, uma perspectiva de vida, vencendo a morte em que se sentia também imerso.
O passeio pausado e lento pelos jardins acalmava sua alma, enquanto seu corpo trazia as marcas do cansaço, as grandes e fortes emoções haviam esticado as cordas de seus nervos ao limite que poderia suportar, seu tom já era altíssimo, o louvor de seu coração, normalmente entoado por um baixo-barítono agora atingia aos cumes do agudo de um tenor. Somente a lembrança da jovem senhora confiante e forte, ao pé da cruz, havia confortado seu coração e Airam quis dormir.
Na tarde ainda escura e profunda, umedecida pela tempestade que molhou o solo quente, a atmosfera era densa, difícil de respirar, sentida como muito concreta e que devia ser cortada a faca para se atravessar. Próximo de onde estava, uma pequena caverna na pedra deixava à mostra a entrada em sombras que convidava o homem abatido ao repouso no seio da terra, devorado pelo escuro materno para o descanso.
Talvez ali, acolhido naquela primitiva caverna de pedra escura que ainda guardava o calor do sol da manhã, talvez ali o mago encontrasse o conforto e o calor do útero que lhe trouxesse de volta o carinho maternal e completasse no seu coração o consolo que aquela senhora iniciara, havia pouco, aos pés da cruz. Queria um descanso da Tecktoniké humana que experimentava.
Airam entrou, tateou as paredes mornas da rocha mater, encontrando de um lado uma laje plana e aconchegante onde ele repousaria de todo o sentimento de morte. Seu coração buscava na lembrança uma manjedoura simples onde, um dia, plena de vigor, aquela vida iniciara e aqui revelava o fim. O mago sentia-se também morto, numa morte simbólica, solidária, que completava em seu próprio corpo o suplício do crucificado, tema central de toda a sua busca.
Estirando-se na pedra aquecida o mago se entregou ao sono inocente naquela tarde-manhã. Sono reparador que anulava todos os instrumentos do suplício: com uma torquês, retirava os cravos das mãos e dos pés e curava-lhe todas as feridas, libertando-o da coroa de espinhos em que se tornaram aqueles pensamentos de dor e medo ante o absurdo. Airam deitou-se de lado, passando o braço direito sob a cabeça como se abraçasse a própria cruz de onde o sono reparador o libertaria. Não faria mais nada.
Foram momentos de sonhos intensos e coloridos em que imagens de sua infância, o amor materno de que foi cercado no distante oásis persa onde nasceu; o perfume das flores resistentes que enfeitavam as alamedas do jardim da tenda paterna, que agora frutificavam em seus sonhos; os cavalos em que ensaiou seus primeiros exercícios de exímio cavaleiro...Airam descansou.
Uma brisa perfumada de mirra invadiu suas narinas. – Gaspar? Pronunciou o mago acordando sobressaltado, enquanto mãos meigas e afáveis tocaram sua fronte como um bálsamo reparador.
- Filho acorda, desperta para a vida, é tarde-manhã pascal!
Airam abriu os olhos, pouca luz entrava pela boca da caverna, mas revelava uma manhã branca e deixava entrever uma neblina que percorria os arbustos úmidos e alamedas do jardim.
-Senhora, quem és? Perguntou o mago enquanto sentava-se de um salto, confuso ainda, sem distinguir se sonhava ou experimentava uma real visita.
Rapidamente identificou a jovem senhora que estava aos pés da cruz no Monte do Crânio. Sua tez era clara, alva como a névoa branca e os lírios que sonhava, estava pálida e cansada, mas falava pausadamente com segurança e ânimo contagiantes.
-Meu filho, aqui não é teu lugar, dá-nos licença para sepultarmos meu Amado. Ele vem para repousar da morte, que morreu pelos seus amigos e tu és um deles, sai, sai agora, sai vivo para esta tarde manhã branca, fresca e serena, sai confiante de que esta morte do meu Amado é para que tu e todos os outros vivais abundantemente! Deixa uma israelita sepultar seu primogênito na Páscoa!
Uma lágrima rolou pelo rosto sofrido, mas pleno de esperanças!
A contradição daquela ultima frase ecoou no coração do mago, uma explosão de revolta insinuava-se em seu interior, toda a Torah e a obra dada por Moisés estavam ameaçada, mas diante daquela que mais sofria e ainda glorificava a Deus, preferiu também dar graças e convencer-se: a ultima sentença será do Senhor.
As mãos leves ainda tocaram sua cabeça mais uma vez, como se estivesse concedendo uma benção maternal e, sem hesitação, seguraram a mão de Airam, firme e decididamente, com uma força que a fragilidade da silhueta delgada e delicada não permitiam supor, senão somente como ele agora experimentava. O mago ergueu-se.
-Como te chamas? Perguntou a senhora.
-Airam, respondeu o mago e curioso por conhece-la mais, logo argüiu: - E a senhora, como é seu nome?
-Maria, informou com a discrição das mulheres orientais, logo dirigindo outro dialogo.
-Airam, se meu filho estivesse vivo ali, já estaria gritando para ti, como fez com Lázaro; “-Airam vem para fora! Os Homens não foram criados para sepulturas.
-Sim, conheci Lázaro e suas irmãs, ouvi o testemunho da família, foi algo maravilhoso, comentou o mago.
Suavemente a jovem senhora foi levando o novo amigo para fora do túmulo onde repousara. Passo a passo, firme, como se pisasse a cabeça de uma perigosa serpente.
-Quando nosso pai Abraão estava idoso e entristecido, quase desanimando de esperar a promessa que o Senhor havia feito sobre sua descendência, recolheu-se fechado em sua tenda e o Senhor o chamou: -Abraão, vem para fora! Ele saiu e tudo foi renovado. O Senhor lhe mostrou as estrelas do céu e reafirmou que assim seria a sua descendência - completou a jovem senhora – sempre temos que sair, sempre deixar o repouso quando o peso da existência na terra quer nos sepultar.
Aqueles gestos e palavras operaram uma profunda transformação na mente do experiente mago. Havia ali uma linguagem indizível que fazia emergir uma força do âmago do seu ser; havia poder, sim, Poder naqueles gestos simples, naquelas palavras amáveis, naquelas revelações que se faziam pelos símbolos eficazes e potentes, que falavam diretamente à alma e ao espírito, sem que o mago compreendesse ou representasse na consciência a realidade que acontecia. Sentia somente o Entusiasmo contagiante.
Mescla de sonho e realidade, Airam percebia a presença da energia e da autoridade de sua própria mãe com quem sonhava, mas aquela senhora era mais jovem que ele próprio, não, não era sua mãe de fato, mas emanava toda a força da maternidade universal.
Somente depois de algum tempo, já fora, Airam realizou que entrara em um sepulcro e que ali estava sendo depositado o corpo do Rei dos reis, o Salvador, por sua mãe e seus amigos. Agora aquela doce mulher, mãe sofrida, mas extremamente forte, cumpria sua missão materna e a completava até o fim: Sepultava o corpo do Filho do Homem que um dia dera à luz. Entretanto, uma esperança persistia, ele era também o Filho de Deus. Ela sabia, ainda que guardasse tudo em seu coração.
Agora, ante a morte do filho amado, aquela delicada senhora aspergia seu amor e seu carinho sobre todos os que sofreram com aquela barbárie praticada pelo poder do mundo. Estava disponível, acolhendo e confortando, insuflando confiança e fé na vida e na vitória final do amor que seu filho tão bem demonstrara em vida.
Um grupo de amigos, carinhosamente assistidos por aquela mulher, carregou o corpo de Jesus envolto em lençóis perfumados e o depositaram no sepulcro. Ao saírem rolaram a pedra com a ajuda de Airam, com o que cerraram a câmara da rocha, para depois se dispersarem, temerosos pela perseguição que os sacerdotes do templo persistiam em fazer aos amigos do morto. Airam não se intrometia, era como um desentendimento passageiro entre irmãos, todos eram hebreus.
Logo seria o primeiro dia, véspera da Páscoa, dia feito de Tarde e Manhã. Os cordeiros já estavam mortos! A festa tradicional prosseguiria, mas o coração do mago ansiava por recolhimento, por retiro, onde pudesse ordenar seus pensamentos.
Havia uma sincronicidade especial em todo aquele caos aparente. Ele não estava inclinado a festejar e retirou-se para os campos nos arredores, colhendo aqui e ali alguma noticia sobre os últimos eventos, sobre a perseguição aos amigos do crucificado. O zelo de seu coração o impulsionava para novas buscas no encontro daquelas pessoas singulares.
Aqueles amigos e principalmente aquela senhora, imprimiram fortes sentimentos, como forte promessa esperada de que uma grande liberdade nasceria em resposta a uma escravidão até então disfarçada. Era uma Nova Páscoa. O mago sentia-se totalmente livre, sua busca principal havia se concluído, as promessas de sua juventude foram cumpridas, não à sua maneira, mas da forma que nenhum homem suspeitaria.
A lembrança daquela mãe confiante que o despertara e retirara do sepulcro, atuava como uma nova estrela que lhe guiaria por novos caminhos, para sua compreensão e a plena maturidade na vivência do amor que aprendera em sua busca. Quem ama dá a vida por seus amados.

Cruz

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III
IODEORUM

-Iodeorum! Airam pronunciava baixo, somente para si, aqueles fonemas poderosos que o transportavam aos pés da cruz e o transformavam com preenchimento de novas forças para sua lide no deserto em que caminhava.
Deixando Jerusalém, dirigia-se para o sul. Visitaria, em Belém, o estábulo em que, outrora, um pastorzinho lhe mostrou a manjedoura que acolheu o Salvador recém-nascido a quem encontrara havia pouco.
A maneira como aquele grupo de pessoas amigas de Jesus se relacionavam cativou-lhe o espírito. Eram mansos, harmoniosos nos gestos e em suas atitudes sempre demonstravam uma atenção, um zelo especial pela pessoa do outro. Podia-se dizer que suas vidas estavam centradas no outro antes que em si mesmas. Era uma herança preciosa de Cristo, com quem conviveram cotidianamente nos últimos anos.
Em meio a seus afazeres e com poucas palavras consolavam-se mutuamente. Possuíam um olhar límpido e receptivo, apresentando-se hospitaleiro aos estranhos que se aproximassem. Entretanto, não se justificava um leve traço de medo, que alterava sua expressão e empanava seu brilho, ante aos poderosos do Templo que os perseguiam, enquanto o exemplo de Jesus havia sido tão forte, tão destemido. Airam ainda não conhecia todas as promessas que alimentavam as esperanças daquelas pessoas.
Ante a incompreensão daqueles eventos brutais, não revelavam qualquer gesto de revolta ou que traíssem a simplicidade e a humildade em suas convicções, que sempre confessavam uma entrega irrestrita e uma confiança absoluta na vontade de Deus. Diante de obstáculos, entoavam hinos, diante de algum revés, davam Glória a Deus. Professavam que tudo era para honra e Glória do Senhor.
Para Airam aquelas pessoas amáveis e belas lembravam os lírios dos campos. O convívio naquela tarde manhã do primeiro dia em que os havia encontrado foi o suficiente para estabelecer novos valores e indicadores para reinterpretar suas experiências. Todos traziam uma paz profunda em seus semblantes, como uma marca comum dos Terapeutas. Certamente foi o convívio com Jesus que trouxe àquelas pessoas uma maior compreensão das dores e fraquezas humanas. Os olhos daqueles homens transcendiam a pequenez imediata que percebemos em nossa natureza humana.
Para eles a pobreza não era miséria, dividiam o pão com solenidade, demonstrando imenso respeito e gratidão à Providência Divina que lhes provera daquele alimento. Fosse muito ou pouco, a pobreza era uma oportunidade de ver nascer nos corações uma imensa riqueza na solidariedade.
Apenas em alguns momentos, quando o tropel de cavalos da guarda do templo ressoava pelas muralhas da cidade, um frêmito de pavor transitava pelo semblante de todos, mas aquela jovem senhora permanecia impassível e confiante, irradiando uma atmosfera de paz sobre todos que com ela perseveravam em orações.
As lembranças brotavam no coração do mago que já havia percorrido a jornada de cinqüenta estádios que separavam Belém de Jerusalém e se aproximou da casa da estrebaria em que se deu o Nascimento do Filho do Homem nos dias do recenseamento. À sombra de um telhado tosco alguns animais descansavam do calor daquela hora. Era pouco mais que a hora sexta, Deus estava morto e o sol era abrasador, parecendo secar-lhe os ossos naquele início de tarde do sábado.
Na estrebaria um boi e um burro ruminavam sonolentos com olhos entreabertos. Algumas ovelhas pastavam a forragem macia e agitaram-se com a aproximação do estranho, logo um pastor despertou e veio tranqüiliza-las enquanto sorria para o visitante. Depois de observa-lo atentamente iniciou um diálogo:
-Persa, lembras de mim? Indagou o pastor.
Airam sentou-se também à sombra disposto a conversar com aquele homem simples e manso. Era de meia idade e desde criança pastoreava os animais naqueles campos. Balançou afirmativamente a cabeça, confirmando ao pastor com as imagens que se derramavam da memória daqueles traços inocentes.
Antes de viajar para o Egito o mago esteve ali, para onde a estrela o havia guiado na busca do Salvador recém-nascido. Havia sido aquele pastor, quando menino, que lhe contou sobre os grandes prodígios que se deram por ocasião do nascimento da criança divina.
Havia decorrido muitos anos do encontro entre eles, mas o mesmo brilho dos olhos e a mesma inocência do menino ressurgiram, agora, quando lhe perguntou: -Lembras do Nascimento? Prosseguiu, criei barba que depois embranqueceu. Por muitos anos cuidei daquele boizinho da criança divina e até hoje todas as vezes que como o meu pão, que jamais me faltou nas refeições, fico pensando que bem pode ter sido mais um prodígio daquele dia, nunca me faltar pão e vinho! Exclamou. – E então fico esperando a volta daquela criança divina que deve ter se tornado um grande homem, talvez esteja em Roma...
Airam descansava ainda da caminhada que durara toda a manhã, respirando profundamente enquanto ouvias as palavras daquele bom homem, fluindo como um rio de águas límpidas e calmas.
-É natural, prosseguiu o pastor, que este que aí está não é mais o boizinho daquela criança, o que aqueceu seu corpinho naquele profundo inverno do censo, mas, quando aquele boizinho morreu, idoso, um zelote que vive no deserto de Judá trouxe um outro boi e um burrico, confiando-os a meus cuidados.
O pastor passava dias e dias na solidão do campo, por vezes travava um monólogo com o rebanho e carinhosamente protegia aquelas ovelhas, corrigia os passos de uma ou de outra para que não se perdessem ou desviassem para o deserto.
-Mesmo com todos os meus cuidados, completou o pastor, ávido por um interlocutor, tu sabes que o burrico do zelote, que tinha um temperamento teimoso, fugiu dos meus cuidados e enveredou pelo deserto tentando retornar à casa de seu dono em Qumrum. Procurei-o mas foi em vão que entrei naquele deserto. O burrico estava perdido para sempre, lamentou o pastor. Mas o Embaixador de Qumrum trouxe-nos outro.
O mago era atento à sincronicidade do que percebia na vida, a conexão íntima entre a História, os fatos do cotidiano, os sonhos e as palavras. Adiantou-se para o pastor e perguntou-lhe: Posso dar um nome àquele burrico?
-Sim, confirmou o pastor, ainda que achasse um despropósito.
-Judas, concluiu o mago.
-Por quê? O pastor mostrou-se intrigado.
-Um dia compreenderás, finalizou Airam.
Airam lembrava-se constantemente daquela cidade do deserto de Judá mencionada pelo pastor. Por ela havia passado quando retornou do Egito. Ficava próxima do Mar que não tem peixe. Era uma comunidade discreta, extremamente unida e o mago não entendeu muito bem seus hábitos, pernoitando ali numa tenda fora da cidade, apenas uma vez.
Lembrava-se de que, ao sair daquela pequena cidade, cuja vida desenvolvia-se em torno de uma espécie de Biblioteca e eremitério primitivo, de escribas copistas, bem diferente do Egito, achou estranho seus hábitos de vida: pobreza, erudição e uma sabedoria inexplicável, pois, tudo era mistério, certos nomes não se pronunciavam, desapropriavam de quem chegasse tudo o que possuísse, se este desejasse permanecer mais tempo na cidade.
A impressão que causou a Airam foi a mais estranha que trazia sobre os povos que conheceu em suas andanças. Mas, agora, com a maturidade dos anos, o mago sentia a necessidade de visitá-los.
O nome Qumran ou Qumrum aguçava sua curiosidade, agora ainda mais, pela terminação daquele nome, que de alguma forma insinuava uma relação com o Rex Iodeorum da placa romana sobre a cruz.
O pastor ficara atento, em silêncio, durante aqueles instantes em que a mente de Airam vagara pelo deserto. Em uma atitude de respeito aos pensamentos que nitidamente, deixavam-se perceber, transitavam pela mente do visitante. Habituado como era ao convívio pacífico e paciente dos ruminantes, cedo na vida concluiu que os homens eram também ruminantes mentais, que permaneciam com as palhas dos pensamentos, horas a fio, a ruminar em seus cérebros ora de um lado, ora do outro, mastigando palavras, imagens e lembranças, que engoliam e depois retornavam para ruminar, num tagarelar incessante.
Os olhos do mago emergiram das lembranças e fitaram o pastor impassível, que atentamente sorria.
-Vieste de Jerusalém? Perguntou
-Sim, afirmou Airam.
-Nesta última noite passou por aqui um viajante de nome Tomé, que se dizia seguidor de Jesus de Nazaré e que aquele santo homem foi preso e supliciado, sabes alguma coisa?
-Sim, confirmou Airam, foi assim mesmo, o prenderam e depois de um julgamento espúrio, forjado para aparentar justiça, assassinaram-no e, à noitinha, antes de sair de Jerusalém para vir a Belém, ainda ajudei a sepultá-lo, completou.
-Sabes, replicou o pastor, não fosse ele de Nazaré eu teria quase que a certeza, de que Jesus era aquela criança divina que nasceu aqui e, agora, meu coração confirma quando dizes que o assassinaram em Jerusalém. Ah! Jerusalém, sempre matas teus profetas...Tu sabes se é ele mesmo a criança divina que cresceu e fez tantas maravilhas?
-Sim, confirmou mais uma vez o mago.
-Mas, como tens certeza, se dizem que é de Nazaré? Insistiu o pastor já não contendo uma grande curiosidade.
-Quando passei por aqui, naquela época, estava à sua busca e sempre o busquei...
-E conseguiu encontra-lo? Interrompeu o pastor - Conseguiste dar os presentes que trazias? Prosseguiu animado com o possível êxito, para o que havia contribuído com suas indicações naquela ocasião.
-Sim, confirmou Airam, deixando correr uma lágrima, sim, consegui entregar meu presente, uma só pedra rubra que havia restado. Mas, foi bom, a pedra branca que daria em teu lugar serviu para subornar um centurião e livrar um assustado galileu na noite em que prenderam Jesus. O mago desviou o assunto para evitar a emoção.
E prosseguiu: - No momento da prisão pela guarda do templo, o galileu exaltado reagiu e decepou a orelha de um deles, de nome Malco. Ainda que Jesus o houvesse curado, restaurando a orelha decepada, eles não nutriam boa vontade com aquele galileu e foi a tua pedra, dada no suborno de um soldado, que o livrou quando o acharam assustado, escondido no monte do Getsemane.
O calor era forte no meio da tarde e o dialogo foi interrompido por um incêndio espontâneo na palha seca da manjedoura. As ovelhas saltaram assustadas, enquanto o boi e um burrico rapidamente puseram-se de pé em prontidão para deixarem o estábulo. O pastor rapidamente levantou-se e afastando a palha vizinha à manjedoura, com seu cajado garantia que o fogo não se alastrasse.
O mago agitou-se, sentia que havia uma presença forte do sobrenatural naquele evento e que aquele fogo na palha ameaçava alastrar-se com rapidez.Temia que um incêndio de maiores proporções viesse a queimar aquele estábulo tão querido, que trazia recordações significativas, um verdadeiro marco da sua história e da humanidade.
A palha da manjedoura queimou rapidamente, não era muita quantidade que fumegava ainda e num piscar de olhos reduzira-se em cinzas que o calor e o ar aquecido elevavam e dispersavam.
O mago levantou-se e ajudando ao pastor evitou que o fogo alastrasse. Ao final, soprando as ultimas cinzas, Airam imobilizou-se impressionado com o que via: ao fundo da manjedoura uma pedra branca e outra negra, às quais, estendendo rapidamente as mãos, pegou diretamente, largando-as incontinente no chão, pois, queimavam como brasas.
O pastor sorria, assistindo à divertida cena da forte impressão a que o mago se entregava distraidamente, parecia um sonhador que a tudo mistificava...
Airam estranhou a risada do pastor e perguntou-lhe se sabia daquelas pedras. – Sim, respondeu ainda entre sorrisos, estão quentes devido às chamas que as envolveram por algum tempo. São minhas pedrinhas, Urim e Tumim, sempre as guardo num lugar certo para não perde-las e no fundo da manjedoura estarei garantido. Elas me dão respostas seguras sobre meus sonhos e onde eles estão estará sempre a manjedoura!
O mago elevando um pouco os ombros suspirou, sentindo o alívio de toda aquela tensão que a agitação do incêndio lhe causara.
-Como se joga isso? Perguntou o mago.
O pastor sem responder ainda, recolheu as pedras do chão, tirou uma pequena vasilha do embornal que trazia amarrado na cintura e com um pouco de óleo ungiu a queimadura da mão do imprudente persa.
-Logo ficarás bom, é uma queimadura superficial, assegurou o pastor, enquanto analisava o rubror da pele queimada. Difíceis são as queimaduras profundas, quanto mais profundas mais difíceis!
Airam espalhou o óleo esfregando as mãos e voltou seu interesse para o jogo, tradição dos hebreus.
-Não é um jogo, explicou o pastor, mas acreditamos que é o Senhor quem dá o Urim e Tumim a quem Ele ama. Em sua misericórdia o Senhor confirma, sim é sim e não é não. Em oração, convencionas a pedra branca é “sim” e a negra tem significado oposto, é “não” ou, se preferires, o inverso. Deves convencionar de acordo com a natureza da questão para a qual esperas resposta.
-Guarda as pedras na sacola, prosseguiu, presenteando-as ao mago. È meu presente para ti.
Airam as recebeu com hesitação. A sacola que trazia estava vazia.
-Toma. Insistiu o pastor, isto é o meu presente para as encruzilhadas das tuas viagens. Por exemplo: observei que teus pensamentos vagaram pelo deserto de Judá quando lembraste de Qumrum.
Um sentimento novo dominava lentamente o coração do viajante, algo novo surgia como um incômodo descontentamento que o movia para o futuro, quem sabe um novo deserto, questionava-se.
-Se queres saber se é boa decisão voltar àquela cidade, mete a mão na sacola e retira uma das pedras. Se pegares a pedra negra é que a resposta é sim ou, se pegares a branca é não. Os hebreus as utilizam em tudo e praticam esse ato de disponibilidade, dedicando seu futuro à decisão do Senhor e confiantemente se lançam em atender a decisão. Foi imensa a tristeza do rei e do povo quando o Senhor disse pelo profeta:- ”não te darei mais meu Urim e meu Tumim...”.
-Não é preciso, respondeu Airam, já vinha com esta decisão, há sinais fortes em minha vida que me diziam para onde devo ir, guardo com carinho o teu presente, mas já estava decidido a buscar repouso no deserto de Judá com o povo de Qumrum, passei por aqui para rever esta manjedoura onde meu coração sempre descansava e recobrava suas esperanças nas tribulações da busca que empreendi.
O mago, agradecido pelo presente, guardou as pedras na sacola sem, no entanto, fecha-la. O pastor deu-lhe ainda um generoso pedaço de pão que partiu com mãos ágeis, ofereceu-lhe um cantil com vinho, guarnecendo-o para a viagem e despedindo-se lhe demonstrou um grande afeto, dizendo-lhe:
-Volte sempre, meu amigo, estarei guardando esta manjedoura para o repouso dos corações que, como o teu, sabem que aqui nasceu o Salvador, o Rei dos Reis, o Rei dos Judeus...E concluiu: O Filho de Deus mesmo!
Airam levantou-se para abraçar o hospitaleiro pastor. Com o movimento entusiasmado a pedra negra caiu da sacola e rolou no chão entre os dois amigos, sob seus olhos que a perceberam com perplexidade. Sorrindo o pastor abaixou-se pegando a pedra e devolvendo-a com um comentário: - Farás uma bela viagem! Vou preparar o jumentinho para tua montaria.
-Não é necessário, interrompeu o mago.
Sem aceitar a negativa o pastor informou que o povo de Qumrum sempre mantinha ali uma montaria para quem se dirigisse àquela cidade. –Quando chegares lá com ele, algum pastor zelote o trará de volta para que aqui fique disponível. É tradição antiga, verdadeiro gesto diplomático daquela comunidade.
O mago concordou, agradecido, pois, um novo trecho da viagem de cinco ou seis esquenos no deserto é cansativo e o burrico ajudaria em muito àquela travessia e em poucas horas já estaria em seu destino.
-Adeus! Despediu-se o mago, abraçando o velho amigo pastor.
-Perto de Hircania, a dois terços da viagem, encontrarás a nascente do Quidron, abasteças de mais água antes de chegar...Com um aceno de mãos o pastor forneceu as ultimas indicações.

Presépio
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IV
O Terceiro Dia

Depois de um sono reparador sob as palmeiras do deserto, no meio da madrugada, Airam retomou a direção de Qumrum, próxima às margens do mar que não tem peixes.
Chegava o terceiro dia, era Páscoa dos Hebreus. A manhã se aproximou calma no deserto de Judá. O negro da noite cedeu lentamente e o céu refletia a luz com rara beleza, o vermelho escuro evoluía para o laranja e o rosa, em tons sempre mais claros até ao branco da névoa que descia preenchendo os vales e depressões, deixando o céu azul, límpido, sem mácula.
Airam se aproximava pelas escarpas do oeste da cidade, de onde divisava um verdadeiro mar de palmeiras que avançava ao longe até às margens do mar. O ar já estava seco quando o mago desceu a escarpa avistando as primeiras tendas que cercavam Qumrum. Depois do limite ao leste da cidade estendia-se um grande campo que servia de cemitério.
Algumas cabras raspavam com dentes fortes os brotos no galho de um arvoredo, em que subiam com facilidade, colhendo a umidade deixada pelo orvalho da madrugada. O mago contornou a cidade para o sul dirigindo-se aos estábulos situados no extremo a sudeste.
Um idoso ancião saiu pela porta principal do Templo de Qumrum e lentamente percorreu a trilha para fora dos limites do centro, ganhou a região das tendas onde a comunidade ainda dormia. Empunhando um longo cajado que terminava em espiral trabalhada, seguiu em passos lentos e firmes na direção do caminho do estábulo, indo ao encontro de Airam.
Abrindo os braços em gesto de hospitalidade alegre e contagiante, convocou o mago para que o abraçasse. Airam aproximou-se sentindo em seu coração um profundo conforto familiar, de gratidão e respeito. Abraçou o ancião que trazia nos lábios um sorriso discreto, mas radiante, que completava a atmosfera de emoção intensa que o brilho dos velhos olhos inundava de luz.
Elcana era seu nome, uma espécie de embaixador, Chanceler da comunidade de Qumrum. Dominava vários idiomas e dialetos, inclusive a língua natal de Airam, na qual o cumprimentou.
Ante a idade daquele homem Airam sentia-se menino, aquele senhor já possuía mais de cem anos, ainda que não transparecesse em sua postura ereta, na agilidade com que se movimentava e o entusiasmo com que falava e gesticulava. Os dentes claros e fortes confundiam mais ainda a observação do mago e jamais denunciariam a real idade.
Notara de imediato a grande cultura de seu anfitrião e a nobreza de sua estirpe. Airam concluira estar diante de um rei ou o Principal daquele lugar.
-Não, interferiu o ancião nos pensamentos de Airam – Não, aqui não há principais entre o povo. Todos aqui são os principais, completou o ancião no idioma do persa.
Para aqueles homens o Supremo era o Todo e o âmago do coração de cada individuo. Desde o primeiro momento os visitantes da comunidade passavam a receber algumas indicações sobre seus conceitos, crenças e valores que constituíam os paradigmas de sua organização social.
Não era comum a recepção de visitantes diretamente pelo embaixador, mas para Qumrum aquela visita era muito esperada e querida. Airam era o primeiro a chegar, vindo do Calvário!
Um pastor zelote tomou as rédeas do jumento levando o animal para o descanso na estrebaria.
Elcana vestiu um novo par de sandálias nos pés do recém chegado e pôs um anel no seu dedo, gestos tradicionais em Qumrum que obedecia a tradições do Templo. Completou com um manto sobre os ombros do persa enquanto convidou-o para seguir até seus aposentos.
Na sacola que trazia na cintura, Airam possuía apenas as pedras do Urim e Tumim presenteadas pelo pastor. Gostaria de retribuir a imensa hospitalidade, mas apenas podia agradecer e sorrir pela gratuidade da Providência que o assistia.
Aquela aldeia não era barulhenta como as aldeias do Oriente que tão bem conhecia. Algumas mulheres e crianças já haviam despertado e se ocupavam em afazeres próximos a suas tendas. As mulheres e crianças não entravam na cidade, salvo em raras e especialíssimas exceções ou quando se tratava de um grupo especial de mulheres denominado, carinhosamente de “Ajudadoras”.
Os homens que iam despertando encaminhavam-se ao templo onde estava a fonte central das águas daquele lugar, ao centro, de onde corriam dividindo-se em diversos córregos condicionados por aquedutos por onde fluíam para os arredores de Qumrum, irrigando o imenso Oásis de palmeiras, depois de transbordarem algumas cisternas.
Airam entrou por uma porta lateral, acompanhando o embaixador e aprofundou-se no templo através de um labirinto até alcançarem a beira de um córrego que nascia sob uma larga e alta parede de grandes blocos de pedra lavrada, cuja curvatura demonstrava traçar um grande círculo. O ancião ajoelhou-se, no que foi imitado pelo mago persa; após breve oração balbuciada baixinho, o embaixador inclinou-se e bebeu da corrente d’água sem utilizar as mãos.
O mago não sabia o conteúdo daquela oração, mas, lembrando-se do Rei dos reis, inclinou-se e bebeu também daquela água. Era leve, refrescante, totalmente límpida, cristalina, convidando a beber mais e mais, a mergulhar e a banhar-se, de tal forma sedutora que o mago já havia imergido todo o rosto e não fosse a ação do anfitrião em puxá-lo pelos ombros, certamente teria se afogado.
-Foi uma grande vigília nestas ultimas três noites, comentou o ancião antes de prosseguir no caminho pelo interior do templo.
Caminharam lentamente pelo corredor, acompanhando a grande parede circular por alguns instantes e encontraram um segundo córrego nascente sob a mesma parede. O ancião ajoelhou-se mais uma vez e inclinou-se após breve oração e sem usar as mãos novamente bebeu da água, no que foi imitado pelo mago.
O visitante já não sentia mais sede, mas repetiu o gesto como um ritual respeitável, inclinando-se, sem saber, no entanto, que oração era pronunciada pelo embaixador naqueles momentos. Ao tocar a água com os lábios o mago sentiu que sua qualidade era bem superior à das melhores fontes que conheceu em suas viagens. Novamente a intervenção do ancião livrou-o do afogamento.
Airam estranhou o poder imenso que aquelas águas possuíam. Não seria difícil a um visitante, não assistido, afogar-se, distraído e arrebatado pela insaciedade de tão precioso líquido.
Novamente em pé, um pouco embaraçado com seu guia que se limitava a sorrir, Airam esfregou as mãos no rosto, espalhando pelos cabelos aquela água que molhava a barba e escorria para o peito e às costas.
- Nosso filho mais querido, O Filho mesmo do Senhor, passou por grande tribulação e aguardamos sua volta. Exclamou Elcana. Airam não compreendeu imediatamente as palavras do embaixador. Limitou-se a assentir com a cabeça, demonstrando entendimento das palavras, mas não de seus sentidos.
O ancião retomou a caminhada lenta acompanhando a parede circular sendo seguido pelo visitante que não se afastava de seu guia. Mais um quarto da circunferência formada pela parede de pedras e os dois homens pararam diante de um terceiro córrego, repetindo o gesto de reverência, oraram, cada um a sua maneira e beberam da torrente. Ao retirar o mago da água, na qual o distraído e arrebatado principiante mais uma vez ia se afogando, o ancião fez o terceiro comentário:
- Hoje, e doravante, é a maior festa da Humanidade! Ajoelhando-se e pronunciando o complemento: - Louvado Seja! – o que Airam ouviu claramente e repetiu com emoção, referindo à lembrança do Rei dos Reis, a quem ajudara a sepultar, sentia interiormente uma certa contradição na asserção do embaixador.
- Como poderia ser a maior festa da Humanidade?
O ancião fitou no mais interior dos olhos do mago. Seu ar era sereno, extremamente pacífico, mas carregado da máxima gravidade. Sua autoridade era imensa. O silêncio como resposta lhe dizia: -Espera, não te precipites, confia...
De pé passaram a percorrer o terceiro quarto da circunferência até pararem ante a quarta fonte nascente sob a mesma parede circular. Airam ajoelhou-se e concentradamente repetia o mesmo gesto ritual, sem perceber que desta vez o ancião permanecera parado observando seus gestos. Quando o mago inclinou-se para beber da torrente o ancião segurou-lhe pelos ombros impedindo seus movimentos. O mago parou, refletia em busca da compreensão daquilo que vivenciava, era uma situação nova e, ainda ajoelhado, voltou-se para o anfitrião como se buscasse uma instrução precisa.
O tilintar de uma pedra rolando no piso chamou sua atenção, rapidamente voltou os olhos na direção do ruído e, surpreso, constatou ser a pedra branca que caira da sacola no momento em que se inclinara para o ancião.
-Sabes consultar o Urim e o Tumim? Indagou Elcana, mantendo o sorriso iluminado.
Airam balançou a cabeça afirmativamente, recolheu a pedra caída e levantou-se, atendendo à negativa que convencionara com o pastor, não beberia daquela água. O ancião observava atentamente os gestos do mago persa.
-Ainda que toda a natureza te diga “não”, escuta teu coração, o intimo do teu ser e então decida, só tu saberás o que fazer a cada momento. Há muitas promessas deixadas por Deus ao longo da História.
-Quais são? Perguntou Airam, excitado pela perspectiva de mais descobertas novas, tendo aguçada curiosidade intelectual.
-Muitas, desde o primeiro homem até nossos dias, muitas grandes, muitas outras pequenas e imediatas, mas todas firmes e verdadeiras. Nenhuma deixou de ser cumprida e nenhuma deixará de ser...Pausadamente ensinava o ancião.
-Nisto incluíste o Urim e o Tumim? Perguntou o mago.
-Sim, confirmou o ancião, Urim e Tumim nos foi dado para o Peitoral do Juízo no sacerdócio da aliança anterior.
-Mas a Saul o Senhor negou o Urim e o Tumim quando o consultou...Questionou o mago.
-Sim, prosseguiu Elcana. Os homens desesperançados se entristecem quando o Senhor lhes nega o Urim e o Tumim, como se lhes negasse todas as promessas, querem se antecipar à vontade de Deus, querem exercer a divindade, querem adivinhar, mas os que confiam no Senhor esperam sempre por maiores e mais excelentes promessas. Sempre confiam e esperam. O comum dos homens reduz tudo às experiências que traz na memória e espera que Deus cumpra suas promessas pelos meandros dos caminhos humanos. Deus sempre cumpriu e sempre cumprirá suas promessas, mas por seus próprios, novos e inusitados caminhos.
-Porém, não me referia apenas às pedras que tens, mas à mais excelente das promessas que nos veio por Joel e que é fundamento para nossa própria vida, nossa própria Natureza, e esperança de Qumrum, nossa Pedra, nossa Rocha:
-E naqueles dias derramarei meu Espírito sobre toda a carne...Elcana citou o profeta e prosseguiu dirigindo-se ao principiante.
-Meu querido amigo, desejo que o Senhor te encontre digno de receber o revestimento do Poder do Alto, prometido por Ele. Então deixarás, com respeito, o Urim e o Tumim para os antigos e te entregarás à direção do Espírito, no convívio com Ele, com Seus dons em teu cotidiano e depois ressuscitarás com todos os salvos, a mais excelente promessa! Esta é a promessa que aguardamos com mais ansiedade.
-Ainda que toda a Natureza diga não, escuta teu coração, o intimo do teu ser, em comunhão com o Espírito, só por Ele tu saberás o que fazer a cada momento, Ele perscruta o Coração de Deus mesmo! Concluiu.
-Devo beber? Perguntou Airam a seu guia?
-Aqui, neste ponto, nada se pergunta, só tu saberás o que fazer a cada momento, repetiu o ancião.
-Mas, sou gentio, isto se aplica a mim? Questionou o humilde persa.
-O que importa? Nós, de nossa parte, somos o rejeito das tribos e por isso estamos aqui. Em Qumrum nos fizemos Corban a nós mesmos. E tu, não te incluis no texto “toda a carne” de Joel? Respondeu Elcana argüindo. Airam não sabia ainda o que significava “Corban”.
-Sim, me incluo. Respondeu o mago enquanto novas compreensões se realizavam, nascendo de um vácuo interior. Airam não sabia o que era, mas sentia o poder daquele ensinamento.
O tempo parecia parado com Airam por alguns instantes, o mago observou um forte perfume no ar, indicando uma fonte de águas sulfurosas medicinais. Lentamente voltou a inclinar-se para a torrente e na medida em que se aproximava mais da superfície, mais forte era o vapor a entrar por suas narinas, a irritar seus olhos, enquanto expandia seus pulmões. O mago abaixou-se mais um pouco sob o olhar atento do ancião. O ar estava parado, os ouvidos atentos de Airam não escutavam mais a respiração do anfitrião que parecia suspensa. Abaixando-se mais ainda, aproximando seus lábios daquela água, com a língua tremula lambeu-a levemente e mais um pouco antes de levantar-se.
Ainda de joelhos, sentiu o arrebatamento de seu coração místico e em voz pausada, atendendo aos ditames do profundo de seu ser, pronunciou em crescente emoção a oração que aprendera entre os galileus em suas viagens: -“Pai que está nos céus...”. Seus olhos brilhavam de lágrimas que traziam o afeto e confessavam as emoções das imagens que se precipitavam da memória em sua consciência.
De pé ao lado do ancião, Airam ouviu a benção do idoso anfitrião que, apoiando a mão direita em seu ombro, fitou-o profundamente nos olhos mais uma vez e depois de algumas palavras incompreensíveis ao mago, revelou com um hino entoado em Lá universal:
-Bebeste do cálice do Filho,
Serás solidário a todos os que nascerão na cruz...
Serás chamado de “Kyrio”, o incendiado,
Pois tua fonte é a do Oleiro
Que da lama faz seus vasos para seu uso
Que queima seus vasos até a perda de toda umidade.
O Oleiro te julgará
O Senhor será teu Paráklëtos
Que o Pai te encontre digno e te abençoe
A tudo que tocares, porás fogo.
Que te revista com Poder do Alto
Que te conceda os Dons Divinos
Que aplaque teu próprio incêndio
Que te livre da loucura
Que te livre da morte
Que livremente abraçaste...
Só depois de completares em ti a obra que escolheste
Poderás então beber de todas as fontes
E então te chamarão de ”eleito”,
Oh! Jesurum.
Depois do hino o ancião emocionado abraçou o novo amigo, em gesto fraternal e convidou-o a saírem, tratando-o por “haberin” - irmão.
O sol já estava alto quando Airam atravessou o pátio interno sendo conduzido para o aposento que haveria de ocupar durante toda a sua estada em Qumrum.
Elcana abriu a porta de um pequeno cômodo com paredes de pedra lisa. No chão, peles de ovelhas serviriam de leito para o repouso do visitante; no canto uma vasilha de barro com água para beber e outra, pequena, onde a água era servida, emborcada no gargalo como tampa da maior. Uma vara de madeira seca atravessava de uma parede a outra, servia para pendurar a túnica, o cajado, a sacola e já estava nela estendida uma manta de tecido grosso para os hospedes se aquecerem nas noites de inverno. Uma grande manta vermelha. Era tudo o que possuía.
-Aqui poderás descansar, informou o anfitrião – Não há qualquer restrição a acessos nas dependências do templo, nem interior nem exteriormente. Viva aqui, pois tudo é teu, em qualquer necessidade recorra a qualquer pessoa até que aprendas os lugares e os hábitos do nosso povo, completou. E, saindo, fechou a porta atrás de si, deixando Airam sozinho em sua primeira morada de pedra em toda a sua vida.

Reiterações


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V
Símbolos e Realidade

Era a primeira tarde de Airam naquela cidade, quando entregou-se ao descanso em sua primeira morada fixa. O hino revelador entoado por Elcana à beira do ultimo córrego, ainda ressoava na memória do mago. – Bebeste do cálice do filho... Tua fonte é a do Oleiro... Tais figuras não encontravam realização na consciência do mago...somente em função da melodia sua memorização era possível, a rítmica das tônicas sugeria as palavras, ainda que não acompanhadas da compreensão. Airam percebia como refletimos pouco nas palavras dos hinos.
Despiu-se e deitou na pele estendida em um canto do aposento, para descansar da viagem empreendida desde a madrugada e das emoções da densa recepção que acabava de ter pelo embaixador de Qumrum, o ancião Elcana.
Ele queria o retiro e o descanso quando dirigiu-se àquela cidade que em sua memória da primeira viagem ficou como exemplo de paz. Entretanto o impacto da recepção já indicava a intensidade de novos elementos que viriam a excitar-lhe todo o seu ser com temas que em sua primeira visita, anos antes, seu espírito não alcançava. Era a mesma cidade mas o visitante era outro, renovado, com memória apenas do antigo homem.
Queria beber a harmonia e a paz que invadiam todos os recantos e escorregavam pelas paredes de pedra no eco manso de conversas pausadas, às vezes interrompidas por uma voz infantil em explosão de alegria nas brincadeiras que faziam na área das tendas sem que incomodassem as ocupações dos adultos.
O mago sentia uma imensa integração nos movimentos daquela aldeia mas, somente agora, amadurecido, percebia algo mais profundo que a integração: havia uma unidade espiritual subjacente, todos eram um.
Velhos, jovens, adultos e crianças conviviam em harmonia e respeito mutuo, as ações se complementavam em perfeita sintonia. Não havia desperdício de recursos e o que possuíam era comum a todos. Nos dias subseqüentes o mago conheceria muitas pessoas e não assistiria qualquer discussão sobre “direitos” mas, antes, pessoas buscavam melhor desempenho no atendimento de deveres.
Naquela tarde do dia de sua chegada, deitado sobre pele de cordeiro, “primeira veste dada a Adão” – lembrou – sobre a pedra polida do chão, Airam apurava a audição para os diversos ruídos que chegavam de longe.
Uma ovelha balia à distância, uma criança gargalhava em algum jogo, de mais longe o sussurro rouco das ondas do mar sem peixe, enquanto, bem próximas da porta do quarto, vozes graves quebraram a atenção que vagava no oceano íntegro dos sons.
Algumas batidas à porta concluíram o despertar do mago que recebeu Elcana, acompanhado de um homem de meia idade que observava atentamente seu rosto. Airam apresentava o ar inocente e questionador dos motivos daquela visita a seu aposento.
Com breves palavras o embaixador apresentou-lhe ao homem que o acompanhava. –Este é Tomé e deseja conversar contigo, informou.
Os novos amigos saudaram-se e Tomé iniciou o diálogo, tentando colher com Airam as notícias sobre os últimos acontecimentos em Jerusalém. Se o mago havia estado com Emanoel, o Jesus de Nazaré, também chamado de Galileu, ou Samaritano, O Carpinteiro, o Jesus de todos os nomes com que se referiam ao Rei dos reis. O imprevisível Jesus da eterna novidade, concluiu com afetuoso carinho as referências ao Mestre.
- O Rei dos Reis, o Filho de Deus nascido em Belém? Completou Airam.
-Sim, sim, confirmou Tomé aproximando-se mais do mago com o ar inquiridor mais agravado por uma certa apreensão e ansiedade.-Sim, mas hesitou...Como sabes ser o Filho de Deus, quem te revelou? Concluiu Tome a pergunta, com olhar firme que verificava a autenticidade do informante.
-É uma longa estória que nos remete à memória da minha infância e a juventude num longínquo Oásis do reino Persa, informou Airam. -Estória que culminou nestes últimos dias quando ajudei a sepulta-lo num jardim nos arredores de Jerusalém.
Airam observou quando os dois homens se ajoelharam com as mãos unidas e apertadas contra o peito, como se contivessem alguma dor profunda ou guardassem preciosos tesouros em seus corações. Inclinaram a cabeça em reverência à pessoa central daquelas notícias que trazia. O mago cedeu à força irresistível que também o empurrava para que se ajoelhasse em gesto de devotada submissão completa ao rei mencionado. Depois de algum tempo o ancião levantou-se, sendo seguido por Tomé e Airam.
-Tomé é um dos doze do Mestre, informou Elcana. Chegou ontem pela manhã com noticias sobre a prisão de Jesus Cristo, enquanto baixava a cabeça em mais reverencias ao nome do Rei dos reis.. -Mas, prosseguiu, quando deixou Jerusalém fugindo da perseguição, soube que Ele estava sendo supliciado e Tomé não concebia a possibilidade de morte, vindo até nós em busca dos melhores terapeutas para tratarmos do Mestre, não entende que o melhor terapeuta é o próprio supliciado, são desígnios de Deus que não compreendemos...nada humano há para se fazer, senão, aceita-lo.
Tens certeza de que estava morto? Interrompeu Tomé a exposição crítica de Elcana, buscando a certeza de Airam. -Quando sepultaram o Mestre seu corpo estava inerte, não respirava? Prosseguiu Tomé, verificou a respiração, o coração, o pulso?
-Sim, Tomé, respondeu o mago persa. Ele estava realmente morto, com uma lança um soldado atravessou o peito de Jesus de um lado a outro, traspassando-o interiormente por entre as costelas, fisgando o coração já cansado do suplício.
O sangue esvaiu-se e também água em abundância. Somente o Espírito o mantinha em vida...Airam fitou os olhos acovardados de um homem fraco e inconformado, prosseguindo:
-Glória a Deus que recebeu Seu Espírito quando o entregou num brado...”Pai em tuas mãos entrego o Espírito”. Não teríamos forças para suportar a culpa de vê-lo permanecer até agora lá e para sempre, ferido e sangrando, O Espírito esvaindo-se sem ter fim...Tu e teus covardes companheiros, inflamou-se o mago, covardes que o abandonaram...todos fugiram.
Cabisbaixo Tomé dirigiu-se à porta, informando:- Agora mesmo irei de volta a Jerusalém, em voz baixa, confessando a vergonha de sua covardia, o medo da morte. Colhendo as ultimas referências sobre o local do sepultamento, Tomé deixou o aposento do mago que permaneceu na companhia do ancião embaixador.
-Tomé se debate em dificuldades ainda. Sonhou um ideal imenso, mas humano e terreno. Acredita nas Promessas, mas as espera pelos seus caminhos humanos de que se fez atalaia. Como demove-lo disto? Para muitos, como ele, é inconcebível a morte do Mestre que, sabemos, é o próprio Messias, Deus Filho encarnado homem.
-Ele mesmo revelou, “quem vê a mim vê o Pai”, e “Eu e o Pai somos um...” Louvado Seja!... Pensa que, antes, o Mestre nunca morreria e mesmo informado por ti do sepultamento do Amado, ele não te dá crédito, comentou Elcana.
O discípulo, ainda no corredor, ouviu o comentário do ancião, e retornou ao quarto do mago. Sua tez apresentava o rubror dos irados, ainda que se contivesse.- Só acreditarei na morte de meu Senhor e Meu Deus se examina-lo, se não sentir o pulsar de seu coração, se não sentir o calor do seu corpo e o fôlego em suas narinas. Somente acreditarei na morte de Deus se me certificar do fim de todos os seus sinais vitais.
-Vou a Jerusalém não para testificar a morte, mas para dar testemunho da minha fé na Vida, Eterna, Absoluta, Água da Vida que preenche todos os vasos. Um ou outro pode ser quebrado, mas a vida eterna prossegue, vitoriosa. Creio o Mestre ser a água eterna e o vaso eterno, imortal. Não entenderia se a promessa do reino eterno de nosso Messias passasse pela morte! Adeus! Despediu-se.
Airam recuperou a calma na compreensão do dilema daquele homem que resistia à necessidade de morrer para seus próprios caminhos, sem discussão. Lentamente foi conhecendo a profunda relação fraternal daqueles homens com Jesus. Sentindo-se mais a vontade entre o povo de Qumrum em função daquelas ultimas relações percebidas. Iniciou a discorrer para o ancião sobre sua busca guiado pela estrela desde o Observatório no distante reino persa até ao encontro recente em Jerusalém.
- Entendo, interrompeu o ancião, mas o caminho que escolheste exigirá de ti muita Fé e lucidez nos objetivos de tuas buscas. Não se pode confiar no que vemos e ouvimos, não se pode confiar no que pensamos, nada, nada, nada que um fenômeno possa nos trazer nos conduzirá à confirmação do que cremos.
-Quando tua segurança nos teus referenciais começar a ser abalada e todo o fenômeno que perceberes vier a confirmar, tão somente, que a morte é iminente, poderás confiar apenas nos dons com que a Graça divina te beneficiou e aprender nos exemplos vivos dos mestres da humanidade como vencer neste vale insólito da tua escolha.
-Bebeste da fonte do Oleiro, provaste do cálice do Filho. Ou te faz Filho também ou te incendeias e rompe teu vaso. Este desafio de heróis não é para experiência dos fracos, não é para os que desejam vencer uma batalha, mas para o que vence todas as batalhas, tanto a pequenas quanto a grandes, com uma única arma, o Amor, apoiando seus pés na Razão e na Fé.
-Temos muitos terapeutas aqui, prosseguiu, dos melhores que se conhecem, mas, nem mesmo eles saberiam restituir a ordem a um vaso quebrado na tentativa de realização da obra do oleiro, apenas a graça de Deus poderá garantir, no ultimo momento, que teu vaso não se rompa e permaneças útil à obra. È um Dom de Deus.
-Vive e deixa estas especulações de lado. Os pensamentos a nada nos levam. Quando necessitares de algum recurso da tua experiência, ou tens ou não tens na bagagem com que o Senhor te guarneceu e com a qual te cumpre viver.
É certo que possuis tudo o que necessitas para viver o momento que Deus quer que vivas. Se pensas que te falta algo, ou não necessitas realmente, ou não pediste.
E se pediste e não recebeste, o fizeste para o culto de alguma vaidade própria. Diante de Deus nada falta. Ser do Oleiro é nada ser para que Aquele, único que É, o Amado, seja tudo o que quer em nós. Há a promessa de que Ele habitará em nós!
Airam percebeu a grande expectativa que envolvia a comunidade de Qumrum. Já no convívio daquelas primeiras horas e à noite durante a ceia que realizaram no templo o mago confirmou que todo o povo amava a Jesus com simplicidade.
A todo momento o reverenciavam com respeito especial que não o distanciava como as autoridades humanas mas permeava uma atmosfera de camaradagem, de companheirismo e identidade. Estavam em comunhão.
Todos sabiam que Ele é o Cristo, o Filho de Deus, encarnação do Messias eterno prometido a Israel. O admiravam por sua personalidade, mansa e corajosa, segura e resistente assim como por sua disponibilidade, acessível a todos.
Muitos estudantes varriam as escrituras em busca das citações que revelassem as profecias sobre aqueles últimos acontecimentos. Dia e noite se revezavam, sobre rolos e rolos de pergaminhos da rica biblioteca, que estavam sobre bancadas onde se debruçavam.
De tempos em tempos um ou outro levava um texto aos anciãos e tudo era considerado minuciosamente. Os mais velhos não faziam uma leitura linear dos textos, era estranho, mas dominavam outras técnicas que envolviam a leitura vertical dos textos e por complexos algoritmos, saltavam períodos para considerar segmentos dispersos.
Após a refeição, um hebreu narigudo e de tez muito vermelha, com barbas e cabelos longos, tomou a palavra e apresentou conclusões sinceras sobre os estudos realizados. Cativando a atenção de todos:
-Como sabemos é promessa do Senhor que a tudo anunciaria a seus profetas e nada faria sem antes anunciar-lhes desta forma. Afirmou sondando a platéia, com o que todos concordaram. Amem. E prosseguiu.
-É nosso dever, diante dos últimos acontecimentos de Jerusalém, buscarmos com a direção do Espírito prometido as revelações que nos certificassem o significado e justiça dos últimos fatos.
Já não contendo as lágrimas, lamentou: -Jesurum, Oh! Jesurum, povo escolhido, temos sofrido, falta-nos conhecimento, mas isto não é vontade de Deus. Prosseguindo com o discurso racional sobre o estudo que fizeram.
-Considerando desde o primeiro sacrifício com que Deus providenciou a pele com que vestiu o casal primordial, para o que imolou um cordeiro, passando pelos sacrifícios de Abel, pelas passagens de Noé no dilúvio, e todos os livros revelados por Moises, a Providência do Anjo que foi enviado e alimentou nosso irmão Ismael no deserto, e depois de provar a fé de nosso pai Abraão, a providência do cordeiro que poupou nosso pai Isaque, a aliança da Páscoa quando éramos escravos nas terras da descendência de Can e, verificando à luz dos próprios ensinamentos de Jesus, as revelações sobre a necessidade de que fosse erguido como Moises fez com a serpente ardente no deserto, para a cura de nossos pais...Fomos ao encontro do que nos legou o Senhor através de Isaias, no que se referiu à promessa do Messias:
-Meus amados, aquilo que em Isaias considerávamos figuras simbólicas. Irrompeu novamente em lágrimas...-Oh! Jesurum, povo escolhido, somos condenados a sofrer na carne os símbolos que não compreendemos na alma e no espírito.
-Sim. Aquilo que em Isaías considerávamos símbolos, são em verdade realidade histórica. Nosso Senhor, nosso Messias encarnado foi morto, brutalmente morto e em suas pisaduras, como uva no Lagar, pode nos remir a todos, completou. O Eterno encarnou np temporal para o resgate de tudo o que tinha fim e que o Senhor quer infinito.
-Sobre as promessas do Reino do Messias, tão ansiado, tão esperado porque é prometido pelo próprio Deus e é certo, será! Mais excelente promessa nos dá e a encontramos em Joel. Mais do que o Reino fundado sobre um organismo, a promessa refere-se a toda a carne, mais que o Reino fundado sobre um individuo, a promessa refere-se a todos os homens, uma Igreja, mais do que fundado sobre um homem perfeito comissionado, a promessa refere-se a imperfeitos transformados e renovados, mais do que lei na velha criação, por vezes caída em escravidão, a promessa refere-se a Plena Liberdade de Dons Perfeitos, a vida abundante, a alegria infinita, às delícias perpetuas que estão à direita de Deus, dadas a todos os remidos por Ele na cruz.
O silêncio absoluto reinou.
A comunidade recolheu-se após os hinos e orações.
Durante as pesquisas um jovem da aldeia chegou a comentar com o mago que o próprio Jesus ao despedir-se, na mais recente visita que fizera a Qumrum, revelou que passaria por aquelas dores. O rapaz entusiasmado com as novas perspectivas trazidas pelos estudantes, explodia em associação de idéias e descoberta de sentidos, renovando imensas esperanças, prosseguiu: -Na época não imaginamos o que poderia ser, mas, ao recebermos as noticias dos últimos dias em Jerusalém...
E depois, com mais intimidade confidenciou que na noite da celebração do cordeiro pascal, os jovens e suas famílias fizeram o sacrifício ritual, comeram a ceia, soltaram o bode no deserto e voltaram para aspergir o sangue do cordeiro no portal da casa que Jesus utilizava quando os visitava.
-Afinal, Ele é também um primogênito hebreu, finalizou, tendo os olhos inundados por lágrimas e denotando apreensão, o medo de assistir a negação histórica do rito tradicional da Páscoa. Resistia em aceitar que na noite do livramento dos primogênitos judeus, o extermínio não poupou a Qumrum seu mais amado primogênito hebreu.
A noite avançava e nas rodas de conversas em torno de fogueiras os comentários prosseguiam e nelas encontrávamos sempre o mesmo tema central: Cristo! Um viajante montado em um jumento aproximou-se contornando as tendas e dirigindo-se ao estábulo. Muitos acorreram para recepciona-lo, perguntando sobre a origem do visitante. O interesse aumentou quando souberam que vinha de Jerusalém.
Apeando da montaria e reunindo-se a um grupo sob uma palmeira um pouco distante da fogueira, iniciou o relato sobre os episódios mais recentes em Jerusalém, finalmente, demonstrando temor, e com tremor, contou que já corria a notícia de que o sepulcro naquela manhã havia sido encontrado vazio e algumas mulheres contaram que ele havia ressuscitado e que elas, inclusive, o haviam visto. Mas no momento em que uma delas, mais afoita, quis abraçar seus pés em adoração, dele ouviu:- Não me toques porque ainda não subi ao Pai! – Noli me tangere!
Todos se ajoelharam, um jovem correu ao templo e comunicou a chegada do visitante e a nova noticia a Elcana que imediatamente veio recepcionar o viajante, levando-o para o interior da cidade. Todos iniciaram uma vigília de louvores e orações em favor do ressuscitado:
O hino ressoava pelas pedras e fluía pelas palmeiras derramando o canto bem entoado:
Não há mais caminho sem volta
Nem a morte nos pode tragar
O Senhor é a ponte e a porta
Onde vamos sair e entrar...
Assim prosseguiam com brados emocionados de vitória que eclodiam aqui e ali, espontaneamente, por pessoas simples e sensíveis aos novos ventos, a que respondiam imediatamente.
O mago não compreendia aqueles conceitos combatidos pelos saduceus. Ressurreição? Perguntava-se, como seria possível o morto voltar a viver? – Verdadeiramente, se não é fantasia do forasteiro, aí está o prodígio de Deus. A Justiça campeando em favor do Filho inocente, que foi supliciado injustamente, aí está a vitória do amor tão esperada. Do jeito de Deus, no tempo de Deus, quem suspeitaria que assim fosse o desenvolvimento dos fatos? Perguntava-se o mago.
O grupo havia permanecido um pouco distante e a luz da fogueira era frágil para permitir uma observação mais detida do viajante e foi grande a multidão interessada que o cercou, impedindo maior aproximação. A silhueta não era estranha e Airam tinha a impressão de conhecer aquele homem. Também o trecho da frase que pronunciou na língua dos romanos, foi um Lácio perfeito e quando conversava em hebraico, seu sotaque demonstrava ser estrangeiro.
O mago deixou o grupo sob a palmeira, à beira do córrego. Enveredou pela escuridão, sozinho, rumo ao templo para se recolher em seu aposento. Entrando pela porta de acesso aos hóspedes, chegou à porta do seu quarto. Uma lamparina com óleo e sebo, fornecia luz suficiente para os preparativos do repouso noturno.
No quarto ao lado uma conversa se desenrolava. O mago percebeu a voz do visitante recém chegado, em dialogo com o ancião embaixador. O visitante estava aflito, sim, chorava e mostrava-se em profunda angústia. Elcana o acalmava apresentando argumentos em voz pausada e em ritmo característico da paz de Qumrum.
Aquele homem demonstrava conter em si um grande conflito, chorava amargamente, implorava o perdão por algo entre soluços sem que o mago conseguisse compreender o que de tão grave tratava, com hesitação na pronúncia e um domínio precário do hebraico. Airam ouviu claramente quando Elcana consultou seu interlocutor sobre a conveniência de utilizarem o Aramaico, Siríaco, o Lácio ou o Grego. A partir daquele momento fez silêncio no aposento ao lado e passos no corredor indicaram que haviam se dirigido a outro recinto do templo.
Airam estirou-se sobre a pele depois de fixar a pequena lamparina em um suporte a meia altura da parede de pedra. A chama reassumia a estabilidade que havia perdido pelo movimento na tentativa de fixa-la. Naquele momento o mago buscava a harmonização dos pensamentos e sentimentos ante as mais recentes notícias sobre a Ressurreição do Rei do Reis.
As lembranças fluíam na mente do mago e eram observadas com uma atenção dedicada, que acompanhava todos os movimentos. O tremeluzir da chama por vezes era o catalisador da atenção ou o balir de uma ovelha nos jardins externos ou, ainda, passos no corredor, fora da porta, a atenção flutuava no universo da percepção que reduzia-se, gradativamente, no exterior e conduzia Airam ao mergulho atento em sua interioridade de pensamentos, sentimentos, imagens, lembranças e por fim ao silencio.
Não era um silêncio compulsório, imposto por uma vontade forte ou qualquer forma de coação a que muitos se disciplinam para produzir, mediante esforços e lutas consigo mesmos, mas a cessação dos conflitos, a compreensão, momento a momento de cada movimento espontâneo que nascia na mente do mago, era por ele observado até ao findar, a sucessão por outros movimentos que recebiam a mesma atenção e eram acompanhados com a mesma paciência, o mesmo zelo e auto-respeito, do início ao fim.
Aos poucos a agitação dos primeiros momentos cedia e o mago podia travar contacto com a fonte mesma de todos os pensamentos e a fonte mesma de todos os sentimentos, quando no silencio estabelecido espontaneamente, pela compreensão de cada movimento, na paz do espírito apaziguado naturalmente, no ritmo da própria vida, no tempo de Deus, o mago realizava o profundo encontro consigo mesmo- “Eu e o mistério insondável!” – foi o último pensamento de Airam antes que o sono o envolvesse.
A linguagem dos sonhos era familiar ao mago. De um grego aprendera a observar este particular humano que dizia:- A consciência da vigília é lógica a dos sonhos é analógica! Eram comparações, símbolos, cujos significados apresentavam cativantes desafios.
A riqueza dos mitos e a mística contida na educação das crianças criadas em Oásis Orientais, as estórias de caravanas e viajantes ilustres se constituíam em precioso manancial para a “Linguagem Universal”, assim Airam considerava e denominava a linguagem dos sonhos.
Unindo todas as impressões da vida de um homem, todas as experiências desde a infância até o momento presente, tudo, tudo se transforma em instrumento útil para a expressão na consciência daquilo que fosse necessário sonhar para a saúde e o bem viver de um ser humano e uma pessoa atenta podia entender o que lhe diz o âmago do seu ser ou o que Deus quisesse revelar naquela linguagem, depois de atravessar aquele campo mental dos interesses imediatos e da percepção da vigília.
Naquele período especialmente, de conhecimentos novos e a sabedoria trazida pelo Salvador, as estórias que ouvira sobre o Rei dos reis, seu “modus vivendi”, suas orações, os conceitos morais que disseminava, e todos aqueles anos de busca do mago, culminando no encontro final com pessoa de tal magnitude, trouxera novos e fortes elementos para o seu mundo onírico. Era um novo código, um novo corpo simbólico, novos valores, novos paradigmas.
Em verdade aquele anunciado Redentor era a Grande novidade da História e Airam percebia isso. Ele estabelecera uma nova Potencia, um novo Poder, uma nova direção para a natureza humana e a auto-estima correta do homem comum.
Ele trouxe uma nova esperança e um novo destino para o ser humano. Uma segurança inabalável na indestrutibilidade de ser, a permanência da vida, conferiu valor e agregou valor à vida interior do Homem. Um desejo, um pensamento já poderia se constituir em um erro. Com isto mobilizava as atenções para a vida interior do Homem.
Para as mentes que sonhavam, nascia um novo canal, um novo enredo, um novo conjunto de símbolos, um novo mito, uma nova descoberta, em muito superior ao Sumério, ao Egípcio e ao Grego pois os sintetizava de modo magistral, concretizado na existência, em vida, viva, aquilo que até então articulávamos em símbolos. Agora o Homem restaurava a Honra, era lançado para uma dimensão de Filho de Deus, enquanto os antigos eram pretensos redutores da divindade às dimensões da mesquinhez e estatura humanas. Cristo trouxe a oportunidade, o resgate do finito e como Carpinteiro construiu a porta para o Infinito. Era como se um terapeuta descobrisse um novo órgão na fisiologia do organismo humano.
Em sonho, dizia-lhe uma cruz: - Nós, humanos, somos frágeis, pequeninos, miseráveis e doentes, conflitados e medrosos, mas isso é uma estrutura, sim, apenas uma estrutura que está antes do ponto crucial, antes da experiência fundamental, o Homem que está aquém, aquém da cruz. Mas como o tratamento do ouro de da prata, passando-os pelo crisol, a canga formada por impurezas é queimada, o metal precioso é revelado, o ouro é purificado e encontra uma estrutura além da cruz! Coragem, confie, há uma estrutura real alem da cruz, a Justiça e o Poder de Deus a podem conferir a quem o Senhor quiser!
Airam acordou com as fortes impressões causadas pelo sonho. A manhã se aproximava sem quebrar ainda o silencio do deserto de Judá. No peito do mago uma certeza se firmava: -O cristo estabelecerá um novo modelo, um novo paradigma de uma nova criação, uma nova humanidade. Uma nova criação nascerá na cruz.
Mas, como assumir aquele novo nascimento na cruz? Haveria indivíduos que se lançariam confiantemente nesta tarefa? Haveria quem se entregasse livremente sofrendo injustiças, à morte, confiantemente, para assitir depois, sua ressurreição como homem renovado, revestido de novos caracteres, nova glória, nova vida?
-Elohim, Elohim, lama sabatani! Lembrava-se Airam do brado com que o Rei dos Reis entregava-se ao Espírito, da cruz. Como se dissesse: -Poder de Deus, Oh! Poder de Deus, aceito, mas que maneira estranha de me glorificar!
Haveria pessoas que se esvaziariam tanto de si mesmas e que se entregariam até chegarem àquele estado único, de solidão, de abandono, de mutilação, de tantos outros sofrimentos, permanecendo confiantes? - Sim, o Senhor fortaleceria seu povo, confiava.
Para Airam aquela reflexão assumia proporções quase insuportáveis. Mais do que mito e linguagem, o Cristo era um fato histórico, biológico, vísceras crucificadas e, confirmada sua vitória na cruz, o fato transformará a natureza humana mesma e a ressurreição não exigiria a morte, será Vida de Ressurreição para o homem comum.
Jesus já havia morrido uma vez por todos e vencido. Esse era o fenômeno, a expressão de um caráter humano no mundo fenomênico da História. Doravante homens nasceriam na cruz, realizando a mesma experiência humana da ressurreição, em vida, um segundo nascimento, suma terapia e desobstrução do caminho da evolução humana. Sim, suma terapia, sumo sacerdócio, realizando um caráter que a experiência humana do Salvador legou à nossa espécie. Cumpria agora apenas realiza-la. Lá já está o caráter, a potencia, o poder de ser e a História revelarão seus resultados, suas manifestações, seus fenômenos.
Este era um dos motivos de Jesus ser chamado de “Salvador”, de “Redentor” pois, para a humanidade ser dotada daquela propriedade, alguém, pelo menos um, deveria passar pela experiência Histórica, no mundo fenomênico e legar à espécie os campos das novas fronteiras. Entretanto, a nenhum ser humano seria possível passar pelas dores necessárias, então, o Verbo de Deus, o Senhor mesmo encarnou homem no ventre de uma virgem, conforme sinal prometido através dos profetas e Se deu àquele sacrifício, de modo que todos os que viessem depois dele, na História, em crendo, estavam salvos e dispensados de toda aquela violência.
De agora em diante o âmago do ser humano falará com nova linguagem à nova consciência humana, a cruz falará, lembrando ao homem o seu Destino a ser realizado. A Vitória d’aqueles que, antes, findavam.
Airam traçou uma cruz na pedra da parede com o carvão do pavio da lamparina e saindo pela porta, foi de encontro ao visitante hospede do aposento vizinho que também saia para o corredor. Após o esbarrão, saudaram-se e caminharam juntos para a fonte de água onde todos se reuniam pela manha. O céu clareava rapidamente e altas nuvens refletiam o rubror que anuncia o dia. O mago lavou o rosto, os cabelos e a barba, sem beber daquela água.
Era o segundo dia da semana e as tropas romanas estavam de prontidão em toda a Palestina. Desde a região sul, das colinas de Farã até ao norte na cidade de Damasco, surgiam como o vento em perseguições aos amigos do Salvador. Esperavam uma enérgica reação do povo daquele rei que haviam matado na cruz, com o que demonstravam total desconhecimento e total incompreensão do Rei, do Reino e de seu Povo. Para os romanos a Paz era um curto período entre duas guerras.
Todos que confessavam seu crédito a Jesus de Nazaré eram presos e quem professasse seus ensinamentos eram presos e mortos. Nas décadas que se seguiriam, os romanos varreriam a Palestina com extrema violência, até a dispersão final com a queda de Masada, último reduto da resistência israelita.
Naquele cenário de perseguições, tudo era motivo para empreendê-la. No início a política perversa com os titulares do Templo de Jerusalém, pois, os romanos constituíram uma guarda oficial para os Principais dos Judeus que dominavam a partir de Jerusalém, irmãos perseguindo irmãos. Por fim até mesmo o templo foi arrasado e Israel foi obscurecido por longo período histórico, os Israelitas dispersos pelo mundo, sem fronteiras terrenas mas, unidos como Nação do Senhor.
Naqueles dias muitos amigos de Jesus chegariam a Qumrum, buscando abrigo das perseguições. Elcana teve seu trabalho de embaixador Chanceler redobrado, viajava incessantemente em tratativas e negociações com os dominadores, reduzindo os riscos de uma invasão a Qumrum.
Existia tradicional protocolo estabelecido entre o povo de Qumrum e o Templo de Jerusalém. Uma espécie de tratado de não agressão. Todos eram hebreus, ainda que em Qumrum encontrássemos israelitas de todas as tribos, seu modo de vida, suas diferenças ou dissidências restringiam-se ao contexto da Fé, nas fórmulas, interpretações e o ascetismo com que acreditavam deviam viver, mas jamais usariam armas na solução de suas diferenças e problemas. Sua arma era a oração, desconhecida dos romanos.
Desde que suas idéias e interpretações permanecessem restritas ao povo de Qumrum, o Templo não insuflaria os romanos e não haveria a invasão em Qumrum.
Seu maior problema era com os jovens, idealistas, amantes da Nação, orgulhosos de seus Patriarcas e de sua eleição pelo Senhor, admitiam menos a diplomacia e em ímpetos de heroísmo lançavam suas sementes amadurecidas em Qumrum, no deserto de Judá, por onde passavam até mesmo longe dos limites Qumrum.
Elcana tentaria fazer prevalecer o respeito pela comunidade, tentaria manter a normalidade no convívio do povo de Qumrum com o poder de Jerusalém. Ele possuía Sabedoria, possuía habilidade para a consecução dos melhores objetivos, tudo o Senhor provera.
As atenções do ancião embaixador pelo hóspede diminuíram com o passar dos dias em função de muito trabalho em suas ocupações na árdua tarefa de proteger Qumrum e, logo, alguns dias depois, tendo empreendido uma viagem a Jerusalém, não se teve mais noticias suas, desaparecera para nunca mais retornar àquela cidade amada.
No quinto, sexto e sétimo dia de cada semana todos celebravam em vigília com hinos e orações. Era quando todos se reuniam e assumiam seus lugares nas laterais de um grande salão e ali permaneciam até a madrugada.
Um ancião sentado à beira de um duto aberto, lavava os pés daqueles que chegassem e depois de enxuga-los, inclinava-se para beija-los com reverencia, observando-os atentamente, dignificando os que compareciam à reunião. A presença não era obrigatória. Voluntariamente as pessoas se aproximavam e participavam da vigília.
Pouco conversavam. Permaneciam sentados ou em pé em sua maioria. Alguns, se o desejassem, deitavam-se no corredor central. A máxima que conformava aquela reunião era a de que “Na presença do Senhor há liberdade!”.
Alguns distraidamente olhavam as paredes e o teto pouco iluminados por algumas lamparinas. O templo era simples e as próprias pessoas seu ornamento. A um jovem que olhava o teto por horas a fio o mago perguntou:-Que fazes aqui? Ao que prontamente respondeu gentilmente:-Sou testemunha da vigília, e permaneceu olhando o mago surpreso, com o que muito se divertiu.
-Haverá algum julgamento aqui? Insistiu o mago.
-Não sei, respondeu o jovem, mas Deus o sabe. Todo dia é dia de Juízo!
-Virá algum réu? A cada resposta Airam entendia menos e mais surpreso se apresentava.
-Não sei, se no corpo ou fora dele...Se com corpo ou sem corpo, Deus o sabe...
Diante da confusão instalada nas feições do persa, o jovem prosseguiu: - Não aprendeste ainda que os olhos são as janelas do Espírito? Onde meus olhos focarem, Ele exerce juízo! As vezes tenho consciência destes, às vezes não, mas meu Juízo não é importante, importante mesmo são os Juízos d’Ele. Sou apenas servo. E concluiu: - Vês, agora, contigo, quem tu pensas que te instruiu? Provavelmente Ele só me trouxe aqui, hoje, para este fim.
O Mago silenciou, era imensa a Sabedoria e a perspicácia para um homem tão jovem. – Em poucas palavras lançou-me numa profundidade inusitada! Exclamou Airam admirado por sentir-se, a partir daquele momento, imerso no Espírito, como uma bolha de ar no profundo oceano!
Airam não sabia o que aprendera agora, nem realizava a verdadeira extensão do que aprendera. A bolha de ar, pequenina ainda, subiria à superfície, expandindo-se até a plenitude, mas, ainda estava no profundo do Oceano.
A primeira vez que Airam participou da vigília teve um sentimento de um imenso tédio, nada acontecia a seus olhos. Nada se fazia concreta e objetivamente. Apenas o lava-pés que realmente era refrescante e transmitia grande conforto. No mais, depois de sentado em um lugar lateral, toda a ação externa se limitava a assistir a quem entrasse, caminhando até onde estava o ancião, que lavava mais uma vez os pés de um recém-chegado, e os observava, e enxugava, inclinava-se, os beijava e cumpria o gesto cerimonial sussurrando algumas palavras inaudíveis porque pronunciadas em um volume muito baixo para o que estava sendo servido.
A mente de Airam vagava em lembranças, pensamentos, na observação do ambiente. Ninguém havia se levantado ou saído. Depois de algum tempo um outro ancião aproximou-se trazendo pães em um cesto raso. Sem qualquer palavra, algumas pessoas deixaram seus lugares, foram até ao ancião dos pães, que os partia com as mãos e os entregava em pedaços. Não eram muitos os que se dirigiam para receber o pão. Em sua maioria eram os mais velhos, muito idosos e participavam da ceia.
Mais tarde um outro ancião aproximou-se do centro da nave, depositando em um vaso um pouco de vinho. Alguns participantes que haviam recebido o pão, às vezes, dirigiam-se para molhá-lo no vinho antes de ingerirem a fração que traziam.
Não havia acaso, mas, um Saber que determinava o momento de cada um interromper sua meditação ou oração e molhar o pão no vinho. O mago sentia que não era acaso e que as pessoas praticavam aqueles atos de modo sincrônico. Havia um código comum, uma norma ou uma lei para aquele comportamento. Cumpria compreendê-la, cumpria aprender, mas, com quem? Elcana não estava mais entre eles, não sabia de mais alguém com quem pudesse aprender.
Mas, naquele momento em que o jovem o arremessou para o Espírito, tudo revestia-se de significado. Estavam disponíveis a Deus. Os símbolos encarnavam e faziam a Realidade.

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VI
Ascensão

Airam passava os dias em Qumrum, participando do cotidiano da comunidade, ocupado em atividades simples. Por vezes caminhava até um lugarejo próximo denominado Feshkha ou até às margens do mar que não tem peixes. Numa viagem que margeou o mar em direção ao Sul ele visitou a fortaleza de Masada, considerada outro farol da Palestina. Um ou duas vezes foi a Belém levando um burrico de uso dos visitantes, quando teve a oportunidade de rever o pastor do presépio. Com aqueles trabalhos o mago entretinha sua atenção, aprofundava-se no aprendizado pelo convívio com aquele povo simples e sábio, enquanto retribuía a hospitalidade com que aquele povo o recebeu.
Era grande o fluxo de visitas à cidade e grande o assédio do povo aos que chegavam pois, sempre traziam noticias de Jerusalém e acontecimentos maravilhosos eram relatados. O convívio do Cristo ressuscitado com seus amigos, o encontro com ele, amiúde, pelos que pescavam em Tiberíades, com outros dois amigos que viajavam para Emaús, eram tantos episódios maravilhosos que faziam suspeitar tratar-se de um sonho, tão longe parecia do habitual plano concreto do cotidiano. Mas, ao contrário, informavam que o ressuscitado convivia com os amigos, comendo, bebendo e transmitindo-lhes ensinamentos e preciosas promessas, enquanto os investia da missão de testemunharem por todas as nações as suas experiências com ele, enviando-os ao mundo.
Em um dia em que trabalhava na lavoura o mago reconheceu o discípulo Tomé, que se aproximava, com quem havia conversado no dia de sua chegada a Qumrum. Esperançoso por notícias sobre Elcana e seu destino, deixando por um pouco os trabalhos, dirigiu-se ao encontro de Tomé. Ouviu dele a saudação de paz, de um homem transformado. Não era mais aquele Tomé que conheceu, questionador, que mantinha seus ideais e como atalaia, reagia ao primeiro sinal de qualquer ameaça de frustrá-los:
-Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo – falou o discípulo, ao que Airam respondeu, observando que o amigo não demonstrava qualquer tristeza, desânimo ou descontentamento. Ali se evidenciava uma profunda transformação, um homem verdadeiramente humilde e contrito.
Sentados à sombra de uma palmeira iniciaram uma conversa amistosa, com a camaradagem dos que estão em comunhão e acordo. Airam pediu noticias sobre o Salvador e Tomé contou-lhe com profunda reverência os principais acontecimentos dos últimos dias e sob o olhar surpreso do mago, cujo corpo tremia incontido, relatou a despedida do Mestre e sua elevação ao céu com promessa de retorno.
-Está tremendo persa? Observou Tomé segurando seu braço. Imagine quando o Mestre me mandou tocar suas feridas dos punhos furados e meter minha mão no buraco da lança no lado de seu tórax. Tomé lacrimejava com um choro silencioso dos arrependidos, e prosseguiu:
- Ali estavam os músculos e os ossos sob a tênue película de coágulos ainda úmidos, que iniciava a se formar em sua cicatrização. - Meu Senhor e Meu Deus! Foi a única expressão que tive, sim ali estava o Meu Senhor e Meu Deus. Tudo em mim foi transformado, não creio mais no que vejo mas tão somente na Palavra de Deus que sai da boca de Deus. Tomé chorou emocionado de alegria.
E, prosseguiu contando o que parecia extremamente promissor, com profundo sentimento de gratidão, o Salvador dissera que enviaria o Espírito Santo, o Paráclito, um Ajudador, Auxiliar que tomaria a defesa de quem o recebesse e o guiaria por toda a verdade. Isto se daria dentro de poucos dias e que logo retornaria a Jerusalém para celebrar a Festa da Messe com os demais discípulos, porque o Senhor instruiu que permanecessem em Jerusalém até que houvesse este revestimento com o Poder do Alto.
Ele assegurou, contou Tomé: - Convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei.
- E, em outro dia, revelou: Vim lançar fogo à terra; e que mais quero, se já está aceso?
Airam não compreendia inteiramente aquilo e Tomé explicou-lhe que era a mais excelente promessa do Mestre:
-O Senhor nos informou que para onde estava indo não poderíamos segui-lo e que se Ele não fosse não poderia vir o Revestimento do Poder do Alto prometido pelo Pai, mas que, Ele indo, dentro de poucos dias enviaria o Espírito Santo para permanecer conosco, para habitar em nós, em todos os que cressem nele, para nos guiar por toda a verdade e que nos lembraria de tudo o que o Mestre havia ensinado.
-Chegou a dizer textualmente mesmo:- João batizou em água, mas vós recebereis o batismo no Espírito Santo, dentro de poucos dias...Concluiu Tomé. É um novo e mais excelente batismo.
Aproximava-se a Festa das Semanas, também chamada “da Ceifa”, era a colheita. Airam vinha trabalhando com animação em Qumrum, ajudando nos preparativos junto com muitas pessoas. Aquele ano estava diferente de todos os anteriores, relatavam seus amigos. As notícias trazidas por Tomé operaram poderosamente no ânimo e serviram de grande reforço à confiança daquele povo. Era também ano de Jubileu, de Redenção, de Perdão, quando dividas era remidas, arrendamentos findavam e bens eram restituídos.
Estabelecia a tradição daquele povo que filhos banidos de todas as tribos e que os filhos de Qumrum que estavam longe, ou aqueles que por vontade própria deixaram a comunidade, se naquele ano peregrinassem até ali, retornando a seu povo, encontrariam uma porta sempre aberta, que assim permanecia dia e noite, mas que somente era aberta nos anos de Jubileu, significando Perdão absoluto.
No primeiro dia do ano os ancião se reuniam e um deles que era escolhido, empunhava uma marreta de pedra com cabo de madeira, com a qual soltava os três trincos daquela porta, significando que indistintamente estava liberando o Perdão a todos que o necessitassem. O peregrino que entrasse por ela estava sinalizando à comunidade a sua reconciliação, seu arrependimento e recebia o perdão por qualquer falta com a comunidade.
Os banidos e rejeitados, os filhos Abraão, de qualquer tribo, que estivessem errantes e perdidos no mundo, teriam a oportunidade de reintegrar-se em Qumrum e, por terem recebido o arrependimento e o perdão de erros, passavam a ser assistidos por todos, zelosamente, com o mesmo respeito.
Eram poucos os filhos que haviam deixado ou sido expulsos da comunidade, fato que apenas ocorria quando, em gesto egoísta, subtraía bens da comunidade para gozo pessoal, fosse alimento ou vestimenta ou ainda qualquer bem comum. Sempre as famílias que tinham algum filho afastado aguardavam ansiosamente o seu arrependimento e seu retorno.
Naquele ano foi Elcana o ancião escolhido que abrira a porta do perdão e quando os filhos de Qumrum retornavam era ele quem os recepcionava dando, a cada um, o novo par de sandálias, um anel característico de Qumrum e um manto novo, contou-lhe uma senhora que ansiava pela volta de um filho.
Quando Airam soube desta tradição correu ao templo com o objetivo de devolver os bens recebidos das mãos de Elcana por ocasião de sua chegada em Qumrum. Dirigindo-se a outro ancião, o mesmo dos pães da vigília, explicou que teve conhecimento da tradição e que ao chegar em Qumrum recebeu das mãos do ancião Elcana aqueles bens, mas que ele não era um filho de Qumrum que estivesse retornando em ano de Jubileu... O ancião interrompeu bruscamente a explicação do mago e com objetividade sentenciou:
-Filho, Elcana nunca deu nada a ninguém, nem tampouco Qumrum o dá a filhos ou a estranhos. Tudo provem de Deus e se naquele momento Ele quis te dar sandálias, o anel e o manto, seja utilizando a consciência ou o engano do embaixador, que temos nós com isso? Seja agradecido a Teu provedor e faze bom uso de teus bens. Encerrou o ancião, laconicamente, em definitivo, sem dar chance de qualquer argumento do mago, retirando-se em seguida.
-Obrigado, gritou Airam – Serei filho por adoção! Completou. O idoso voltou-se, acenou sorrindo para o mago e, em passos rápidos, ingressou no labirinto do templo. A hospitalidade era a marca característica daquele povo.
Ainda faltavam dois dias para a festa de Pentecostes. Muitas pessoas chegavam a Qumrum e a todos a comunidade recebia com a mesma hospitalidade mas apenas aos filhos de Qumrum eram dados o manto, as sandálias e o anel.
Naquela festa a comunidade fazia a colheita final do trigo e juntavam-se a palha para forragem dos animais e a que restava no campo era ajuntada e queimada, produzindo um grande fogo.
Naquele fogo, os filhos de Qumrum que haviam retornado para os seus, que recebiam as novas vestimentas, guardavam as velhas roupas que eram, então, queimadas e suas cinzas misturadas à terra. Era um costume de Qumrum que nos anos de Perdão simbolizava para seus filhos arrependidos que as vestes do mundo por onde passaram estavam acabadas, era um gesto de perdão absoluto, incondicional, pura expressão de amor humano e divino. Chamavam a isso “lava-vestes”, uma lavagem no fogo onde nada que fosse frágil subsistiria.
Airam não hesitou. Sentindo-se filho adotivo, apressou-se em buscar o velho manto com que chegou, a velha túnica e sandálias, guardando apenas o manto que lhe deu o Salvador, para precipitar tudo aquilo na grande fogueira da Festa das Semanas. Com a força daquela linguagem dos símbolos da tradição, onde os gestos falavam em harmonia com a criação, Airam queria também manifestar a grande honra de ter sido considerado filho adotivo de Qumrum e homenagear o embaixador desaparecido, por cujas mãos a Providência o recebera, o querido ancião Elcana que lhe despertou para tantas coisas novas e importantes, com tanto respeito e consideração.
O mago admirava a beleza que envolvia aqueles costumes, com sua sensibilidade retirava grande prazer dos exercícios da razão no estabelecimento de analogias com o que experimentava grandes conhecimentos da natureza humana e de si mesmo. Por esses exercícios a concepção do mundo, da vida, da História e de si mesmo aproximava-se de uma grande unidade e tantas outras coisas entendia intelectualmente.
Entretanto, o pragmatismo que aprendera na vida de jovem no observatório do distante oriente, o fazia questionar sempre sobre a utilidade daquilo tudo, Airam não sentia palpável, na prática, os resultados das experiências com símbolos.
-São como espelhos, disse-lhe um instrutor algum dia, -Nada possuem por si mesmos mas são o que neles projetamos de nós mesmos. Ou, por outros, ainda: –São realidades, são eficazes em produzir realidade.
Mas, de real mesmo o mago nada experimentara. Compreendia, se emocionava, comunicava-se com eles no nível intelectual, mas seu pragmatismo exigia experiência mais concreta, mais visceral.
Ficava maravilhado quando observava a tez vermelha, sanguínea, o brilho nos olhos, que se apresentavam nos homens revestidos do Poder do Alto. Era manifestação visceral, patente, efeito perceptível cuja causa estava na Fé, era o Natural modificado pelo Sobrenatural. O organismo, as vísceras mesmas, testificando sua dependência do Espírito. Por isso os milagres de cura o maravilhavam, era a assinatura de Deus sob um ato de Deus, acreditava.
Após as orações no templo, ao erguer os olhos que manteve fechados todo o tempo em que ali esteve, Airam notou pela primeira vez, esculpida nas pedras da parede de fundo, em grandes letras em Aramaico uma citação do texto Sagrado dado pelo Senhor ao chamado profeta do Messias:
Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? Ou se engrandecerá a serra contra o que a maneja? Como se a vara movesse o que a levanta, ou o bordão levantasse aquele que não é pau!”.
Pelo que o Senhor Deus dos exércitos fará definhar os que entre eles são gordos, e debaixo da sua glória ateará um incêndio, como incêndio de fogo.
A Luz de Israel virá a ser um fogo e o seu Santo uma labareda, que num só dia abrasará e consumirá os seus espinheiros e as suas sarças.
Também consumirá a glória da sua floresta, e do seu campo fértil, desde a alma até o corpo; e será como quando um doente vai definhando.
E o resto das árvores da sua floresta será tão pouco que um menino as poderá contar.”ש
Naquela noite Airam estava agitado, com a perspectiva da Festa das Semanas que aconteceria daí a dois dias. A cerimônia da queima das vestes, o lava-vestes, havia findado e todos se recolhiam para o descanso. Ao chegar em seu aposento, sob a luz da lamparina, o mago verificou que seu vizinho também se recolhia e lembrou que não o havia visto na celebração. Voltou-se para cumprimenta-lo, observando sua fisionomia com mais atenção.
Algum traço ainda não discernido pelo mago trazia a sensação de que já o conhecia. Observou detendo-se com mais atenção e surpreso encontrou muita semelhança, sob aquela aparência de zelote, com o soldado romano que ambicionou as pedras preciosas em Jerusalém.
Olhou-o mais uma vez e cumprimentou-o, recebendo uma resposta com nítido sotaque do Lácio. As defesas de Airam se mobilizaram e seu interior manteve-se em prontidão. Se raspasse aquela barba de zelote e o revestisse com um capacete e uma armadura de centurião, aquele homem era, certamente, o soldado ganancioso que conhecera, concluiu.
O vizinho de aposento entrou rapidamente, fechando a porta enquanto Airam lentamente se recolhia analisando as possíveis relações daquele soldado com Qumrum, se fosse realmente a mesma pessoa...A placa com a inscrição INRI e outras lembranças acorreram, relativas ao soldado romano cuja fisionomia o vizinho acabara de lhe rememorar.
Antes de fechar a porta um ancião aproximou-se solicitando a atenção do mago que o convidou a entrar. Já sentado observou atentamente o recinto detendo-se mais na observação da cruz que o mago traçara na parede de pedra do quarto. Depois, dirigindo-se ao hospede, pediu-lhe especial atenção às informações que trazia.
-Temos mantido reservado aos mais velhos de Qumrum o conhecimento desses fatos que vou relatar. Peço que mantenhas o mesmo comportamento discreto que sustentamos, custe o que custar. Solicitou o ancião enquanto pesquisava as reações do mago para prosseguir:
-Já há alguns anos que nossa tradição e cultura vem sofrendo danos da ação inescrupulosa de pessoas que visam nos apagar da História. Houve época em que os rolos que conservam nossa tradição, eram danificados sistematicamente. Objetos de nossa arte, que ilustravam para os estudantes pontos importantes sobre a prática terapêutica e conhecimentos que recebemos, eram quebrados ou fraudados com o objetivo de induzir enganos e impedir a continuidade da tradição. Isto nos obriga a manter escondidos muitos daqueles bens em cavernas nas escarpas. Possuímos uma das maiores bibliotecas da Palestina, tu sabes.
-Aqui procuramos preservar tudo, tudo o que é dádiva do Senhor para seu povo, para que sempre, até a consumação dos séculos, nossos jovens compreendam e tenham a segurança de que Deus nos ama e nos ensina por seus Profetas. E não somente os jovens hebreus, mas os jovens de todas as Nações saibam e confiem: - Deus me ama! E com esta segurança possam explorar todos os seus potenciais com que o Criador nos dotou.
-Isto porque o Senhor revelou um dia por um Profeta: - Meu povo sofre, porque lhe falta conhecimento! E por outro Profeta : - Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos.
- Assim cumprimos nosso dever com os jovens e com o Senhor. O ancião tem deveres com a Sabedoria e com a instrução dos jovens e não com seu entretenimento e sua distração. Tu sabes, finalizou, a existência é apenas suficiente para realizar a plenitude da vida.
-Rolos de livros, vasos, ilustrações e objetos rituais que herdamos de nossos pais e reunimos na Palestina. Enfim, como observaste, não temos armas nem brinquedos em Qumrum, não fazemos acepção de pessoas e a todos acolhemos. Mas, recentemente, junto com as perseguições a Jesus e aos amigos que professam a Fé, vem ocorrendo em Qumrum fatos mais graves.
-Em rolos, consignamos vários livros importantes, o Manual da Disciplina, O livro dos Hinos, O Livro das Vigílias, O Registro dos Atos do Torah e muitos outros vasos de Revelação, até as Beatitudes concedidas em Qumrum lá estão consignadas e seria uma grande catástrofe perde-los, ainda que saibamos que Aquele que os Revelou bem pode faze-lo outra vez.
Desde a Páscoa eram decorridas sete semanas, quando Qumrum festejava a Messe do trigo, chamada também Pentecostes, e o ancião relatou eventos ocorridos em cada uma daquelas semanas.
- Primeiro e mais grave são os desaparecimentos. Três anciãos dos nossos estão desaparecidos, desde que saíram em missões diplomáticas, entre eles seu amigo e preceptor Elcana. São estes homens a reserva da experiência, da Cultura e Saber de Qumrum. Para todos vamos transmitindo este saber segundo a santa didática da tradição, que é viva e depende de homens vivos, e o mais grave é que houve a tentativa de envenenamento do pão e do vinho das vigílias.
-Estranhamos que na ultima vigília o Espírito não levou ninguém mais a tomar do pão e do vinho. Somente eu o fiz e, não sei porque, mas Deus o sabe, nada sofri sob a proteção do Senhor. Graças ao bom Deus não se concluiu o ato criminoso, pois, descobrimos antes, pela morte de insetos no local em que são guardados.
-Isto seria o fim de Qumrum. O livramento foi grande, pois teria morrido a tradição viva de Qumrum, com todos os que participam da vigília. Mas, com o esclarecimento de nosso conhecimento, evitando um fato tão perigoso e que nos protegeu desta forma, entendemos que esse não é o desígnio do Pai para Qumrum, nossa cultura e nosso saber. A posteridade nos conhecerá, asseverou.
O ancião relatou ainda que no passado, ante fatos semelhantes, alguns jovens e Qumrum, levando preciosos conhecimentos, deixaram a comunidade e foram viver em outras cidades judias para disseminarem nossa cultura do processo de educação espiritual e no seio de diferentes sociedades conheceram a execração, outros o suplicio e a morte, vivenciando no concreto de suas existências reais, episódios da educação espiritual que em Qumrum eram símbolos vivos da transformação humana.
-Os jovens, prosseguiu, queriam disseminar valores novos como a paz, a não violência, a caridade e o amor fraterno que vivenciaram e aprenderam aqui.
Aquele senhor referia-se à tentativa de alguns em desenvolver Qumrum, seus costumes e seus hábitos no seio da Palestina e, se por um lado homens perversos buscavam a destruição cultural e espiritual daquela cidade, por outro os jovens de Qumrum lançariam para toda a humanidade, definitivamente para a História, e nada mais se oporia à vontade de Deus, para que os homens realizassem a plenitude de tudo para que foram criados nos propósitos de Deus.
-Mas, prosseguia o ancião, tentaram essa destruição em um único lance e não devemos deixar de buscar a nossa solução para este estado de coisas. Em seguida pediu que Airam os ajudasse na observação de certas cautelas e colaborasse na manutenção da Qumrum que tanto amavam e que poderia ser eternamente útil à humanidade, a seu tempo e até quando o Pai Celestial assim o quisesse.
-Antes da experiência fundamental somos todos ou Sumérios, ou Caldeus, ou Fenícios, ou Egípcios, ou Gregos, ou Romanos, ou Hebreus, ou Persas, ou qualquer modelo antigo. Depois somos todos um só povo, um novo e universal Homem. A História do povo hebreu é também a História da Humanidade e também a história de um homem e de todo homem.
-Todo homem um dia atravessa um mar ajudado milagrosamente no caminho para sua Liberdade. Todos errarão por um deserto rumo a uma Terra Prometida.Todo homem um dia passará pela cruz e ressuscitará pela graça de Deus, assim como o metal provado no crisol tem apurado o seu ouro. A verdade reverberará sempre em todas as esferas da existência e da vida, realizando a mesma e única unidade, Malkut é Malkut, no Universo, numa Nação, num reino, numa casa, numa família, numa pessoa, num coração...Finalizou o ancião antes de sair. – Lembre-se, a vingança a Deus pertence! Concluiu com o alerta, já no corredor.
Airam estava perplexo, a confusão instalara-se em seu coração e sua mente. Um caos quase incontrolável, misto de ódio e medo ante os juízos que se formavam. A agitação abalava todo o seu ser.
Era inaceitável e revoltava saber que o bondoso Elcana desaparecera, era odioso saber que tentam destruir homens tão pacíficos, que são capazes de conviver com seus piores inimigos com educação, em paz, com diplomacia e respeito, enquanto aqueles opositores abusando da hospitalidade, da bondade e do amor que, indistintamente, Qumrum dedicava a todos, para lá se dirigissem visando disseminar a morte, a destruição e o roubo.

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VII
A Colheita

- Se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe...” Airam não conseguia conciliar o sono e por vezes voltava à memória as palavras do jovem testemunha da vigília e buscava lembrar as palavras exatas com que o estabeleceu na imersão no Espírito. Airam o tratava pelo carinhoso nome de “haberin” – irmão, amigo.
A ciência das ultimas informações do ancião acerca das perseguições mostrava que viviam um tempo de grande instabilidade. Nas cinzas da fogueira haviam ficado as duas pedras que o pastor de Belém havia presenteado. O Urim e o Tumim permaneceram na velha sacola queimada. Airam desejou consulta-las, mas já não as possuía.
A presença daquele vizinho de aposento, suas feições do soldado romano que o perseguiu em Jerusalém, talvez mesmo fosse aquele homem o responsável pelos eventos nefastos que o ancião noticiara. O mago divagava e se agitava sobre a pele que lhe servia de leito, onde se sentia em extremo desconforto naquela noite.
Levantou-se de um salto ante o soar do tropel de cavalos no pátio do templo. Imediatamente deduziu estar acontecendo a temida invasão dos romanos, cujos cavalos já pisoteavam as pedras das alamedas do templo. O som era ensurdecedor, um rumor forte, de estrondos nunca ouvidos, como trovões que se sucediam, como a forte pressão dos ventos nos ouvidos em tempestades de areia no deserto.
Imaginou chegado o tão temido momento da destruição total de Qumrum. – Tudo o que mais temia me aconteceu! Lembrou das palavras do personagem de um antigo pergaminho hebreu, o rolo de Jó. Apressado em vestir-se, distraído pela surpresa, Airam experimentou o crescimento de imenso ódio em seu peito por aquilo tudo que suspeitava mal e as conclusões, em raciocínios rápidos, se faziam precipitadamente e se afirmavam de forma absoluta, como verdade inconteste na mente do mago persa.
A imagem do hóspede vizinho persistia. -Sim, era ele a fonte de tudo isso, acusava, era ele o autor de toda aquela traição a Qumrum, acusava, era ele mesmo aquele soldado ganancioso e irônico que pendurara a inscrição sobre a cabeça do Amado crucificado, sentenciou Airam numa explosão de ódio profundo.
Toda a História de um povo piedoso estava exposta a riscos pela ação covarde de homens gananciosos como aquele, que assassinavam inocentes e se corrompiam em subornos contra o pobre, vendiam leis em troca do atendimento de ambições imediatas, matavam profetas atendendo aos reclames da luxúria, matavam, espoliavam e despojavam os parcos recursos dos pobres, saqueavam e mantinham uma estrutura injusta sob o poder da espada, da lamina má, do outro fio da espada...Também usavam o nome de Deus para a consecução de seus perversos fins de exploração do pobre.
O vento soprava mais forte a cada momento e se estabelecera um vendaval que varria a areia seca do deserto de Judá. O vento sul, vento impetuoso, levava consigo tudo que não estivesse bem fixado. Folhas secas de palmeiras eram facilmente elevadas pelo vento e passavam no alto, sobre o templo, prancha de madeira seca e tendas de couro subiam e viajavam no espaço como telas de papiro soltas ao sabor do vento.
O ruído era aterrador. Parecia que a Terra perdia toda a sua estabilidade enquanto a superfície era varrida impiedosamente pelo vento impetuoso, que aumentava, por vezes, com mais agressividade.
O mago intumesceu. Uma forte pressão correu pelo peito em forma de um frio intenso, dos piores invernos, que subindo pelo pescoço retesava os músculos da face, paralisando o queixo num tremor de medo, de verdadeiro pavor mesmo, pânico. O coração de Airam estava gelado, pelo frio, pelo pânico e pelo ódio a que suas conclusões o impulsionaram.
Ele queria uma espada, tomando para si a vingança pelo que faziam a Qumrum, ele faria justiça pela espada, com as próprias mãos, com o mesmo fio da espada romana que se colocava a serviço do Templo e semeava a morte dos santos de todas as Nações na Palestina.
Ali não havia armas, mas lembrou-se de um suporte da lamparina do corredor que era pontiagudo bastante para cravar no peito daquele hóspede traidor. O mago lembrava-se das insistentes perguntas do ganancioso romano pedindo-lhe a pedra preciosa do Salvador, a indecente revista do cadáver do Rei dos Reis que ele fez em sua cobiça.
Estas lembranças instigavam mais o seu ódio e um desejo de vingança que só a ação aplacaria, derramando o sangue daquele brincalhão da vida, que destruía a História de um povo e o próprio povo com assassinatos covardes, tratando vidas como objetos de uso pessoal.
Airam já não se continha, os argumentos eram lógicos, a lógica era forte, o barulho ensurdecedor do vento misturava-se aos ecos das patas da cavalaria nas pedras do templo, circulavam pelo labirinto e refletia-se no paredão das fontes, alimentando o terror do coração assustado.
A morte circundava Qumrum e o mago trêmulo dirigiu-se para sair pela porta, decidido a matar e defender Qumrum. Rapidamente destravou os três trincos que a fechavam e ganhou o corredor, esbarrando em uma senhora que o surpreendeu pois, atrapalhava e impedia sua passagem e trazia o rosto coberto por um xale, deixando apenas seus olhos negros descobertos, à moda das senhoras de sua terra natal, que parecem estar, permanentemente, imersas na travessia de alguma tempestade de areia.
-Vamos, disse, da-me uma espada! Vou mostrar a estes romanos que estão lidando com verdadeiros homens. Longe estavam, na sua juventude, os ensinamentos de Melkior da retomada de seu reino pela Paz.
A mulher era pacífica, característica daquele povo e manteve-se calma, fitando o mago nos olhos. Permaneceu parada, sem qualquer gesto, mas obstruindo sua passagem. Airam irritou-se com a passividade daquela senhora e insistiu em busca da sua cumplicidade:
-Vamos, peguemos a lâmina da lamparina, vou crava-la no peito destes monstros! Falou mais uma vez Airam expressando todo o seu ódio.
-Tu és um homem forte, espiritual e pensas mesmo em matar, admites fazer isso? Perguntou a mulher chamando à consciência do mago a lembrança dos valores espirituais que para ele era, ao mesmo tempo, chamar-lhe a atenção para a importância do sacrifício.
Lembra-te de Jesus, teu amigo? Completou.
Matar ou morrer era a lei natural do coração do animal mamífero Homem, de sangue quente, em todos os tempos, desde que a Terra produziu almas viventes mediante a ordem do Criador. Mas, ali, impunha-se outra moral, de uma outra Humanidade, que recebeu o fôlego diretamente de Deus nas narinas, que se entregaria voluntariamente para a morte, para o sacrifício de abrir mão da própria defesa para não praticar a violência e insurgir-se, pacificamente, contra os ditames das leis naturais que mandavam matar.
O mago hesitou, fitou os olhos da mulher, era difícil aceitar aquele novo mandamento – Morra! – Deixemos este mundo para eles, para os violentos, que se apegam, se apaixonam cegamente pelo que vêm e vivem abraçados às aflições do mundo.
Senhora! Exclamou o persa paralisado ante a forte mulher que trazia muita semelhança com a mãe do Rei dos Reis, a quem conheceu aos pés da cruz e que lhe retirara do túmulo para sepultar o Salvador morto em Jerusalém.
Aquela senhora não possuía a silhueta da descendente do rei Davi, mas possuía sua atmosfera, sua beleza pacífica, sua nobreza, sim, um traço do Sagrado.
-Senhora, repetiu Airam, trêmulo ainda de pavor e confuso com todo aquele processo que se desencadeava em todo o seu ser.
-Senhora – repetiu - se eu não matar irei morrer, não me deixes, boa senhora, eu preciso da sua Paz, não me deixes, boa senhora, eu preciso morrer em paz, minha senhora, minha mãe! O mago desesperava.
Airam investira-se da filiação que necessitava para atravessar aquela aflição ante a novidade de suas experiências.
Uma clarineta soava um toque, que para Airam significava o anúncio do ataque romano. -Ouviste o clarim Senhora? Perguntou o mago e em silêncio a boa senhora confirmou balançando a cabeça afirmativamente.
Airam nada mais possuía para subornar, como fez outrora, amenizando o massacre de Belém. Só lhe restava entregar-se para a morte, com tremor incontrolável, foi levado pela senhora de volta a seu aposento.
Deitando-se para a morte, imaginava a entrada de um soldado que os passasse a fio de espada. Controlava as reações instintivas que irrompiam e queriam por força movimentar seus músculos, suas pernas e seus braços, e tomar seus reflexos na defesa, sair, lutar e matar ou fugir.
Os olhos de Airam agitavam-se acompanhando os pensamentos que, em rajadas de vento impetuoso, lhe acorriam numa velocidade alucinante, em raciocínios lógicos que se concluíam como verdades absolutas. Não havia dúvida. A tudo que concluía considerava inconteste. Faltava-lhe uma certa hesitação interior, faltava-lhe uma certa dúvida sobre seus sentidos e sobre si mesmo.
Mas, como duvidar de si mesmo, se seu corpo ali estava, palpável, existindo e verdadeiro? Perguntava-se.
Ele estava cansado, ofegante, não era mais possível acompanhar os pensamentos e registrar em memória aquelas conclusões. Era evidente, todos os sons indicavam, todo o contexto demonstrava. O clarim, o ataque começara, o vento era fortíssimo e não cessara em nenhum instante, o som da clarineta repetiu-se por mais duas, três e quatro vezes, contava Airam. O frio era intenso e o mago cobriu-se com a manta que dispunha no varal do aposento.
Era uma peça grande de lã vermelha. O mago embrulhou-se com a ajuda da senhora, curvou-se como um feto no útero e cobriu também a cabeça acompanhando atento aos ruídos do combate. A senhora permanecia a seu lado, sentada, assistindo a fraqueza do homem que não estava preparado para a morte.
Era muito difícil para Airam experienciar aquela entrega para a morte sem reação, sem discussão. O mago lembrou-se do suplício injusto do Salvador. Foi assim também, sofrendo, sabendo que em pouco tempo estaria morto, aquele corpo inerte e frio, sem reação, nenhum ai sequer, como o Salvador.
O combate seria rápido, sem reação, imaginava, guerreiros armados, treinados em matar, dizimariam uma comunidade de inocentes e entre eles, Airam. Morreria ali, sem luta, como um cordeiro no abatedouro, nenhum balido, inocente sobre o que haveria de ser o próximo momento.
As atenções do mago fixavam-se apenas naquele instante, ali ainda estava vivo, Deus ainda o mantinha em sua vida naquele momento, isso sim é o que tinha importância, naquele momento o Pai ainda preservava sua vida e da senhora e , ainda, em muitos outros lá fora. Seu Criador ainda os mantinha! A batalha prosseguia com seus ruídos ensurdecedores deixando um rastro de extrema destruição, mas não se ouvia um grito, não se ouvia um ai!
Aos poucos o corpo do mago aquecido pela manta, cessara de tremer, seu queixo ainda batia, não mais pelo frio, mas movido pelo pavor, para o que não havia mais solução material. Agora virá a morte, pensava, mas, por enquanto, estava vivo. O Pai ainda o preservava na existência e a presença daquela mulher forte, segura, era fonte de profundo conforto espiritual, era a fonte da coragem que ainda encontrava em si, para viver cada movimento daquela tragédia.
Airam não cessava de pedir àquela senhora que o acompanhava que não o abandonasse. Ela calmamente assistia e lhe dizia que se acalmasse, que confiasse em Deus, Dele seria a ultima sentença sobre todas as coisas, que se acalmasse que ela estaria a seu lado.
O calor do corpo de Airam aumentou e já o fazia pensar que sofria uma febre qualquer. Havia passado do frio ao calor em poucos instantes. O combate prosseguia e a morte era iminente. Estranhamente, à medida em que respirava o calor em seu peito aumentava. O mago se ocupava com aquele instante, atento a cada movimento, sentia o calor crescente, assim como a fogueira é estimulada pelo vento, o peito do mago insuflado pela respiração parecia alimentar o fogo de um braseiro de que se fazia todo o seu corpo.
O homem assustado, atento agora unicamente ao momento, abandonando a expectativa da morte no massacre que se desenrolava no exterior do templo, assistia a um verdadeiro incêndio de seu corpo. Tal como as vestes velhas que queimaram na fogueira como preparação das Festa das Semanas, Festa da Colheita, considerava Airam, um fogo ateado por Deus no âmago do seu ser, lavava suas vestes do espírito.
Era a preparação de Deus para a sua morte, pensou o mago, serei colhido pela morte que se aproxima. Airam sentia-se lavado no fogo e em purificação para sofrer a morte. – Mulher! Chamou o mago, não me abandona, prosseguiu, estou queimando, ora por mim a Deus para que me livre deste sofrimento, clamou sob a manta.
Em meio ao agitado estado de sua mente, ressoaram da memória as palavras de Elcana:
-Bebeste da fonte do Oleiro, provaste do cálice do Filho. Ou te faz Filho também ou te incendeias e rompe teu vaso.
...Este desafio de heróis não é para experiência dos fracos, não é para os que desejam vencer uma batalha, mas para o que vence todas as batalhas, tanto a pequenas quanto a grandes, com uma única arma, o Amor, apoiando seus pés na Razão e na Fé”.
Onde está minha Fé, onde está minha Razão, onde está meu Amor?
-Senhor, não permita que se rompa este vaso, faz de mim vaso novo para tua obra! Exclamou do profundo de seu coração. Ai! minha Fé, creio em Ti Senhor, receba-me como teu filho, pediu:
Onde a minha Razão? Saltava a mente do mago para regiões inusitadas.
Lembrava-se de Elcana: - “mas o caminho que escolheste exigirá de ti muita lucidez e Fé nos objetivos de tuas buscas. Não se pode confiar no que vemos e ouvimos, não se pode confiar no que pensamos, nada, nada, nada que um fenômeno possa nos trazer nos conduzirá à confirmação do que cremos.
...Quando tua segurança nos teus referenciais começar a ser abalada e todo o fenômeno que perceberes vier a confirmar apenas que a morte é iminente, poderás confiar apenas nos dons com que a Graça divina te beneficiou e aprender nos exemplos vivos dos mestres da humanidade, como vencer neste vale insólito da tua escolha.
...Bebeste da fonte do Oleiro, provaste do cálice do Filho. Ou te faz Filho também ou te incendeias e rompe teu vaso...”. Airam buscava, ardentemente, a filiação que o salvasse:
- Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos.ש Lembrou.
-Temos muitos terapeutas aqui, dos melhores que se conhecem, mas nem mesmo eles saberiam restituir a ordem a um vaso quebrado na tentativa de realização da obra do oleiro, apenas a graça de Deus poderá evitar, no ultimo momento, que teu vaso se rompa e só Deus poderá garantir que permaneças útil para a obra. É um Dom de Deus.
...Vive e deixa estas especulações de lado. Os pensamentos a nada nos levam. Quando necessitares de algum recurso da tua experiência, ou tens ou não tens na bagagem com que o Senhor te guarneceu e com a qual te cumpre viver. É certo que possuís tudo o que necessitas para viver o momento que Deus quer que vivas.
-Obrigado Senhor, por que me provestes do que necessito mais agora! Eis-me Aqui! Clamou o mago.
Airam continha-se no imediato daquele movimento, ocupava-se unicamente com cada momento, integralmente, de forma racional.
Observou que o ar mais alimentava aquele fogo novo e desconhecido. Passou a conter a respiração para não insuflar o fogo ardente e transforma-lo em algo suportável. O suor escorria pelos cabelos e pela barba sob a manta. Mantinha-se assim coberto, imaginava que um contacto brusco com o ar poderia incendiar seu corpo. Regulando a respiração e controlando o acesso de ar com a manta, o mago esvaía-se em suor e toda a sua veste já estava molhada. Era como se cada célula de seu corpo vibrasse sob a ação de uma imensa energia e atritasse com as demais células vizinhas gerando aquele calor insuportável...
Com o barulho de passos no corredor o mago descobriu o rosto. Era alta a madrugada, aguardava, a qualquer momento, a entrada ali do seu carrasco para o golpe final e sentia que devia manter-se firme, conter qualquer reação e, imitando o Salvador, entregar o Espírito nas mãos do Pai passar a orar por seus inimigos: - Perdoa-lhes porque não sabem o que fazem! Lembrou.
Airam aprendeu o Perdão terapêutico ! - Vê, onde está meu Amor? Falou para si mesmo.
Por enquanto o Pai o mantinha vivo. Airam circulou o olhar pelo aposento e não viu a bondosa senhora, que havia saído pouco antes de descobrir o rosto. Estava só, absolutamente só, o massacre prosseguia pelos jardins, pelos campos das tendas, a morte campeava em todos os recantos da aldeia.
Seus Olhos prosseguiram e fixaram-se na cruz traçada na parede de pedra. Começava para o sofrido homem, já exausto, a descoberta de uma nova ciência. A ciência da Salvação, a ciência da Redenção de tudo o que finda.
Sua mente buscava conforto, compreensão, explicação: -O Filho havia ressuscitado depois de haver sido fixado na cruz e em forma de cruz havia morrido. Ele havia bebido da torrente, do cálice do Filho, haveria de morrer como o Filho também e nutria a esperança de sobreviver também como o Filho.
Estirado sobre a pele, Airam assumiu a posição de cruz: braços abertos, pés sobrepostos, imaginava viver agora a mesma morte do crucificado e do âmago de seu ser uma certeza o invadia: - Por este sinal vencereis! Seu olhos mantinham-se na cruz. Era o signo da cruz, postura sobre a pele e na vida, que aplacaria o furor daquele incêndio interior e ele então poderia ser morto, intuía, uma vez morto na cruz, ele venceria como o Salvador ressucitado.
Airam ouviu quando a porta do aposento foi novamente aberta e alguém entrou. O mago tremia sob a manta e não se permitia deixar a postura de cruz. Permaneceu quieto, ali estava se aproximando o seu algoz, interpretou a mente confusa, para logo retomar o controle, lembrou Elcana: - Não podemos confiar no que vemos ou no que ouvimos, ..., nada que o fenômeno possa informar por nossos sentidos...Airam mantinha-se aquietado por forte compreensão.
A manta era grande mas com os braços abertos ficava com ambas as mãos descobertas assim como os pés sobrepostos. A ação do ar queimaria mais as extremidades expostas mas ele não podia abandonar o caminho que havia decidido seguir, morreria em cruz para encontrar a ressurreição. A vida assumiria novas formas que ele não conseguia imaginar em sua grande aflição mas, era Vida, não importava a forma, senão a Vida apenas. É a grande dádiva de Deus. A Vida! Seu coração clamava: A Vida!
E cada precioso momento de vida o mago celebrava com intensidade e reunia elementos que reforçavam a compreensão do por quê do Cristo ser chamado “Salvador”. O Rei dos Reis havia ensinado tudo, sem dizer apenas com palavras, mas com exemplo de vida, de experiência real, de dor real, de ação real do Sobrenatural no Natural para o seu resgate.
O Senhor havia transmitido tudo para aquele homem que viesse a viver a iminência da morte. Ele ensinou tudo, tudo, todos os procedimentos do morrer pacífico e todos os passos do caminho da vitória da Vida sobre a Morte, da vitória do amor sobre o ódio. Tudo se unificava numa imensa e definitiva vitória!
Ah! Agora em verdade sei porque Ele é meu Salvador! Não é necessário mais que eu morra Ele já morreu uma vez para que eu possa viver esta experiência, a mesma de Lazaro que Tomé tanto ansiou ter...imaginava Airam...-Airam, sai! Uma voz imperativa ressoou em seu espírito.
-Se no corpo ou fora dele...Se com corpo ou sem corpo, Deus o sabe...as palavras da testemunha da vigília acorreram da memória do mago e invadiu-lhe a consciência.
O mago deixou seu quarto, dirigindo-se ao templo, entrou pela porta central da nave, observando de ambos os lados, em seus lugares, os homens de Qumrum oravam e meditavam, mantendo seus olhos fixados nele. Nenhum só deixava de vê-lo, não havia um que olhasse o teto ou as paredes distraidamente, todos o observavam, e Airam pode sentir a presença e o forte apoio da oração de todos, intercedendo junto a Deus pela sua vitória.
Ele caminhava lentamente, passo a passo, suas mãos e seus pés suavam abundantemente e davam sinais, para quem os entendesse, por onde haviam caminhado, em todas as passagens da sua vida enquanto os de suas mãos mostravam tudo que fizera, todas as suas obras. Cada passo era como pagina de um livro de sua história, desde o remoto Oásis onde nasceu, até aquele aposento, sua primeira morada de pedra.
Era um julgamento, sem acusação, sem defesa, sem argumentos, era um argumento absoluto dos fatos, apenas fatos, que já revelam em si seus motivos e já trazem em si seus juízos. Airam queria revelar-se mais e mais. Pediu à senhora que enxugasse seus pés, após cada passo, para que tudo fosse revelado, para que um fato não se sobrepusesse a outro, o mago queria a transparência e a ordem numa revelação completa e total de todo o seu ser, totalmente a descoberto para os olhos de Deus. A senhora enxugava com uma pequena toalha, após cada passo, o suor abundante de seus pés e mãos.
Ele sentia que, a qualquer momento, se viesse a se revelar qualquer episódio grave de que fosse imputada alguma culpa, a pena seria a morte fulminante...
Caso isto ocorra, pensava estrategicamente, eu gritarei rapidamente:
-Olha o Senhor na Cruz! Pelos merecimentos Dele receberei Perdão, concluiu.
O mago caminhava lentamente e atravessou toda a nave. O ruído do tropel e do vento era ensurdecedor, mas algo os continha, não podiam tocar naqueles homens. Chegando próximo ao ancião para lavar os pés, mergulho-os n’água e logo o idoso senhor passou a enxuga-los, calmamente, enquanto os observava atentamente. Seguiu, já com os pés limpos, em direção ao ancião dos pães, pegou uma fração partida por ele, molhou-a no vinho e levou à boca. Enquanto o ouvia sussurrar a sentença: - Agora és Filho da Luz!
Airam correu os olhos pela parede de pedra ao fundo do templo, pelas belas e bem traçadas letras esculpidas com preciso cinzel:
A Luz de Israel virá a ser um fogo e o seu Santo uma labareda, que num só dia abrasará e consumirá os seus espinheiros e as suas sarças.
Também consumirá a glória da sua floresta, e do seu campo fértil, desde a alma até o corpo; e será como quando um doente vai definhando.
E o resto das árvores da sua floresta será tão pouco que um menino as poderá contar”
Erguendo as mãos o mago pronunciou baixinho:
- Senhor, desde minha alma até meu corpo, da glória de minha floresta restam tão poucas árvores que o menino da manjedoura as pode contar...
A senhora que o acompanhava suspirou cansada, a manhã já se aproximava e por toda a noite ela o havia assistido acompanhando àquele processo, pacientemente, ali sentada em oração, assistindo e atendendo a seus pedidos, confirmando algumas observações, lembrando-lhe de outras coisas importantes, enfim, colaborando para a vitória. Uma perfeita ajudadora. Ela não se ocupava mais com o tema da morte.
A bondosa senhora já havia demonstrado ser dona de imensa confiança em Deus e na Vida que Ele nos dá e se penalizava da infantilidade e primitividade dos homens desesperados, sem fortalezas onde se abrigarem, sem uma rocha onde lançarem alicerces para se suportarem no momento dos vendavais íntimos.
-Senhora, chamou Airam, sabes o por quê de tudo isso? Eu já encontrei o Cristo em Jerusalém, eu o vi e ouvi, Ele mesmo me disse que sempre estive com Ele, chorava o mago com auto-piedade, perguntando, por quê o Criador nos dá a vivenciar estes horrores?
-Amigo, não basta ver o Cristo, instruiu a senhora, eu também o vi por muitos dias aqui e em muitos lugares em que o acompanhei. Sem dúvida é uma grande graça mas, vê-lo hoje, bem pode ser uma ilusão. Na loucura humana os seres humanos vêem o que querem, encontram sempre o que desejam ardentemente, então aprendemos que não se pode confiar no que se vê e no que se escuta, porque nós não vemos no que confiamos. Isto é a Fé.
- E, não basta ver Cristo, prosseguiu, o mal o vê constantemente, quando Ele lhe destrói as obras, mas, deves investir-se do Cristo e viver o Cristo, no cotidiano, irradiando a luz de Cristo, o fogo que ele trouxe para incendiar todas as coisas. Tu és um incendiado de Cristo, tu és um Kyrio, um amante da vida e do amor e quando as tempestades da tua ousadia cessarem e encontrares a Paz, alguém te chamará de “eleito”. Se Deus quiser, completou a mulher no condicional.
-Por enquanto sentes o pavor, porque te apegas às obras anteriores que estão sendo destruídas pelo Senhor. Agradeça, mesmo que não compreendas. Dê Gloria a Deus mesmo que te doa! É glorificando a Deus que Homens como Abraão recebem fortalecimento para perseverarem, dezenas e dezenas de anos, na esperança de uma promessa de Deus que por fim se realiza. Completou a ajudadora.
A Luz da manhã chegou ao aposento, “Cum lucem salute” bradou o mago, a frase correu por sua mente, “com a luz a salvação” e a manhã, lentamente, aos poucos se firmava ouvindo seu louvor:
Sei que é de manhã
Manhã tão esperada, é de manhã
Um Raio corta o Céu, é de manhã
Eu já nem lembro a noite, é de manhã
Nada, nada que vivi
Eu não me lembro
Nada, nada, se sofri
Eu só me lembro agora
Que nunca me vi
Como me vejo agora, de manhã
Sei que é de manhã
Alguém se deu agora a conhecer
Meus olhos me mostraram de manhã
Que sempre vale a pena amar e crer
Nada, nada que vivi
Eu não me lembro
Nada, nada, se sofri
Eu só me lembro agora
Que nunca me vi
Com olhos que não choram
Como eu nunca vi
Como me vejo agora de manhã
Sei que é de manhã
O Senhor se deu agora a conhecer
A meus olhos, me mostraram de manhã
Que sempre vale a pena amanhecer.”
Deitado, com a cabeça voltada para o nascente, apoiada sobre o colo da bondosa senhora, lembrou-se de uma promessa sobre a nova Jerusalém:
Pois assim diz o Senhor: Eis que estenderei sobre ela a paz como um rio, e a glória das nações como um ribeiro que trasborda; então mamareis, ao colo vos trarão, e sobre os joelhos vos afagarão.ש
Airam imaginava um cordão de ouro, que desde o céu descia, passando pelo Sol, e percorria todo o espaço até ao topo de sua cabeça, era um cordão de luz, iluminando-o e insuflando-lhe a vida pela Graça de Deus, momento a momento, e o Senhor o sustentava em cada momento.
A manhã firmara-se, a luz era clara, irradiante e o mago estava desidratado e emagrecido com a experiência daquele processo. Levantou-se hesitante e deixando o aposento dirigiu-se ao pátio para verificar a imensa destruição. Agora só, absolutamente só. Suas pernas vacilavam, estava extremamente cansado e enfraquecido, mas, sentia-se em paz naquele amanhecer, Paz que excedia a todo o entendimento! Um novo homem nascia na cruz!


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VIII
GUARDANDO OS TESOUROS

Airam caminhava em direção ao templo, onde oficiavam a oração daquela manhã. Ele tinha o objetivo de não interromper seu trabalho na ceifa, era antevéspera do dia da Festa da Messe e tudo deveria estar pronto para o grande dia.
As canções do templo preenchiam a atmosfera da manhã e o mago estava em paz. Próximo à porta do pátio Airam já percebia os efeitos do vendaval da madrugada. Folhas de palmeiras e areia desafiavam os jovens do grupo de limpeza. Até pelo teto, folhas e pranchas de madeira quebradas e amontoadas em desordem, enquanto no campo, sobre um grupo de palmeiras o couro de uma tenda arrebatada pelo vento agora ocupava alguns jovens que tentavam resgata-la entre risos e brincadeiras.
Airam verificou que no caminho próximo à saída da cidade havia um carro romano tombado cercado por curiosos, que chamou mais sua atenção e despertou mais seu interesse. Apressou o passo e juntou-se ao grupo que mantinha animada conversa. Um senhor relatava que naquele carro viajava um comandante romano, em grande velocidade acompanhando numerosa tropa que chegava em Qumrum na madrugada e tendo a roda solta, pelo impacto em uma pedra do caminho, tombou e com todo o seu peso esmagava o corpo do militar.
A tropa apressou-se em buscar os terapeutas do templo e depois de libertarem seu comandante o levaram, ferido, de volta para o acampamento romano mais próximo, no deserto de Judá, onde tropas haviam se concentrado.
O carro era puxado por quatro cavalos que se soltaram no acidente e passaram a correr soltos pala cidade. Um era negro como a noite, outro branco como as nuvens. O terceiro amarelo dourado como as água do Mar que não tem peixes e o último castanho avermelhado como o fogo.
Os olhos um pouco cerrados, protegendo-se da luz, movidos pela paixão por cavalos desde a infância, vagavam com toda a experiência de viajante dos desertos e ao longe, sobre uma elevação, identificou, em desenfreada corrida, os quatro animais, belos, que desde a madruga desfrutavam do espaço e da liberdade daquele jugo de ferro fundido.
No ajuntamento em torno do carro, uma mulher jovem e bela passou por Airam, encostando em seu braço os seios jovens e rijos, mobilizando todo o seu corpo de forma extremamente sensual.
Airam sentiu nascer dentro de si todo o vigor da sua virilidade e uma forte atração pela bela mulher. Observou o nascimento dos desejos sem qualquer luta, admirou-a pela beleza que se apresentava por onde passasse. Cumprimentando-a gentilmente prosseguiu suas observações da colina onde os animais cavalgavam.
Um leve sorriso revelava o prazer que percorria todo o seu corpo. – Estar vivo, disse para si mesmo, e a vida é um misto de prazer e dor, fealdade e beleza e tudo, em realidade, tem seu lugar próprio na existência sob o Sol, na criação divina. Tudo tem sua dimensão e seu lugar próprio, os erros estavam no medo, nas fraudes, nos danos causados pelo velho egoísta...
Parecia que a vida estava promovendo aqueles momentos com algum objetivo. A juventude invadiu todo o seu ser ante a beleza que percebia e a imagem da liberdade de que os animais representavam, trazendo da memória os belos Ginetes persas que domava na juventude, as belas jovens com quem desejava se unir, antes da estrela guia que o trouxe.
Airam saiu de Qumrum e andou pelo deserto por um pouco, gesticulando e gritando comandos do pastoreio persa que havia muitos anos não utilizava, mas que também não se apagaram da mente, mesmo cansada como estava.
Se o ancião Elcana ali estivesse, entenderia aquele dialeto, certamente, mas nenhum outro o mago havia encontrado ainda, com aquele conhecimento e com a erudição do embaixador. Depois de alguns comandos insistentes os animais pararam e se aproximaram do mago, cruzando rapidamente o deserto que os separava. Foi surpreendente para o mago quando percebeu que junto aos quatro belos animais, um mais belo ainda, da raça dos persas, tal qual seu primeiro persa com luas brancas nas ancas, a eles se juntara como maestro para obedecerem a seus comandos, e os cinco animais o acompanharam soltos até aos jardins de Qumrum, ali permanecendo à beira de um córrego, enquanto Airam concluía seu passeio matinal.
O canto prosseguia no templo e o mago encaminhou-se para acompanhar aquela celebração da Messe. Entrou pela porta principal e buscou o lugar disponível mais próximo.
A presença de um único ancião causou estranheza ao recém-chegado. Olhou em redor todas as pessoas presentes, constatando a ausência dos principais participantes. Observou que ainda forte impressão decorrente do penoso processo da madrugada o mantinha vigilante, um grande temor de errar, como se a morte chegasse a qualquer instante, como juízo ao primeiro erro.
Aquele estado de ser era novo, novíssimo para o mago. Uma certa hesitação, uma pressão interna no cérebro e no peito, dores errantes pelo peito e pelas pernas e, o mais singular, parecia que sua coluna vertebral e a bacia estavam deslocadas, de forma que seu andar era vacilante e um pouco descontrolado, como se aquelas articulações estivessem soltas, desencaixadas.
O vizinho de aposento de Airam estava sentado, do outro lado da nave, em oposição ao mago. –Não fosse a intervenção lúcida daquela bondosa mulher aquele pobre homem poderia estar morto agora e eu, ah... nem posso imaginar, carregar uma morte injusta por minhas mãos...Pensou Airam, verificando a importância da cautela e de não se precipitar em ações para atender a juízos humanos que podem ser enganosos e ilusórios.
O livro de Hinos foi passado ao mago com a instrução para que o desenrolasse e o lesse em voz alta:
-Exultam as cidades de Judá
Por causa dos vossos juízos, Senhor.
Porque Vós, Senhor, sois o soberano de toda a Terra.
Vós sois o Altíssimo entre todos os deuses.
O Senhor ama os que detestam o mal
Ele vela pelas almas de seus servos
E os livra das mãos dos ímpios
A luz resplandece para o Justo
E a alegria é concedida ao homem de coração reto
Alegrai-vos, oh! Justos, no Senhor.
E daí Gloria ao Seu Santo Nome.
O único ancião da assembléia solicitou o livro, era um dos mais idosos de Qumrum e com voz solene entoou:
-Cantai ao Senhor um cântico novo
Porque Ele operou maravilhas
Sua mão e seu Santo braço
Lhe deram vitória
O Senhor fez conhecer a sua Salvação
Manifestou sua Justiça à face dos povos
Lembrou-se de sua bondade e sua fidelidade
...
Os confins da Terra puderam ver
A Salvação do nosso Deus
Aclamai o Senhor, povos todos da Terra
Exaltai o Seu Santo Nome
...
Elevai aclamações na presença do Senhor Rei
...
Que os rios aplaudam
Que as montanhas exultem
Em brados de alegria
Diante do Senhor que chega
Porque Ele vem para governar a Terra
Ele governará a Terra com Justiça
E os povos com equidade.ש

E, fechando o livro, a assembléia guardou silêncio.
A mente do mago estava cansada dos sofrimentos da noite insone e sob grande tensão. A visão do romano do outro lado da nave o distraía e um ímpeto de reação subia do peito de Airam. Para ele havia conspiração para aniquilarem Qumrum e muitos fatos induziam àquela conclusão que mobilizava todo o seu Ser. O instinto de defesa e proteção saltava como cavalos selvagens, exigindo a todo instante a mão firme do domador que os contivesse, uma vontade firme e inabalável. Seu cérebro queimava e ardia como uma ferida aberta.
O ancião observava Airam e seu comportamento. Buscava descobrir se o mago havia compreendido o significado dos Cantos que lhe coubera ler e conduzir, para logo depois ter a conclusão do ancião. Tudo fazia parte da Santa didática para que Airam descobrisse por si próprio o Tesouro de Qumrum e seus mistérios, deles se apropriando de forma definitiva, inalienável, direito concedido por Deus.
O romano, sentado no lado oposto da nave, chamando um outro vizinho de assento, teceu alguns comentários e ambos fitaram o mago, demoradamente e por todo o tempo este acompanhava atentamente os movimentos do possível opositor.
Aquela relação de desconfiança e suspeição instigava as reações de Airam, que se firmava no controle de suas rédeas para não sucumbir a uma explosão de ódio.
Aos poucos todos foram saindo, após o fechamento do livro pelo ancião. O mago procurou o idoso homem buscando alguma notícia dos outros anciãos de Qumrum cuja ausência percebera.
-Não te lembras, persa? Perguntou calmamente o celebrante e prosseguiu. - Foi uma noite de longa vigília e tu ainda suportas um dia de trabalho após uma noite dessas. -Aceite um conselho, prosseguiu o senhor idoso.-Por hoje deixa tudo, terás todos os dias da vida para a lide no mundo, não te preocupes. Deixa tudo por hoje, entra no descanso do Senhor e sê agradecido a Deus, pois, ainda são poucos os chamados a quem o Pai submete à provação do crisol, a Tektoniké. O ouro acrisolado é puro e a prata também.
-Prossiga senhor, por favor, não pare, disse Airam ansioso, estás revelando um grande sentido para o que tem sido meus horrores, exclamou emocionado.
O ancião pausadamente tecia o sentido da leitura dos Hinos e de algumas experiências a que Airam ainda não concebera um sentido real.
-Vê, persa. Nós, hebreus, temos dívida de gratidão para com teu povo e, pelos estudos que temos, tu és um nobre. E nosso Deus se dá a todas as Nações, não por que és um nobre, mas por que é Ele o Criador de todas.
Airam confirmou, com um balanço afirmativo do queixo, sua origem da qual já não era comum a lembrança, mas era um fato.
Prosseguiu o ancião:- Tua origem remonta a Dario e Ciro, teu ancestral, que ao assumir o poder conduzido pelas mãos do Senhor, restaurou a liberdade aos hebreus, então, cativos e reconstruiu o Templo de Jerusalém, nos libertando para retornarmos à nossa herança, nos cumulou de riquezas dedicadas ao serviço do Templo.
Enviando-nos de volta, livres para nossa terra, restaurou nossa dignidade em honra de nosso Deus. Teu povo é nosso próximo, tu és nosso próximo, contigo temos dever de amor, é mandamento de Deus, porque não és um Antíoco Epifanes, mas da tua casa és o primeiro a vir e o Senhor te trouxe em honra ao Rei do reis.
Airam limitava-se a ouvir a explanação do ancião hebreu que prosseguia:
-E parece que não sabes, mas tens um filho entre nós, dedicado ao templo já há alguns anos, que herdou de ti a nobreza, a coragem, a vivacidade e a inteligência.
O coração do mago paralisou surpreso, e apressado perguntou: - Onde está, senhor, onde está este filho de quem falas? – É criança? É jovem? Que idade tem? Ansioso por conhece-lo, Airam crivava o idoso senhor com perguntas sem que houvesse tempo para o bondoso homem responde-las, enquanto varria a própria memória.
Na mente de Airam saltou vivamente a lembrança de uma experiência reveladora e extremamente forte pela qual passou no deserto muitos anos antes, onde um embaixador divino em sonho, afirmava que nasceria um filho seu, ao qual daria a luz. Essa experiência era de difícil compreensão para o mago, pois, sendo homem como haveria de dar à luz um filho?
No entanto, se agora aquele ancião revela que há um filho seu em Qumrum, tudo poderia se aclarar.
-Qual é o nome dele? Insistiu Airam
-João, informou o ancião.
-Joshua, Jesus e João! Lembrou o mago de um trecho da profecia, revelada em sonho, sobre o nome a ser dado à criança. Onde está? Completou o mago.
-João não está em Qumrum, viajou com outros jovens para Jerusalém já há muitos dias. É exímio cavaleiro, parece ter dons especiais para dirigir caravanas.
A vontade do mago era sair imediatamente para encontrar seu filho em Jerusalém. Como membro da comunidade de Qumrum era possível que agora estivesse preso ou perseguido pelos soldados do templo ou ainda pelos romanos. O mago estava apreensivo com o destino do filho cuja existência acabara de ter notícia.
-O que estão fazendo em Jerusalém? Sabes me dizer senhor?
-O grupo subiu para os Festejos da Páscoa, para receberem o Salvador. A teu filho cabia permanecer à porta da cidade, com um cântaro na mão. Era o sinal para que indicasse aos amigos onde seria a ceia do Senhor.
-Espera, interrompeu o mago, consultando em sua memória alguns episódios quando chegou a Jerusalém nas vésperas da Páscoa e, na busca do Salvador, havia perguntado a um homem com um cântaro na mão...Airam focalizava na memória aquele momento, buscando lembrar a fisionomia do homem do cântaro, provavelmente seu filho. -Oh! Sim, olhos cheios de luz, brilhantes e intensos, realmente me chamaram a atenção! Comentou prosseguindo: -Que idade tem João? Concluiu.
-Não sei, mas deve ter a mesma idade do Senhor Jesus, é jovem, talvez um pouco mais jovem, respondeu o ancião, mas já “Filho da Luz”, realizado.
-Onde ele nasceu, tu sabes? Airam sentia crescer um imenso amor e o interesse em conhecer seu filho, filho de Qumrum.
-Nasceu aqui, algum tempo depois do massacre dos inocentes empreendido por Herodes à cidade de Belém, que sucedeu após o nascimento de Jesus.Completou o ancião.
-João, exclamou o mago, bonito nome, e finalizou o dialogo. Lembrou-se de uma jovem de Belém, de nome Fátima, uma Airamita, da casa de Airam, filho de Benjamin, que em fuga o acompanhou na saída para o Egito em busca de uma caravana, mas na terceira noite o abandonou. Ela sabia da profecia e, certamente, é a mãe de João, pensou o mago.
-E que sabes sobre sua mãe? Indagou atento às suas responsabilidades?
O ancião prosseguiu pesquisando as reações do mago a cada nova palavra: -Fátima? Perguntou e colheu nos olhos de Airam a confirmação. Continuou o senhor idoso: -Fátima chegou aqui muito sofrida. Airam reagiu imediatamente erigindo defesas.
-Mas eu a tratei com todo o zelo...O ancião o impediu de prosseguir impondo o dedo sobre seus lábios.
-Sabemos, sabemos...Quando dormias no caminho do deserto de Farã, levando-a para uma caravana, nômades das tribos que se dedicam ao tofu, ainda filhos da escuridão, a raptaram como é de seus costumes, e são muito hábeis nisto.
-Airam mostrou na expressão de seu rosto toda a indignação e manteve extrema atenção até que descobrisse como a Airamita chegara ali com seu filho João.
Prosseguiu o ancião pedindo-lhe calma: - Na fuga, quando souberam que estava grávida, abandonaram-na no deserto...Acreditamos que Deus se compadeceu dela e seu menino, que o Senhor ainda tecia em seu ventre, e do mesmo jeito que fez a Agar e nosso irmão Ismael, enviou seu Anjo, que os protegeu e alimentou até que uma caravana de um persa mercador, conhecido por “Velho”, vinda da direção do Egito, encontrou-a caída nas areias quentes.
-Quando souberam de sua gravidez e da nobreza do pai daquela criança que gerava, da tua nobreza, da nobreza de Ciro e Dario, imediatamente a assistiram. Trouxeram-na para cá, acompanharam-na no nascimento da criança e até nossos dias, periodicamente, uma caravana do teu povo aqui vem trazendo mantimentos, vestes, riquezas incontáveis e mantem integral assistência, tratando-o como seu Príncipe! E aquela mulher piedosa tem demonstrado ser verdadeira rainha!
Os olhos do mago umedeceram de lágrimas com a emoção, o peito explodia em misto de alegria, orgulho e gratidão, recebendo um imenso presente de Deus. Imediatamente Airam compreendeu a presença do ginete persa, obediente a suas ordens, que cavalgava livre com os cavalos fugitivos do carro romano.
Continuou o ancião pausadamente:- Atribuem a ti tão grande bênção, quando em tua juventude “negaste a ti mesmo, todos os dias, tomaste tua missão e seguiste o amor para a cura de teus inimigos”. E o Deus Eterno, Deus de Todas as Nações, vem guardando teus Tesouros enquanto tu guardas os Tesouros Dele.
O mago caiu de joelhos, em agradecimentos à Providência de Deus que lhe reservara tão imensa dádiva, tanta misericórdia, tanto amor para si e para sua descendência. Tanto amor do amigo Velho, todos os movimentos da Providência de Deus em seu favor.
Elevado, em profundo êxtase, o mago recolheu-se, amparado pelo ancião que o acalmava, sentido arder o coração de amor intenso.
-Assim na Terra como no Céu... Perdoai nossas dívidas assim como perdoamos nossos devedores...” sussurrou o mago.

...Um mais belo ainda, da raça dos persas...


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IX
TEKTONIKÉ
Edificação, Forças Internas e o Carpinteiro.
Pois as estrelas do céu e as suas constelações não deixarão brilhar a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz.
E visitarei sobre o mundo a sua maldade, e sobre os ímpios a sua iniqüidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos cruéis.
Farei que os homens sejam mais raros do que o ouro puro, sim mais raros do que o ouro fino de Ofir.
Pelo que farei estremecer o céu, e a terra se movera do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos exércitos, e por causa do dia da sua ardente ira.”ש
As experiências vivenciadas por Airam, a vigília atenta exigida na luta, que considerava pela sobrevivência, ante a violência daqueles sentimentos de morte iminente, abateram seu físico como se o fogo ardente houvesse queimado toda a gordura de seu corpo.
-... Pelo que o Senhor Deus dos exércitos fará definhar os que entre eles são gordos, e debaixo da sua glória ateará um incêndio, como incêndio de fogo.
A Luz de Israel virá a ser um fogo e o seu Santo uma labareda, que num só dia abrasará e consumirá os seus espinheiros e as suas sarças...” ש. Lembrou-lhe o Espírito.
Entretanto, por força da necessidade que era atendida pela Providência de Deus, todo o seu ser deveria estar mobilizado para perceber todas as oportunidades de encontrar respostas a suas perguntas sobre aquele processo. Maravilhava-se com a cultura e os hábitos dos hebreus, tanto quanto se admirava com os gregos, pelo fato de encontrar naquelas culturas registros precisos, em ensinamentos, alegorias, em mitos e na História mesmo, as experiências significativas, das melhores pessoas daqueles povos, consigo mesmas e com Deus, e que sintetizavam a experiência de todo homem.
Encontrar na História as mesmas experiências humanas, iguais ou similares, pelas quais passava, trazia-lhe profundo sentimento de gratidão e elevava sua alma ao clímax das grandes e profundas descobertas, a emoções intensas, quando resgatava sua identidade humana e o sentimento de semelhança, igualdade e solidariedade humanas.
Para quem não possuísse a vivência visceral daquelas descobertas, aqueles conhecimentos tinham o sabor de alegorias ou de mito e traziam belezas poéticas ou curiosas excentricidades.
Mas, para aqueles cujas vidas haviam sido agraciadas pelo Dom de Deus, com experiências culminantes, ainda que singulares ou assustadoras em suas formas e aparências, aqueles registros assumiam a autoridade de uma realidade cientifica, com uma linguagem denotativa, uma verdade indiscutível, uma certeza cândida, que podia ser consignada em um “Manual Científico” como de qualquer ciência ou técnica, uma coletânea de inferências que conduz o estudante por uma encadeamento lógico “Se-Então-Senão”, até a realização final do fluxo daquele processo.
Ao amanhecer, antes do nascer do sol, Airam caminhava até a praia, do Mar sem peixes, mais próxima a Qumrum. Depois, já com o sol iluminando, acompanhava um ancião até às grutas onde mantinham rolos de Escrituras guardados e que recebiam novas anotações dos escribas do Templo. Ali o mago passava as manhãs sob instruções preciosas da arte de viver, do viver pacífico do povo de Qumrum.
Logo descobriu, no convívio com aquela comunidade, que aquela experiência singular porque passava possuía o seu “Manual dos Reis – Atos de Edificação”. Derivava de um termo grego TEKTONIKÉA “Arte do Carpinteiro ou do Marceneiro”, que também possuía uma segunda e significava definição: “A Arte de Construir Edifícios”. Mas, era uma terceira e mais ampla acepção que viria a completar-lhe integral significado para a vida naquela cidade de homens ousados, estudiosos e experimentados.
A TECKTONIKÉ em sua terceira acepção é o “Estudo das deformações da crosta terrestre devidas às forças internas que sobre ela se exerceram”.
Tudo consignado em um pequeno manual, incluso no grande repositório chamado “Manual do Templo” onde precisas instruções indicavam como construir, purificar e consagrar a Templos. E o principal deles, O Homem.
O Universo: um templo para a Luz e a Energia; A Terra: um templo para a Existência e a Vida; A Palestina: um templo para a História do Homem; Qumrum: um templo para o Conhecimento do Homem; O Homem: um templo para o Espírito de Deus. Tudo edificado por Deus, sendo a Vida a Luz dos Homens”. Assim estava escrito no parágrafo de abertura do primeiro rolo.
Estes conhecimentos eram poderosamente guardados, com todo o zelo dos sábios de Qumrum e somente aos estudantes profundamente vocacionados e motivados a empreenderem suas experiências e que evidenciavam a consciência de uma irrestrita dependência de Deus, somente a eles, estes conhecimentos eram transferidos, submetidos a uma sábia didática. Não havia acaso, os riscos da morte ou da loucura seriam imensos a quem tentasse empreender por si mesmos, confiando nos recursos humanos, a exploração dos labirintos dos templos da Tektoniké, os quais eram mantidos guardados pelo mesmo Qrubim posto pelo Criador às portas do Éden.
Os chamados “Filhos da Luz” dominavam a arte da TEKTONIKÉ humana e isto explicava a Airam o segredo da Paz que viviam, expressavam e disseminavam.
- “Todo outeiro será abatido, todo o vale será preenchido, preparando os caminhos do Senhor”, dizia uma profecia sobre a preparação da vinda do Messias, utilizando uma analogia da Tektoniké.
Do profundo abismo clamo ao Senhor!”, o hino comparava a condição humana em que o cantor orante se encontrava.
No Senhor há uma Rocha Eterna” ensinava outra comparação preciosa, todas utilizando os termos da arte da Tektoniké. Em outras comparações valiosas aos edificadores, ensinou o Senhor, “Um homem edificou sua casa sobre a Rocha, veio a tempestade e ela subsistiu...”.
E, por fim, o Divino Carpinteiro, que investiu o sacerdócio a um de seus discípulos de nome Simão, enquanto o renomeava para Cefas, que quer dizer Pedra, quando revelou: ”Pedro tu és a Pedra e sobre ti edificarei minha Igreja”, Jesus Cristo, supliciado em um objeto de carpintaria dos mais simples, duas traves, e que entre todos foi para Ele o mais próximo: A Cruz.
Tudo se constituía em uma Linguagem sábia, comprometida com a instrução, com o conhecimento fundamental para o homem atingir a plenitude da maturidade querida de Deus, encarnando a Sabedoria. Havia uma Sagrada Didática e todas aquelas experiências tinham um objetivo, um fim bem definido por Deus e que se resumia na Construção do Homem, a Edificação do Ser Humano. O Edifício da Pessoa Humana, seguindo os processos da “Arte de Construir Edifícios”, a arte da Tektoniké.
Porque diz a Escritura, e por diversas palavras faz comparações, que tudo será testado pelo fogo, quando toda a palha se queimará assim como tudo que não for sólido e resistente e, se da obra provada pelo fogo algo subsistir aquele homem viverá. Senão, poderá ser salvo mas, salvo assim como pelo fogo.
Tudo se realizava conforme o que o Senhor havia revelado pelos profetas: - “E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O Senhor é meu Deus.”ה
E mais:
-Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.
E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.
E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem decidirá segundo o ouvir dos seus ouvidos”ל
Jesus Cristo, o Mestre dos mestre nesta arte, era também chamado de Carpinteiro, de Marceneiro, porque dominava a Arte dos Carpinteiros e Marceneiros, dominava a Tektoniké. Foi o que edificou o Templo em definitivo, o purificou e restaurou a Honra, para nele habitar o Espírito Santo, a Luz nos Homens, com os Homens, para Deus e Homens.
-Vim lançar fogo à terra; e que mais quero, se já está aceso? Revelou Jesus Cristo publicamente.
A promessa deste conhecimento era imensa: Completa a preparação do CAMINHO o Messias chegará e reinará eternamente! Ensinou o ancião.
- Aleluia! Bradou Airam, à Vitória do Messias!
Eram belas as analogias tectônicas encontradas nas Escrituras: Vales Verdejantes, Altos Montes, Planícies e Caminhos Planos, Profundos Abismos, Fogo Ardente, Rocha Eterna, entre muitas outras, mas, nenhuma figura mais forte e verdadeira que as mais recentemente Reveladas, não com alegorias, não com um mito, mas com realização real e concreta da Vida na Existência. Nenhuma foi mais forte, mais bela, mais pujante, mais arrebatadora e que se refere, diretamente, à natureza humana completa, madura e consumada, realizada pelo Carpinteiro no “Monte do Crânio”, a porta do acesso definitivo, construída com duas traves no “Monte da Caveira”, a Esperança dada, de graça, no “Gólgota”.
Havia um vívido sentimento de que tudo aquilo seria importante para a posteridade e que muitas anotações registradas por dedicados notários e escribas copistas, viriam a contribuir para a sobrevivência dos valores, princípios, conceitos, experiências, revelações, enfim, a Fé e a Piedade daquele povo simples, sábio e poderoso, que se disponibilizava a Deus, para ensinar à Humanidade como se entregar ao Espírito para realizar o poder de serem feitos filhos de Deus e o mais importante compromisso do Homem, guardar a Palavra de Deus.
Dias se passaram da Festa da Messe, a Colheita, da qual Airam não se sentiu um trabalhador, mas sim o Trigo. O Senhor o havia colhido, deitado ao solo, o Mago havia morrido, passava pelas fermentações e, tal como o trigo, iria germinar e frutificar e produzir a trinta, sessenta e cem para um, passando então a viver também como ressurreto. Era esta a promessa, era este o dever.
Contavam os amigos de Jesus que alguns Gregos, os pais da Filosofia, manifestaram interesse em conhece-Lo. Naquele momento sua resposta foi uma das mais belas comparações, disse:
-É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o Teu Nome.”
Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei”. Testemunhou um discípulo.
Airam entendeu que a Filosofia conduz um homem até a sua maturidade, mas a vida espiritual exigia mais, o grão maduro deveria ser submetido à ação das forças interiores, à Tektoniké que Deus quer para a multiplicação dos frutos. Cumpria morrer e nascer de novo para a multiplicação.
Por enquanto ocupava-se em morrer e germinar. Lutava para não erigir defesas, somente admitia um medo: O de ter medo!
Na Tektoniké aprendia a lidar com as forças do interior que moldavam as formas do seu ser e do seu viver. Aprendia a acompanhar seus movimentos sísmicos, assistia a modelagem de seus traços singulares com a lava incandescente que jorrava de seus profundos vulcões. Vivenciava o processo que fundia e moldava o ouro para um vaso nobre. Sempre ajudado pela Luz, sempre ajudado por Deus que já havia prometido aos Homens: “...Farei que os homens sejam mais raros do que o ouro puro, sim mais raros do que o ouro fino de Ofir”.
Assim acreditava, teria novo nascimento, assim edificava seu ser, sua nação e contribuía para o novo mundo da nova Criação da Tektoniké do Senhor.
Como um marceneiro, dominava a matéria prima da sua natureza dada por Deus, como madeira depois de seca, imprimia seus traços, dava seu talhe, em seu madeiro esculpia a cruz, onde entregava seu espírito que depois, confiava, receberia de volta. Vivenciando tudo em seu próprio corpo, em suas vísceras.
Em tudo estava contido um renascimento místico, advindo da sua Fé inabalável em Deus e em seu Ser por Ele criado. Seu corpo estava leve, ágil, fácil de se deslocar. Por vezes uma pressão interna a seu cérebro fazia-lhe pressionar os vasos sanguíneos do pescoço, buscando aumentar a pressão sanguínea no cérebro premido, como um início de enforcamento, leve e suave, gesto que fazia acompanhar por um aumento da respiração que lhe trazia um grande alívio e aplacava um pouco a ação do fogo, com extremo cuidado para não extinguir o Espírito, tudo fazia com extrema atenção.
Tudo isto era novidade para o mago que, por fim, adotou como indumentária uma tira de tecido envolvendo o pescoço e mantendo regular uma certa pressão. Era a industria humana, inspirada por Deus, concorrendo para a conclusão da obra iniciada na Natureza. Isto aliviava a tensão causada por aquelas novas percepções. Era uma solução engenhosa e criativa, que foi adotada pela comunidade daquela cidade que possuía a fama de exímia terapeuta. Airam a chamava de “hrvat”, lembrando das faixas usadas em sua terra natal.
Poucas pessoas as usavam, apenas aquelas que se encontravam naquela fase de suas experiências, mas todos um dia a usaram ou usariam no futuro. Aquela faixa no pescoço tornou-se depois um importante sinal para os membros daquela comunidade que identificavam, por intermédio delas: os “renascidos”, os “incendiados” ou “batizados”, que estavam “em processo” e deveriam receber de todos um carinho e atenções especiais naquela fase da recuperação de seus desgastes.
Algum tempo depois das experiências do mago, que passou por aquele processo três semelhantes vezes, a comunidade adotou cores diferentes para designar as três fases do que chamavam “Realização”.
Os que passavam pela primeira vez recebiam “hrvat” azul ou verde e eram considerados “Renascidos”, porque passaram da morte para a vida, da escuridão para a luz.
Na segunda fase recebiam “hrvat” vermelha e os chamavam “Incendiados”, “Kyrios” ou “Filhos da Luz”, quando experimentavam um fogo ardente que os purificava e, depois da terceira fase, quando consideravam a Realização completa, a renovação completa, lavados naquele fogo, eram chamados “Puros” ou “Escolhidos” e recebiam “hrvat” branca.
Eles não faziam acepção de pessoas e nem eram sectaristas, mas como hebreus, em sua maioria extremamente austeros, acreditavam que Deus se dava a quem Ele quisesse em qualquer Nação que Ele desejasse. Para Aquele que disse “...amei Jacó e aborreci Esaú...ז, não era o merecimento do esperto e artimanhoso trapalhão ou de seu perdulário irmão, não, o critério não era humano e a nenhum homem foi dado saber nem mesmo se há critério. Somente o Pai, que guarda o manancial infinito para Si, unicamente, a Seu tempo, quando Lhe aprouver, faz a dispensação.
O mago embevecia-se com a beleza da comunidade no templo e na vigília quando se fazia na Torre, ao sabor do vento. Desde jovens até idosos que estivessem na travessia do processo, com suas “hrvat” coloridas, participando da ceia do Corpo e Sangue, cujo momento de toma-los já aprendera: Em ordem, cada um a seu tempo, quando de suas experiências singulares, únicas e solitárias, sincrônicas com a Tektoniké de seu ser. O Espírito os conduzia e instruía.
Hinos preciosos, derramavam instruções e entre eles, um que mais arrebatava seus sentimentos, tributava a Glória a Deus:
Todos esperam de ti que lhes dês o sustento a seu tempo.
Tu lho dás, e eles o recolhem; abres a tua mão, e eles se fartam de bens.
Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o seu pó.
Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra.
Permaneça para sempre a glória do Senhor; regozije-se o Senhor nas suas obras”.ם
O trabalho que as circunstâncias exigiam de Airam era o de observação permanente a novos estados de ser, que traziam à sua consciência elementos sempre novos. Por vezes a exaltação da sensibilidade e a percepção em uma nova profundidade do ser, revelavam uma integração crescente entre os processos interiores e os exteriores da sua existência. Era a Vida que aflorava na Existência, era Luz resplandecendo na Treva. Seu trabalho era passar pela transformação da Tektoniké que o Senhor imprimia, receber a Luz que chegava e não entristecê-la para que permanecesse.
Ele descobria mais, a cada experiência, a conexão íntima que Deus estabelece entre os acontecimentos da Existência e as Palavras da Vida. Uma Existência atenta à Palavra de Deus conforma-se à Vida.
Era uma grande Unidade, onde a existência no fenômeno que se desenrolava no espaço e tempo exteriores fossem, em verdade, uma expressão, uma linguagem de expressão da realidade interior, que ele experimentava aflorar em sua consciência, em seu corpo, em seu ser, algo que emergia do profundo âmago do seu ser. Airam ingressava no Conhecimento do Espírito.
O sincronismo entre os movimentos exteriores e interiores era completo, os acontecimentos e a Palavra de Deus, então, são intimamente conexos, uma centelha da Onisciência de Deus, que assustava e expunha o aprendiz a riscos perigosíssimos, que assim mesmo devia obedecê-la, ainda que com liberdade mas, dificilmente, um estudante arriscaria outra alternativa senão a da Vontade do Senhor revelada nos acontecimentos.
Alguma escolha poderia implicar na morte, mas esta não era uma pena em função do juízo, bom ou mau, sobre aquela determinada preferência, mas decorrência do caráter natural dela e suas implicações. São leis naturais, caracteres inerentes à realidade.
Entretanto, os que iam à ceia não eram autômatos, cada um a seu tempo, tomava o Corpo e o Sangue do Senhor com consciência de seus processos e se o quisesse pois, em tudo havia liberdade com responsabilidade.
Naquela integração participavam pensamentos, intuições, sonhos, conhecimentos, sentimentos, sensações, sons, cores, lembranças e demais apreensões da realidade, tanto interiores quanto exteriores, e as novidades da Providência, as Palavras e Revelações, sim, em tudo intimamente conexos.
Exceto Profecias e Promessas Reveladas por Deus, os eventos seriam surpreendentes a quem almejasse algo, previamente, pois, faziam com que os rumos esperados fossem modificados, levando ao aprendiz a compreensão de que deveria seguir, passo a passo, o movimento da vida que se apresentava a cada momento e não tentar prevê-la ou molda-la de acordo com seus próprios e pessoais desejos e interesses.
A vida emergia no ser tal qual Deus a quer, aflorava na existência e se apresentava como um fluxo livre e espontâneo, como resultado do todo e não como algo pessoal. As pessoas realizadas tinham a Torah, a Lei, gravada no coração. O que merecia toda a confiança para o homem lançar-se a um ato, sem medo de errar!
Era o todo se refletindo na parte, não era algo pessoal. A impessoalidade dos movimentos conduzia o estudante ao auto-abandono, ao auto-esquecimento, quando então, realmente, experimentava os raríssimos sentimentos de felicidade, de alegria e de êxtase.
- “Farei que os homens sejam mais raros do que o ouro puro, sim mais raros do que o ouro fino de Ofir”. Disse o Senhor.
Forte, impressionante e ao mesmo tempo tão fugaz, tão delicado, que um aprendiz ao aperceber-se naquele estado, como um observador externo a ele, fugia, entristecia, dando lugar às pesadas apreensões do concreto, do medo, das lembranças da necessidade de sobreviver. Tinha o sabor de uma morte. Quando o abandonava O Sagrado, sobrevinha o Homem. Airam sabia que necessitava fazer-se Um com Ele, mas não dependia de si, mas da Graça d’Ele se dar: do Senhor era a provisão do cemento que unificaria, do Oleiro era a formula da amálgama e Airam, paciente, esperava.
Aquilo tudo era o fruto misterioso da Tektoniké em Qumrum, cedido entre dores e sofrimentos para o engrandecimento da consciência do estudante e a realização de sua filiação divina, que trazia de volta a alegria verdadeira. Mas, por quê assim se fazia, por meios tão aterradores? Perguntava-se o mago, por vezes atônito.
Os motivos, a razão daqueles atos estava também externa, fora do alcance humano, fora do âmbito possível das cogitações de sua consciência. Humildemente o mago passou a se considerar uma parte, uma fração do todo, um membro de um corpo que o instruía.
Compreendeu por analogias, por comparações, por parábolas, que tal qual o frutificar das arvores era algo inerente à natureza delas mesmas, existentes conforme as espécies criadas por Deus, assim também aquela consciência nascente lhe era inerente, necessária, naturalmente existente e criada por Deus para a espécie humana que, em se realizando, na plenitude, na maturidade do ser, como Deus nos criou e agora Resgatava, aparecia, se revelava, como algo novo de nós mesmos para ser aprendido, ser conhecido e vivenciado na Paz.
Contavam que ao curar um cego, o Senhor primeiro perguntou-lhe o que via, ao que ele respondeu: - “Estou vendo os homens; porque como árvores os vejo andando”. O Senhor, então, ungiu seus olhos mais uma vez e ele passou a ver perfeitamente! Foi uma cura maravilhosa assim como revelação da percepção do processo visto por um aprendiz que passa da cegueira e escuridão da ignorância para a Luz da consciência a que Deus o traz.
-Jesus Cristo revelou e realizou, em definitivo, o que é a plenitude da maturidade para o Homem, pagou o preço da Justiça por todos os homens, para restaurar-nos a Honra e para que viéssemos a merecer este Dom da Graça de Deus, para vir habitar o Espírito, que exige vasos de Honra!
-E depois que foi para onde não o podiam seguir os seus discípulos, não nos deixou sós, mas enviou a Luz, O Espírito Santo, O Ajudador, O Consolador, O Advogado, O Guia, O Paráclito, com Seu Sopro, Seu Pneuma, Seu Espírito, que derramou sobre toda a carne, o revestimento de Poder do Alto prometido pelo Pai através dos Profetas Joel, Isaias e outros, para habitar no Homem e no Homem realizar aquela mesma Luz. - O Fogo que ateou a todas as coisas, ensinou o ancião.
-O que acontecia com Airam, acontece a todo homem, cada um a seu tempo, com a ajuda de Deus, Misericordiosíssimo e Sapientíssimo Deus, concluiu o instrutor. E entoando um hino, encerrou a convivência daquela manhã:

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COTIDIANO NO REINO
Airam caminhava com passos lentos pelas dependências de Qumrum, atento a todas as instruções, aos novos conhecimentos que rapidamente o conduziam a campos inexplorados do seu ser, uma criatura de Deus, uma espiral infinita que se elevava para onde somente o Criador sabe. O Homem não é uma obra acabada, mas em permanente edificação, momento a momento, desvendando inusitados horizontes.
Tornava a visitar alguns pontos, mas sempre acrescido de mais compreensão e de visão mais correta da realidade. Algumas experiências se diferenciavam mais e outras se unificavam da mesma forma.
Cada dia guardava sua prova onde o risco enfrentado era a morte. Cada dia deparava o seu mal para ser vencido. Após cada vitória a recuperação de Airam vinha das fontes de águas e da participação da ceia do Corpo e Sangue do Senhor, como membro de um corpo maior e sábio, que pulsava naquela cidade semeada no longínquo deserto de Judá e que germinava para toda a humanidade, lançando suas espigas para o futuro, depositando nos jovens todo o seu prazer.
Como grão seco, seu corpo estava desidratado pelos suores das lutas. Airam dirigiu-se às fontes, circundando a parede das Nascentes, como era chamada, dirigiu-se à quarta fonte, única que o ancião Elcana havia instruído de que poderia beber até a realização completa. Um ímpio estava morrendo e um verdadeiro Homem nascendo.
Inclinou-se em reverência a Deus e sorveu o liquido vital matando a sede e reconstituindo ao organismo o equilíbrio, hidratando-o. Os sais daquela fonte eram fortes e o teor de enxofre muito alto, fazendo exalar o odor característico daquele mineral, que inalado em excesso causava enjôo, a fonte era borbulhante, límpida e cristalina.
Ao mago já se revelava o significado daquelas quatro fontes que lhe foram apresentada e era um desafio, para sua criatividade e sua imaginação, conhecer o que havia do outro lado da parede das Nascentes.
A parede formava um circulo perfeito e a intervalos regulares, a cada quarto do circulo, brotava uma nascente e Elcana chamava a quarta fonte a do Oleiro. O mago associava aquela indicação a um texto que havia lido em um oficio logo em seus primeiros dias em Qumrum.
- “Eis, portanto, um oleiro que assasse laboriosamente a terra mole e forma diversos objetos para nosso uso, mas da mesma argila faz vasos destinados a fins nobres e outros, indiferentemente, para usos opostos. Para qual destes usos cada vaso será aplicado? O oleiro decidirá o oleiro será juiz”.א


Vasos

Para o mago aquilo significava que naquela água estava uma potência para a realização de fins nobres ou vis, dependeria da livre escolha e decisão de quem a bebesse. Ali estava a capacidade de realizar, o poder de produzir fatos, efetivamente, mas a qualidade do produto, o bem ou mal, matar ou sacrificar-se, era uma escolha do homem, ser agente ou paciente. E o Oleiro seria o Juiz.
Por aquela fonte um mito encarnava, uma alegoria se manifestava como vida e obra realizada na existência, uma figura de linguagem se concretizava na experiência cotidiana que, ao findar, podia deixar cicatrizes nas vísceras, marcas de pregos, furos de lanças, cicatrizes de coroas de espinhos.
Ao levantar-se Airam ouviu passos de um grupo que se aproximava em animada conversa. Eram cinco ou seis homens jovens que conversavam em Aramaico Siríaco, mas todos com sotaque do Lácio.
-Sois romanos? Perguntou o mago dirigindo-se ao grupo.
Todos riram e o que estava mais próximo ao mago adiantou-se e erguendo o braço direito em gesto de saudação, cumprimentou-o como a um romano: –Ave persa! E novamente riram de uma forma que Airam considerou irônica. -A arrogância dos patrícios, “rempli de soi meme”! Pensou criticamente.
A alma de Airam agitou-se, queria correr, chamar os homens de Qumrum, revelar-lhes suas suspeitas de uma evidente invasão a que tudo aquilo indicava. O carro do comandante tombado à entrada da cidade fora uma tentativa frustrada daquela invasão mas, pensava, viria, inexoravelmente...
Era o mal, considerava, são os “filhos da escuridão”, os mesmos que o Hasmonaean Alexander Jannaeus, um líder do passado, havia derrotado, unindo os valorosos hebreus das tribos de Benjamim, Rubem, Judá e todas as tribos do Sul. Era isto que necessitavam agora, união, união de todos para defenderem os “Filhos da Luz”. Airam se apegava a tudo o que houvesse na memória.
O mago sentia-se impotente ante o que considerava o mal e que percebia infiltrando-se na passiva comunidade de Qumrum, que assistia ao desaparecimento de seus principais arautos da sua espiritualidade, sua reserva moral, sem nada fazer, sem tomar sua própria defesa. O mago suspeitava de tudo.
Devia haver muitos daqueles ali, “vasos para usos opostos...aqueles eram os vasos para uso vil” pensava o mago, esquecendo-se de que a Escritura afirma que é o Oleiro quem julgará! Em se fazendo Juiz, tomava o lugar do Oleiro e o fogo logo viria a arder.
Quando se retirava, um dos membros do grupo, o mais velho, percebendo a agitação do homem com a “hrvat” vermelha, informou-lhe: -Somos hebreus com cidadania romana, nascemos em Qumrum e Machaerus, do outro lado do mar, e retornamos neste ano de Jubileu, concluiu.
Airam estava agitado e tenso, seu tom era de corda esticada, seu tonos, sentia ressurgir em seu peito a mesma apreensão, o mesmo caos em que se debatia até recobrar absoluto controle. Quando deixava o presente para seguir divagações e deduções lógicas, perdia a noção de sua real dimensão ante Deus, apresentavam-se as idéias de que novamente, ao cair do sol, os homens perversos voltariam a novas tentativas de empreenderem a destruição de Qumrum, sentimentos de pavor se insinuavam quando esmorecia a confiança em Deus. Era quando o mago perseverava:
-Senhor, sara-me e sararei, cura-me e serei curado. Não creio vos comprazer com este jogo de horrores, com essa dor...Livra-me, Senhor, concedendo-me de novo a Paz, restaura minha correta estima de Ti e de mim. Dizia em oração.
Saindo em passeios para reconciliar o coração agitado, o mago caminhava pelos jardins, aprendendo a conviver com aquele estado novo em que se encontrava.
Nele não havia dúvida quando pensava, tudo se apresentava à mente com vigor, como verdade e o obrigava a deter-se com mão de ferro. Seria terrível agir, empreender qualquer movimento pois, passado algum tempo da experiência o mago descobriria que aquelas conclusões eram sofismas, eram errôneas, frutos de uma imaginação exaltada que superestimava a si mesmo e subestimava a Deus. Não foi atento aos fermentos de sua impiedade e, então, o que havia de ímpio foi inflado.
Ele sentia a necessidade vital, não de enfraquecimento da Fé, que mais caracteriza aquele processo, mas que seus sentidos fossem purificados e sua percepção fosse cândida, sem fraudar a realidade, inocente, como uma criança que olhasse a tudo pela primeira vez, livre da memória, e seus pensamentos fossem retos e justos, de forma a não mais lhe induzir a enganos terríveis.
Só aí, então, com o mesmo vigor e mesma Fé, poderia atuar com verdade e amor, sem causar danos ao que quer que fosse, à Natureza, aos Homens e seus bens ou a Deus e a Verdade. Pedia por um Ser puro, inocente, não passível de sofrer ou produzir danos. Confiando somente em Deus.
De um ancião com quem Airam desabafou sobre suas ânsias de defesa, recebeu como resposta: –Fique em paz, Qumrum é um farol para os navegantes da vida e Deus é o Senhor da Vida.
-Se o Senhor quiser o faz brilhar ou o apaga. Mesmo depois de que tudo seja arrasado, seu povo disperso, depois de sucumbirem todos os Templos e Fortalezas, se o Senhor quiser, novas luzes se despertarão deste farol, o Senhor aqui trará novos viajantes do deserto e aqui encontrarão referenciais do Caminho que Ele quer para suas travessias. Completou o ancião.
Airam principiava a compreender aquela atitude da comunidade de Qumrum, que inicialmente presumia como passividade, mas, agora descobria ser a Fé. Também compreendeu porque alguns homens matam e se negam ao sacrifício, são frágeis e orgulhosos para duvidarem de suas próprias conclusões, a que toda a percepção informa ser verdade, são sensoriais, são sensuais e não perceberam alguma Graça, como uma dúvida sobre seus sentidos, como a presença de um ancião ou uma, como a mulher piedosa à porta de seu aposento, evitando que ele, em um momento de exaltação, assassinasse um vizinho de aposento.
Qumrum possuía muitos Anjos que acorriam, atendendo à inspiração da Luz, guiados pelo Espírito, em socorro daqueles que, com sinceridade, buscam a Sua Sabedoria e se exercitam em Seus Dons. Eram agentes da Misericórdia de Deus.
Era preciso ser paciente e com paciência devia completar a compreensão, era preciso auto-domínio com disposição de sacrifício, para esperar, mesmo observando que a morte é iminente, mantendo atento controle entre a percepção e a reação, era preciso dar um pouco de tempo para que o fenômeno melhor se revelasse, mais completa e claramente, mesmo ante a ameaça de morte e mesmo que esta pareça evidente e possa acontecer a qualquer momento, era preciso não ter medo e confiar no que ainda não conhecia e nunca conhecerá completamente, sob um único nome: Deus.
A Razão, com o poder da Fé, pisando com fortes pés de ferro a serpente dos impulsos dos instintos, com a ajuda de Deus.
Nos momentos em que sua experiência agravava-se, clamava a Deus com as palavras de um profeta antigo:
-Pois sempre que falo, grito, clamo: Violência e destruição; porque se tornou a palavra do Senhor um opróbrio para mim, e um ludíbrio o dia todo.
Se eu disser: Não farei menção dele, e não falarei mais no seu nome, então há no meu coração um como fogo ardente, encerrado nos meus ossos, e estou fatigado de contê-lo, e não posso mais.ד
Reconhecia a necessidade de permanente confiança na obra de Deus e nos outros, suas criaturas também, e de que tudo a Ele está subjugado. Ele tem o controle sobre todas as coisas.
A confiança fundamental de que o Ser é indestrutível e que a Providência Divina zela por nós, que tudo devemos confiar e entregar a Ela, tudo o que somos e tudo o que temos; e se, realmente, se configurar a morte, a mesma Providência traz promessas, como todas as promessas cumpridas, de que a vida é eterna!
O ser humano convive com a idéia da morte. Cremos que morrer é certo e que morreremos um dia qualquer, mas, sempre empurramos a hipótese para o futuro, para a frente, a expectativa de que haverá muito tempo entre o momento de agora e lá bem longe, muito adiante, o momento da morte.
O terrível, mas que é o verdadeiro que o estudante passa a perceber e se aflige, é saber, com todas as evidencias confirmadas pelas experiências imediatas dos sentidos e de todos os nossos meios de percepção e apreensão do fenômeno da existência, de que o momento da morte é agora!
Quando estamos diante de um morto, bem diante de nós permanece um organismo inerte, mas ninguém sabe o que ocorreu no interior do homem que morreu, enquanto morria.
Os pensamentos de Airam caminhavam nesses aprendizados e na percepção de si mesmo. Nestes momentos dizia para si:- O importante para mim, ante Deus, é que estou vivo, agora, pela graça Dele: - Vejamos o quê é, agora? Dizia para si mesmo.
Esse conhecimento aliviava e apaziguava seu ser. Do contrário, se fosse distraidamente absorvido no encadeamento dos pensamentos, no fluxo das correntes cegas da fatalidade, em pouco tempo o calor era insuportável e ele se sentia incendiar num fogo alimentado por seu próprio tagarelar mental. Era preciso atenção, muita atenção!
Nos momentos em que buscava a reconstrução de sua identidade, o mago louvava uma canção saída de seu coração, como oração ao Altíssimo autor daquela Tektoniké:

- “Meu Criador
Não me criaste assim
Sendo um pecador Te quero
Para restaurar meu coração
Meu Senhor
Transforma os corações
Quebra o coração de pedra
E faz de mim tua nova criação
Meu Senhor
Na cruz provaste o Amor
Pelos homens em toda a Terra
Para nos trazer a Salvação
Meu Senhor
Na cruz mostraste o Amor
Tens teus braços bem abertos
Para receber meu coração
Meu Senhor
Na cruz provaste o Amor
Tens teu lado todo aberto
Água que renova a criação
Meu Senhor
Na cruz mostraste o Amor
Tens teu lado todo aberto
Sangue que conquista o meu Perdão
Meu Senhor
Na cruz provaste o Amor
Tens teu lado todo aberto
Para me esconder
Para me cobrir com teu Perdão.”

O louvor o acalmava, irrompendo por vezes o choro emocionado, quando novos ventos sopravam alimentando sua esperança, uma gratidão profunda pelos novos horizontes que no Espírito se apresentavam, trazendo-lhe o consolo e estabelecendo um silêncio terapêutico.
Airam aprendeu isto e permanecia atento aos calores do corpo. Sentia-o subir como um vapor, do peito para o pescoço e à cabeça, como ondas de calor errantes daquele incêndio, somente aplacado pelo silêncio, a atenção silenciosa, sem interpretações, uma Fé inabalável sob a direção do Espírito de Deus em quem confiava.
Ver tudo até o fim, simplesmente, sem juízos, sem interpretações, esse era o caminho da Paz que o mago estava aprendendo. Ser, simplesmente o que é, aprendendo momento a momento o que é a vontade d’Aquele verdadeiro que É.
A primeira palavra de Deus sobre Si Mesmo, dita a um homem na Terra: - Eu Sou!
Airam entendeu que devia ser um paciente de Deus e Deus o seu agente, e não o contrário. Havia naquela distração, o orgulho e a soberba de forma sutil, disfarçada, dissimulada, e tão logo Airam assim percebeu e foi convencido, entendeu, recebeu de Deus o arrependimento, ajoelhou-se e declarou: - Somente a Ti Senhor a Glória, a Honra e o Poder! Somente Vós, Senhor, podeis dizer:- Eu Sou! A mim somente é possível dizer:-Estou sendo pela Vossa Graça!
A tarde passou rapidamente para Qumrum, absorvida na recuperação dos danos causados pelo vendaval e na recuperação do carro romano. Airam distraia-se com os cavalos livres, correndo pelos jardins, rememorando brincadeiras da infância, quando pastoreava a manada dos persas no Oásis de seu pai.
Concluía que os homens eram análogos a vasos e que recebem conteúdos de Deus e conteúdos dos Homens: -Meu filho, agora, é um vaso do meu amor, mas ele é também o senhor de seu próprio conteúdo que Deus lhe dá, concluiu. É um tesouro que o Senhor guardou por mim.
O sol já havia se posto sob as palmeiras no horizonte do deserto de Judá, tingindo a atmosfera com tonalidades do vermelho, tornando mais viva a cor da “hrvat” que trajava.
A lâmina fria e muito fina da angústia cortava por dentro o peito do mago, que não mais se reconhecia a si mesmo. Um homem de têmpera, acostumado aos rigores e intempéries do deserto e à luta por grandes ideais, arriscando-se à temeridade mesmo, e agora como uma criança, reaprendendo a conviver consigo mesmo, hesitante, cauteloso e prudente, por vezes assustado ante o novo e as novas características que, espontaneamente, emergiam do âmago de seu ser. Não eram mais ideais seus, mas os do Senhor.
-Eis-me aqui, a mim mesmo, meu próprio filho, filho de mim mesmo, filho do velho Airam, a quem devo dar a luz. Cumpre que eu seja recriado à Luz do Espírito - comentava o mago consigo mesmo.
Cumpria rever tudo, tudo que possuía como verdadeiro estava agora posto em dúvida. Seu Universo agora se constituía na seguinte crença: ”Eu existo em Deus, agora, pela Graça de Deus e enquanto Sua Graça me der vida e minha vida aflorar na existência”.
Haveria de exercitar-se em tudo, outra vez, exercitar-se nas ciências, exercitar-se na Matemática, matéria que tanto lhe trouxe alegrias na juventude, não exercitaria mais para si, mas para a vontade de Deus. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre. Ensinava o Senhor ao mago com a vida e experiências em Qumrum.


Farol do Deserto
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XI
ALIANÇA

Airam já havia atravessado por aquela singular experiência do fogo por duas vezes, assistido pela Graça de Deus. Por um dia usou a “hrvat” verde até que em segunda reiteração, após a vitória, recebeu a “hrvat” vermelha, tendo vivenciado aquela segunda travessia absolutamente só até voltar a atingir a unidade com que Deus o restabeleceu.
O dia da Festa da Messe, ainda não havia amanhecido completamente e o mago erguia-se após a terceira experiência e de maior intensidade, que se iniciou desde a véspera e que o exauriu por toda a noite e a madrugada, novamente assistido pela bondosa senhora que desta vez não o deixara, em nenhum momento, e com ele perseverava na vigília em oração.
O suor e as lágrimas que escorreram por toda a noite, produzidos pela ação de um fogo persistente, que parecia um cozimento de seus órgãos e seu cérebro, foram pacientemente enxugados por ela enquanto, em voz baixa, entoava um hino do Rei Davi para dedicação do templo ao Senhor, dizendo:
Exaltar-te-ei, ó Senhor, porque tu me levantaste, e não permitiste que meus inimigos se alegrassem sobre mim”.
Ó Senhor, Deus meu, a ti clamei, e tu me curaste.
Senhor, fizeste subir a minha alma do Seol, conservaste-me a vida, dentre os que descem à cova.
Cantai louvores ao Senhor, vós que sois seus santos, e louvai o seu santo nome.
Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida.
O choro pode durar uma noite; pela manhã, porém, vem o cântico de júbilo.
Quanto a mim, dizia eu na minha prosperidade: Jamais serei abalado.
Tu, Senhor, pelo teu favor fizeste que a minha montanha permanecesse forte; ocultaste o teu rosto, e fiquei conturbado.
A ti, Senhor, clamei, e ao Senhor supliquei:
Que proveito haverá no meu sangue, se eu descer à cova? Porventura te louvará o pó? Anunciará ele a tua verdade?
Ouve, Senhor, e tem compaixão de mim! Oh! Senhor, sê o meu ajudador!
Tornaste o meu pranto em regozijo, tiraste o meu cilício, e me cingiste de alegria;
para que a minha alma te cante louvores, e não se cale. Senhor, Deus meu, eu te louvarei para sempre”.ב
A Sabedoria jorrou como fonte de Água Viva, trazendo a habilidade que necessitava para realizar cada passo do processo, fortalecido pela Fé inabalável, revivida pelo hino do amado autor, cuja casa foi a que recebeu a promessa do sinal de que uma virgem daria à Luz a Emanoel, Deus Conosco.
O aposento do mago ainda permanecia às escuras, iluminado apenas pela frágil chama de uma lamparina alimentada por gordura animal.
A Estrela da Manhã, A Alva, brilhava próxima à linha do Horizonte, prenunciando a chegada do Sol, ainda oculto até aquele momento, quando a senhora apressou-se em atender às leves batidas com que chamavam à porta.
Toda soberba velada, das mais grosseiras às mais sutis e suas artimanhas, foram uma a uma desmascaradas, aceites e assumidas pelo mago convencido pelo Espírito, quando então recebia o arrependimento, as vezes chorava e sempre era perdoado pelo Deus do Amor. Uma após outra, até que o paciente permaneceu paciente, em adoração ao único agente, Deus, tributando-Lhe Glória.
O mago estava cansado, seco e consumido, ainda que com muito mais calma realizara a travessia daquela noite. O abrir da porta atraiu sua atenção e já não se importava com algozes ou carrascos, mas ansiava pelos próximos passos da Graça de Deus. Não pensava mais - “Ao clarim vem o ataque e a destruição” mas, “Ao clarim vem a Luz” - e permanecia esperançoso. Sentou-se sobre a pele que servia de leito e compreendeu que recebia um grupo de visitantes.
À frente um terapeuta de Qumrum trajando túnica de brancura resplandecente, impecável, que dele se aproximou sem palavras, em passos calmos, portava-se com grande e contagiante serenidade. Tocou com as mãos a fronte do mago, buscando aferir a temperatura do organismo combalido por aqueles sofrimentos.
-Como te chamas? Indagou o mago
-Pedro Paulo, respondeu-lhe o terapeuta com semblante expressando um discreto sorriso atencioso.
- Este será o nome do último sacerdote do Altíssimo, profetizou Airam. E prosseguiu com sua inquirição: - És terapeuta ou sacerdote?
-Sou terapeuta. Atendeu.
-És hebreu? Prossegui Airam.
-Sou grego, respondeu Pedro Paulo examinando Airam enquanto alimentava o dialogo: - Meu pai sim, é sacerdote.
-Sim, continuou Airam, o mundo precisa de terapeutas e sacerdotes. Comentou.
- Concordo plenamente contigo, é por isso que nunca me vistes por aqui, andamos onde mais necessitam de nós. Informou Pedro Paulo enquanto a senhora organizava a entrada de um grupo de jovens que acompanhavam um ancião dos mais idosos de Qumrum.
- Suaste muito irmão? Perguntou Pedro Paulo com um toque de humor, como se aquilo não fosse nada significativo.
- Sim, confirmou Airam, dono de um ar de auto-piedade quase imperceptível, mas não para um Terapeuta de Qumrum.
- Pois saiba, que o Mestre suou sangue na noite em que foi entregue. Bom cabrito não berra! Completou o Terapeuta rindo.
Airam sentiu-se um pouco envergonhado. - Anjos de Qumrum, pensou, percorrendo o olhar pelo grupo que ingressava no aposento ainda pouco iluminado, tendo se fixado no ancião no meio do grupo, cujas feições eram extremamente familiares.
Com lábios trêmulos, incrédulo do que assistia, ante o imenso mistério pronunciou em tom baixo: – Melkior! Guardando absoluto e prudente silêncio, atento aos movimentos que confirmassem a verdade do fato. O idoso homem sorriu afetuosamente enquanto admitia com o olhar as suspeitas do velho amigo.
Uma jovem romana permanecia interposta entre os dois persas, permitindo-lhes apenas a mútua visão de seus rostos. Com vestimentas simples, brancas, permanecia impassível, empunhando uma pequena patena de prata. Atendendo à ordem do velho rei, afastou-se para um dos lados, permitindo a aproximação dos amigos.
Melkior andava em passos solenes, lentos e seguros, dirigindo-se à beira do leito de pele onde Airam, surpreso e intensamente emocionado permanecia extático, sentado. Acompanhavam-no outros dois jovens fortes, um etíope e outro hebreu, que seguravam um objeto que até então permanecera oculto pelo manto de Melkior.
Ao se voltar para dirigir algumas palavras aos jovens, deixou perceber pelo mago uma pesada taça que os jovens seguravam. O velho rei tirou da patena uma porção do Corpo do Senhor, estendeu-a ao sofrido homem, dizendo clara e pausadamente: - Isto é o Corpo do Senhor!
Airam tentou erguer-se para alcançar o bocado oferecido, mas os desgastes da noite insone no banho de fogo o deixara sem forças. Melchior aguardava que este o alcançasse, sem, no entanto, abaixar a fração oferecida.
A senhora que o assistia, acorreu solícita e amparando seu corpo emagrecido, ajudou-o a erguer-se o suficiente para receber a fração, amparando-o também depois até sentar-se.
Airam manteve-se reverente como em todas as celebrações do templo, mas, àquela vez especialmente, havia uma atmosfera de excelência inigualável, de pureza absoluta. Sentia como se Deus se voltasse especialmente para si, para seu cuidado.
O mago sentia ressurgir, das suas próprias cinzas um ser novo, algo que o transformava a olhos vistos, diante de todos, como se uma nova e refrescante fonte de águas cristalinas brotasse em seu coração, correndo por suas veias, por todo o seu ser. - Graça de Deus! Suspirou aliviado.
Ainda amparado pela senhora, Airam ficou em pé, dirigindo-se em passos mais seguros a Melchior, expressando a Deus seu profundo sentimento de gratidão.
-Esta não é a taça com que presenteaste o Rei dos reis?
-Sim, respondeu-lhe o ancião rei, é esta mesmo, com poucas modificações. Depois que a ofertei no presépio, me dirigi para Qumrum e aqui permaneci no serviço do Rei dos reis.
O grupo presenciava maravilhado a grandeza daquele encontro cuja oportunidade a Graça de Deus providenciara e permitia ocorrer ante seus olhos. Airam prosseguiu com perguntas às quais Melchior respondeu com paciência e precisão. - Com esta taça preparamos a ceia com que o Senhor se despediu dos amigos e revelou-se ao mundo como Sacerdote Eterno da Ordem de Melkizedek.
-Sempre fostes sacerdote aqui em Qumrum? Perguntou o mago.
- Nasci aqui em Qumrum para o sacerdócio, para ser do povo santo, mas o exerço onde o Senhor enviar. E, agora, enviou-me aqui, a ti, neste aposento, quando te deu a vencer esta batalha. Venho trazendo o Corpo e o Sangue do Senhor e dos despojos requeiro a alma.
-Mas...Hesitou Airam, lembrando-se das informações recentes de que naquela ceia mencionada por Melchior o Senhor deu o bocado de pão molhado em vinho àquele que o estava traindo.-Mas,...silenciou
Melchior permaneceu atento à perturbação do mago e perguntou-lhe:- O tempo esta passando, no que ainda hesitas, amado Airam?
O tratamento afetuoso o encorajou a prosseguir: -Mas... por que me ofereceste somente o Corpo do Senhor? Concluiu Airam demonstrando leve tristeza.
Segurando a taça com ambas as mãos, Melchior estendeu firmemente os braços na direção de Airam, enquanto em alta voz proclamava:
- Isto é o Sangue do Senhor, o sangue da Nova e Eterna Aliança, derramado por ti, por nós e por todos os homens para nossa restauração, restauração de nossa Honra e nossa vitória. Foi por causa deste Sangue que tu estás de pé hoje! Cumpre, agora, que aceites ou não!
O tom da voz de Melchior era alto, firme, sem qualquer hesitação, transmitindo a importância e a gravidade do que estava acontecendo ali naquele aposento e em sua vida.
Airam rapidamente adiantou-se, esquecendo-se de todo o desgaste, esticou os braços e segurou firmemente a pesada taça com ambas as mãos. Seus olhos correram pelas bordas, as mesmas que tocaram os lábios do Senhor, mais preciosos que todo o ouro de Ofir e do Universo:
Sim! Exclamou o mago e novamente expressando perplexidade: -Sim, eu aceito! Enquanto aproximava da boca o Precioso Sangue de Jesus observou incrustadas duas belas pedras, uma branca e outra de raro brilho e agora mais intenso, a pedra rubra que havia presenteado ao Salvador. Clamou:- Senhor faz de mim o homem que tu salvas! Sorvendo o Sangue do Senhor com Quem se aliançava definitiva e eternamente, Aliança nascida na cruz.
Airam realizava agora a síntese total de sua vida. Era hora terceira do Dia da Grande Festa da Colheita.
Luzes de compreensão explodiam em seu interior, como estrelas que vieram a iluminar as noites por que havia passado para o encontro daquele momento. Sua vida inteira desenrolava-se da memória, desde sua infância no Oásis de seus pais, o aprendizado com Melchior, todas as suas viagens, todas as suas buscas, encontros e desencontros que tanta intensidade e sentido conferiram à sua trajetória e que agora culminava no encontro fundamental, mais excelente, um real encontro com o Senhor, no âmago de seu ser, O Filho do Homem.
- Tudo foi trabalho de Deus. Agora posso morrer, conheci a Salvação de Israel e conheci a Salvação do Homem! Pronunciou o mago, entre soluços de alegria abundante, enquanto abraçava-se à bondosa senhora que o assistia, a Melchior e aos amigos que com ele vivenciavam aquele acontecimento.
Melchior adiantou-se, assumindo as mesmas características do comando das caravanas e com mãos firmes segurou Airam pelo braço, puxando-o para saírem do aposento:
-Vamos, disse o ancião Melchior, sai agora! Há muito trabalho antes que outra vida alcance nossas vidas, a mim e a ti. Não passaste pelas dores que passastes, e recebeste de Deus a vitória, para morrer de forma egoísta, imerso em teus prazeres, quer sejam carnais, quer espirituais. Agora tua morte será cotidiana, no serviço do Senhor que te envia!
Ambos ganharam o corredor, seguidos pelo grupo com os petrechos da Ordem.
A Festa da Messe começou desde cedo em seu grande dia. Festejavam grande colheita e as celebrações tomariam o dia e a noite, findando com a luz do dia que viria, substituindo a das fogueiras que se espalhavam pelos campos de Qumrum.
Já com “hrvat” branco em torno do pescoço, esvoaçando ao vento, Airam atravessou o Pátio, passando pelos aquedutos do jardim, galgou a torre de Qumrum de onde divisava o mar e ao longe a cidade de Machaerus. Airam louvava o Cântico de Jubilo que chegava pela manhã.
O ar carregava o som de uma estranha língua, o vento a disseminava aos quatro cantos do mundo: - Hieie aeter absolut estfash oremat absolut de filieh Ioshua de vit are luce ques vit... e prosseguia alto, num canto novo que arrebatava a audiência.
Em variações harmoniosas de graves e agudos, em um ritmo que prolongava as vogais abertas, como longos toques de clarins. Airam louvava da torre um canto novo de gratidão ao Criador e à Criação. E toda a Criação o ouvia em sua própria língua a resposta a todas as suas ânsias de ver a Glória sobre os Homens.
Torre em Kirbet Qumrum
Ao longe, uma nuvem de fina areia branca se levantava e subia ao sabor do vento que a arrastava em direção ao mar, a cada observação mais próxima, as palmeiras agitavam-se ao vento, aves alçavam vôo e circundavam a torre de Qumrum, o mago assistia surgir do deserto, diante de si, e a rodear a torre de onde louvava, uma manada de cavalos persas, brancos, tordilhos e prateados, com ancas esfumaçadas, com luas e estrelas brancas, alvas, que num galope fogoso entre saltos harmoniosos, com crinas esvoaçantes como “hrvat” ao vento, traziam uma longa e bela saudação a seu rei que vive.
- Aleluia!
...traziam uma longa e bela saudação a seu rei que vive.




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XII

TEMPLOS VIVOS


Os dias que se seguiram à Festa das Semanas foram desfrutados pelo mago em passeios nos arredores de Qumrum, em serviços que se apresentavam necessários na comunidade e nas horas da vigília permanecia presente como testemunha, disponível, com olhos atentos ao que se desenvolvia no templo.
Alguns hóspedes ainda se debatiam em provas com a assistência de todos e apenas um recalcitrava contra o caminho que a todo instante se lhe abria à frente. Louvava com fervor à Rocha de Israel, assumia postura pétrea relutando em entregar-se, considerava ao pé da letra as comparações ou figuras da Tektoniké, com que teciam a didática dos ensinos de Deus. Não era um homem mau, buscava o conhecimento de Deus, mas tinha dificuldades em livrar-se de si mesmo, suas exigência pessoais de perfeição e seu conservadorismo.
Atinha-se às letras das Escrituras Sagradas e não discernia ainda o Espírito que delas se depreende e que é, em verdade, o que vivifica, que se encarna na vida das pessoas e lhes dá vida, ânimo e alegria. Era impossível a qualquer das pessoas de Qumrum saber o por quê daquele estado de coisas na vida daquele homem, mas era nítido que não havia recebido algum dom de Deus necessário. O Senhor o chamou, por isso lá estava, mas não o havia escolhido ainda.
Com soberba dissimulada, queria antes, por segurança, certificar-se de forma lógica das questões envolvidas em uma ressurreição e sempre optava pelos caminhos das respostas mais fáceis. Não acreditava que o Senhor havia ressucitado, mas que sectaristas haviam roubado seu corpo da sepultura e que terapeutas o trataram em oculto e que estava em algum lugar da Palestina.
Estava sendo difícil seu convencimento a permanecer no processo, ele queria retirar-se de Qumrum e peregrinar por todo o mundo em busca do organismo, do corpo sobrevivente de Jesus Cristo. O sacrifício seria imenso, mas ele se dispunha àquilo, caso se certificasse de que era o caminho necessário. Seu forte condicionamento pela cultura dos saduceus criava-lhe obstáculos quase instransponíveis ao aproximar-se destas passagens. Todos oravam e perseveravam em sua assistência.
O vaso não havia se rompido, mas permanecia fechado e sob pressão. Para os anciãos era um modelo novo que o Senhor, agora, trazia a Qumrum, para seus fins. Todos respeitavam e aprendiam.
Quando o vento varria o deserto com violência e todos se recolhiam em orações e meditação, aquele homem de forma destemida, saía para caminhar nos arredores da cidade, visitava as bibliotecas, a que chamava de “genizah, e os depósitos de guarda dos preciosos livros. Observava os movimentos das areias e dunas que migravam sob a ação do vento, ocupava-se em anotar em mapeamento preciso aquelas modificações após os vendavais, o que causava estranheza em alguns, desconfiança em outros e fomentava um debate intenso entre diferentes correntes de considerações sobre a missão de Qumrum.
Entretanto era nítida a sua autenticidade, o despojamento e a habilidade com que Deus agraciava aquele hebreu, cujo nome era Efraim. A rota que o Senhor esboçava para a realização daquela vida era desconhecida daqueles eruditos, em sua maioria introspectivos e exímios observadores das forças interiores do Homem. Efraim parecia priorizar os movimentos da Natureza, as condições do solo e do clima, suas tendências e mesmo as profecias que diziam respeito ao futuro de Qumrum, ele as interpretava pelo prisma das forças naturais.
Não era afeito ao uso de armas, era um homem manso e pacífico, educado e afetuoso com todos, apresentava dons especiais para a ferramentaria, a marcenaria e a carpintaria. Com agilidade recuperava uma ferramenta e mesmo produzia com indústria sofisticada, artefatos e instrumentos que facilitavam, em muito, os trabalhos diários no campo e na biblioteca.
O ancião que o assistia desde sua chegada, demonstrava grande admiração por ele, ensinou sobre todas as dependências e logo na primeira manhã no caminho das fontes, todos observaram de que fonte beberia. Rapidamente Efraim ingressou no templo, curvou-se ante a primeira fonte, em seus preparativos de purificação, bebeu rapidamente da água clara e fresca do caudaloso córrego e dirigiu-se às orações.
Em uma das reuniões, quando um ancião concedeu que qualquer dos presentes trouxesse à assembléia algum tema ou questão de interesse coletivo, Efraim apresentou-se expondo um longo estudo que fizera com bases em suas observações.
Em resumo, mostrava-se preocupado com o futuro de Qumrum, da mesma forma que Airam e muitos outros. Considerava a Biblioteca ali disponível, a genizah, o maior bem presente em Israel naqueles tempos de ameaça romana, e apresentou-se disposto a envidar esforços no que pudesse e soubesse para garantir-lhe a sobrevivência à História e ao tempo.
Quando todos já esperavam a mobilização de defesas contra algum potencial agressor humano ou espiritual, Efraim, surpreendentemente, passou a discorrer sobre o solo e os movimentos da areia nas tempestades, para, por fim, concluir que muitos sítios da Biblioteca haviam sido estabelecidos em locais inseguros, sujeitos a erosões e que em poucas gerações aquela preciosidade poderia estar perdida.
A ameaça que considerava estava nas forças da Natureza e sua ação no tempo, em tempestades e vendavais, na ação da água dos córregos sobre o solo, nos deslocamentos decorrentes daquela permanente irrigação, assim como aos possíveis limites de utilização daqueles mananciais que fluíam e se perdiam no solo dos arredores.
Considerava Qumrum o mesmo farol para viajantes da vida e seu zelo voltava-se para a sólida garantia de que permanecesse para a posteridade. Sua experiência espiritual, pessoal, envolvia aquelas preocupações materiais, mas sem exageros e com Justiça.
Manteve acaloradas discussões, com argumentos valiosíssimos e convincentes, com elevado senso de retidão, respeito e consideração a seus pares, era um homem educado, sensível na aplicação de seus termos nas discussões, e jamais deixou que as questões se tornassem pessoais ou que de alguma forma ameaçasse ofender ou depreciar qualquer pessoa, mesmo aqueles que já haviam passado e que construíram Qumrum. Nunca procurava responsáveis pelos problemas que percebia, mas investia imensos esforços em apresentar as melhores soluções.
Sua atitude pragmática, a principio chocava, mas sua autenticidade, lisura, lucidez e objetividade, testadas no relacionamento com a comunidade, fizeram de Efraim um dos mais queridos estudantes de Qumrum. Também sua humildade e sinceridade em reconhecer e confessar as suas dificuldades na Fé, operavam como o mais belo adorno de sua personalidade. Não que fosse um homem sem fé, mas apresentava fortíssimas resistências até acolher e integrar no seu ser uma informação nesta esfera.
Para Airam, aquelas diferenças exteriores decorriam de uma diferente base de percepção e reação ao meio e a vida. Como uma abordagem diferente da mesma realidade.
Mediante suas propostas de mobilização para a escolha de novos sítios onde a ação de erosão ameaçasse menos, a criação de reservatórios, cisternas e piscinas para melhor aproveitamento da água, entre outras soluções, chegando mesmo a aperfeiçoar o Manual do Templo, no que referia às dependências, plantas com medidas e usos a que se destinava cada ambiente. Tudo em harmonia e obediência às Sagradas Escrituras e suas revelações.
Efraim depois de empreender em Qumrum tudo que fora possível na defesa daquele precioso patrimônio, foi enviado a outros centros, em Pella, Masada, Machaerus, Damasco e muitas outras cidades inclusive da Grécia, e no Egito na ilha Elephantine, onde pequenos núcleos copistas funcionavam ou foram desenvolvidos com a mesma preocupação de preservação trazida à consideração nas reflexões de Efraim.
Mas, sua maior contribuição, com sua simplicidade e amor à sua Nação, foi trazer à apreciação de todos uma das mais notáveis riquezas de Qumrum, a integração do povo hebreu que andava pelo mundo: Com a máxima que resumia a missão de Qumrum sob a legenda “A Vigília e o Suor”, copistas atravessavam noites em trabalhos árduos de resumos históricos, que foram responsáveis pelo aumento da distribuição de livros, que levavam a sua História e sua identidade a hebreus no Egito, na Grécia e até em Roma, recuperando a iniciativa, quase extinta, criada e mantida por grandes líderes, os Hasmonaean, Judas, Jonatas e Simão Macabeu, Alexander Jannaeus, Alexandra Salome, Hyrcanus e Aristobolus, entre outros.
Efraim defendia a intensificação destas práticas em face de ameaças de nova dispersão. No que obteve grande êxito.
Mas, foi em uma questão sobre O Fogo Sagrado do Altar, quando defendeu a necessidade de reviver o passado, surgiu então o ímpio, o iníquo recalcitrante e reagente contra as novidades dos novos ventos do Espírito. Os anciãos o perceberam e trocaram olhares com Airam, numa saudável cumplicidade espiritual e permaneceram atentos.
Efraim defendia que deviam repetir uma determinada viagem, imitando as ações de Neemias, que buscou na Pérsia reencontrar o Fogo para a Festa da Purificação do Templo, para a retidão dos sacrifícios.
Então, acalorada discussão se iniciou em Qumrum, e com tal estrategia o Senhor trouxe a revelação de maiores profundidades na missão daquele povo, ainda que contrariasse aos da Byt’Ysin, Escola dos Essênios, à qual pertenciam muitos do povo de Qumrum.
Com uma analogia preciosa, numa comparação precisa, um ancião hebreu, dos mais idosos, tomou a palavra após a exposição de Efraim, com toda a autoridade do Espírito. Depois de reconhecer o imenso valor de Efraim como benfeitor de Qumrum e do povo hebreu, “-Um autêntico Hasidim”, disse, e a legitimidade de seu objetivo, desvendou novos horizonte numa parábola:
-Amado Efraim, se fosses tu o Carpinteiro, Tektoniké responsável pela cruz do Senhor, considerarias somente o madeiro Vertical, tua cultura Assidaens reage às experiências dos gregos. Recalcitras devido ao nome grego que damos a esta experiência humana e por causa do nome vens erigindo defesas que, antes, te embaraçam.
E prosseguindo após breve pausa: -Isto é apenas a palavra, não é a coisa, é uma linguagem para indicar a realidade da experiência, o importante é a experiência dada a viver por Deus, independente da palavra que utilizarmos para referenciá-la em nossas comunicações.
-Mas, sei que como um homem sério, aceitarás considerar conosco o que vamos compartilhar, o significado do outro madeiro, a trave horizontal onde o Senhor abriu os braços. E prosseguiu, depois de que alguns anciãos sorriram ante os olhos espantados de Efraim, que parecia experimentar a primeira novidade:
-É justa a tua principal preocupação com o futuro, teu nome já revela: “Efraim!”. Mas os braços abertos do Senhor abraçam a todas as Nações. O futuro é importante, mas o amor e o zelo do Senhor nos incita a colaborar para que todas as Almas de todas as Nações estejam naquele futuro.
Efraim tentou falar, esboçando uma reação, mas, sentia-se engasgado enquanto o ancião prosseguia:
-Deus é Único e Soberano sobre todas as Nações até aos confins do Universo. Deus não é dos Hebreus, mas os Hebreus são de Deus. O que faz Israel diferente de outras Nações é que o Senhor nos escolheu para em nós Revelar-Se, então Se nos deu a conhece-Lo, e em nós revelou a Fé e fortaleceu a nossa Fé...
-O que faz a Nação de Israel diferente de qualquer uma Nação incrédula, é que O Senhor, Eu Sou, que é o Mesmo, para nós e para elas, aqui já nos deu consciência de Si e lá ainda não deu consciência de Si. O que nos importa?
Efraim gesticulava em silencio, de forma incompreensível, apresentando olhos assustados.
-Agora, prosseguiu o ancião sem considerar mais apenas Efraim, mas dirigindo-se a toda a Assembléia: - Quem somos nós para questionarmos por quê é assim a Vontade de Deus?
-“Ai daquele que contende com o seu Criador! Oh, caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou dirá a tua obra: Não tens mãos?”. Já disse o Senhor por Isaías.
-Se o próprio Senhor, por Isaias, Jeremias, Joel e outros, fez a promessa de derramar seu Espírito e assim cumpriu, se o próprio Senhor se entregou em holocausto definitivo, não com sangue de animais, mas com Seu próprio Sangue, de Seu próprio Corpo, se o próprio Senhor derramou, como sabemos, umas como línguas de Fogo, o Espírito Santo sobre os cento e vinte, e tantos outros mais, e prosseguirá derramando até o fim dos tempos, porque veio, para habitar em nós. Que temos nós com isso, se o Senhor quer tornar mais excelentes todas as coisas? Não recalcitra contra o aguilhão do Agente novo. Ele é a Pessoa de Deus Mesmo.
-Assim, querido Efraim, voltou-se o ancião para o agitado ‘Ysin, é prudente receberes com reflexão o que recentemente nos falou o Senhor Jesus Cristo, o maior dos hebreus de todos os tempos e o maior dos homens que a Terra conheceu ou conhecerá, pois é o Filho de Deus, que vive: ”Olhai, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus”.
-Se refletires com a Luz, e assim por ela ajudado, verás que o fermento apenas infla a mesma massa, incha, produz gazes e ar, bolhas vazias no interior, sem acrescentar nenhuma massa, sem acrescer-lhe significativamente qualquer peso. É Orgulho, é Soberba, vazia e vã. Assim os homens também, correm o risco de inflarem-se com qualquer excesso do que não é absolutamente sagrado ou divino mas, humano, absorvendo-se em praticas humanas em detrimento da Luz, em detrimento do Espírito, não permitindo realizar em si mesmos o que Deus quer, ainda que preguem e defendam o que os outros devam fazer. Debaixo do Sol tudo é vaidade, já ensinou o Senhor por Salomão.
Voltando-se para a assembléia, prosseguiu o ancião:
- Efraim propôs agora buscar, como no tempo de Neemias, em um poço persa onde os sacerdotes da geração de Jeremias, no exílio, esconderam o Fogo do Altar do Templo, vejam:
-Eis que tudo se fez novo, com o Espírito tudo se faz novo incessantemente, é a Tektoniké de tudo, quereis ver um novo poço onde arde o novo fogo do novo templo? Veja a tua volta teus irmãos. Não há mais Persas, nem Medos, nem Gregos, nem Romanos, nem do Ponto nem da Silícia, nem do Egito, nem dos confins da terra, mas todos são de Deus, que ultimamente a todos dirige seu Verbo, e cada um O ouve em seus próprios idiomas. Não há Judeus, não há Gentios, todos são de Deus. Todos são Templos de Deus e em seus interiores há um Altar onde o Fogo arde, um algueire onde a chama inextinguível foi ateada e brilha; onde cada um oferece o holocausto de si mesmos. O primogênito, a primícia é Jesus!
-Efraim! Clamou o ancião com autoridade, cumpre nascer de novo! Receba o derramamento prometido, o Senhor te reveste do Poder do Alto, sem discussão, sê paciente, agora, Efraim, em Nome de Jesus Cristo! Somente a Deus toda a Honra, Glória e Poder, eternamente!
Desde as primeiras palavras Efraim sentia um tremor crescente em todo o seu corpo, inicialmente atribuiu-o ao clima frio e cobriu-se com um manto, o tremor aumentava a cada palavra do ancião e seu queixo batia descontrolado.
Ao tentar uma resposta, palavras incompreensíveis jorraram de sua boca, elevou os braços para glorificar a Deus, seu corpo ardia com o calor crescente, seus braços gesticulavam como se lançassem seu coração ao céu, ondas se sucediam irradiando do peito para a cabeça e os membros até a entrega final, irrestrita. O Agente operava sua obra no paciente e Efraim clamou, sob torrentes de eletricidade liquida, mergulhando em um abismo que chamava outro abismo, que chamava outro abismo...
Senhor tem misericórdia de mim! Despediu-se o velho homem que morria e, em seguida, caiu como morto no chão do templo. O Senhor, agora, o escolhia!
Muitos acorreram, cercaram-no com cuidados até verificarem que estava bem, era a grande novidade em Qumrum, como em um sono inocente, seu corpo suava abundantemente, braços abertos como crucificado, Efraim foi despertando um novo homem, novo templo, batizado no Espírito do Filho de Deus, o Oleiro que batiza com fogo.
-Bem profetizou João Batista: Eu batizo em água, mas virá Aquele que batizará no Espírito Santo e em fogo! Completou o ancião.
Melchior trouxe o Corpo e o Sangue do Senhor para o Senhor, agora em Efraim também, que a Ele se unia e que os tomou após a vitória naquela batalha, ajudado por reis e por Deus e, como dízimo, do despojo de si mesmo, entregou sua alma enquanto ouvia do idoso ancião:
-Onde quer que vás, no tempo, no espaço, ou muito além, o Autor de todos os Livros Sagrados de Qumrum, de Israel e de todas as Nações onde houver Revelação de Deus, sim, o Autor estará contigo, habitando em ti. Doravante és um Templo Vivo! Que o Fogo do Altar permaneça em ti, que tu jamais O entristeças e Ele nunca se extinga!





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XIII
O QUARTO QUADRANTE
Muitos dias haviam se passado desde a Festa das Semanas e periodicamente recebiam noticias de Jerusalém que davam conta das ações, dos feitos heróicos e verdadeiros prodígios com que o Senhor conduzia seu povo. De Emaús, de Damasco, de Jope e mesmo de longínquas terras como Etiópia, Egito, Tiania e muitas outras localidades por onde o povo de Deus caminhava e já chegava a Roma.
Tropas movimentavam-se entre Masada, Machaerus e Qumrum. Reis de todas as partes ali chagavam para dobrarem seus joelhos e despojar-se das velhas vestes iniciando seus passos no novo mundo. Como fogo na palha O Messias iniciava sua caminhada por toda a Terra para arrebatar multidões de Almas. Muitos lavaram suas vestes no fogo do Messias.
O povo de Deus chegava a Roma e no sul da Palestina, o povo de Roma chegava para tentar subjugar a Deus. Lá, novos homens chegavam com a mensagem de Deus, o Amor para todos os povos. Aqui, velhos homens, sobre cavalos armados visavam destruir os Templos de Deus.
Melkior chamou a Airam e juntos ingressaram pelos corredores do templo, iniciando uma conversa pausada e calma. Passaram pelas quatro fontes e após a quarta, denominada do Oleiro, prosseguiram pelo último quarto do círculo, onde uma imensa porta, construída com pesadas traves de madeira, se abria para um jardim interno no qual ingressaram em passos lentos e solenes.
Um caminho estreito, florido e bem cuidado, se elevava até ao alto de uma grande rocha que se lançava como cúpula produzida pela Tektoniké da Terra que ali fizera aflorar a Rocha Mater. Sobre suas cabeças, o céu aberto irradiava intensa luminosidade para o jardim sem sombras.

O Caminho para o Getsemani
A paz era palpável, percebida em êxtase e silêncio. Havia um companheirismo especial entre aqueles velhos amigos, em uma palavra: a comunhão.
- A Paz de Deus Pai, a Graça de Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo permaneçam entre nós! Pronunciou Melkior, ao que Airam concordou, invocando a confirmação do Senhor dos Exércitos:- Amem!
Sentados sobre a Rocha, de onde divisavam um maravilhoso jardim, Airam ouvia atento às palavras de Melkior, confirmadas pela alegria no Espírito.
-Melkizedek foi rei de um povo ao sul do Mar sem peixes, é Sacerdote do Deus Altíssimo, Melkizedek é Templo Vivo, construído, purificado e consagrado ao Deus Altíssimo por Deus Altíssimo e por Ele posto como dispensador de Justiça. Iniciou Melkior.
-Assim, somos nós também trabalhados pelo Senhor em sua Sábia ciência à qual nos referimos como Tektoniké, pois envolve a mesmas e eternas leis com que o Senhor criou a tudo que há nos Céus e na Terra.
-Desta forma, pelas forças agentes no interior de tudo criado o Criador as traz, incessantemente à existência, e na Existência se revelam, umas às outras, entre si, apresentando o resultado daqueles agentes, a cada momento.
-É da Natureza do Sol, dada por seu Criador, apresentar o brilhar de sua luz e o irradiar de seu calor e energia, resultado, momento a momento, do mover e das ações dos agentes internos com que Deus o criou. Assim como é da Natureza do Homem, dada pelo mesmo Criador, apresentar a vida e irradia-la, no mover do seu Espírito em Adoração a Deus, resultado, momento a momento, do mover do Espírito, das ações dos agentes mais internos com que Deus nos criou.
A isto, chamamos mais recentemente Tektoniké que significa “a arte –Tek” do “Tonos – músculo, tendão, tensão, força, energia, intensidade, tensão, uma corda esticada, um tom”.
A criatura humana deve ser Paciente, e a obra da paciência deve ser completa, com consciência e dotada de percepção da ação destas forças internas, o mover do Agente que nos constrói, momento a momento, a Quem devemos obediência.
Em face de novidades que ameaçam a estrutura que já conhecemos e à percepção de agentes novos ameaçadores; e sendo no homem o principal agente a Liberdade e o livre arbítrio, pode ser que aconteça surgir alem do Agente e do Paciente, uma terceira posição “Reagente”, onde o que deve ser Paciente apega-se à estrutura já realizada e tenta defende-la e tenta tornar-se de novo Agente, Reagente.
Quando o Paciente tenta sobrepujar ao Agente, a impropriedade da sua Reação está na negação do Agente do novo, o que significa uma negação do que é a vontade de Deus mesmo. Assim o ser se faz rebelde, recalcitrante, lança-se contra o aguilhão do agente novo, nega, frauda e causa danos a si e à Criação, tentando impedir o mover necessário e que é a Vontade de Deus.
Quis então o Senhor, com o Sacerdócio desta Ordem, criar um caminho de restauração dos seres que nesta situação se encontrarem, em qualquer tempo e em qualquer lugar e por isso o Sacerdócio assim exercido só visa como interesse a Almas.
Onde houver uma alma abatida, onde houver um rei vitorioso de uma batalha, lá envia o Senhor o seu sacerdote, com o corpo e o sangue, paga um tributo e requer as almas. Todo rei vitorioso sobre todos os demais reis, um dia encontra um rei maior, que o abate e o faz também despojo.
Assim compreendendo, neste mundo em que vivemos no espaço e no tempo, o rei vitorioso de hoje, que reparte os despojos de outros, será o abatido e despojado de amanhã, de modo que aqui tudo é despojo. No tempo prossegue o Sacerdócio, requerendo almas, todos os dias, no mundo que é despojo.
O vencer ou o ser vencido são agentes do Criador para a edificação das almas, para edificação dos Templos Vivos para Deus. Edificado um Templo Vivo, Seu Espírito é derramado e vem fazer morada, eternamente.
Este Espírito é o Redentor, Este é o Salvador, Este é o Reformador Social, Este é o que Unge o Ungido, Este é o Santo, Este é o Messias, o que colhe, e nós a sua Messe.
Ele é um só, ainda que se manifeste como trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
O Pai nos Criou e sustem, o Filho Edificou e purificou, restaurando a Honra para que O Espírito Santo venha habitar eternamente e realizar o poder de sermos feitos filhos de Deus. Ele é o Agente de Deus por excelência, Pessoa de Deus mesmo.
-Airam, esta taça pertence ao Rei dos reis, Rei despojado recentemente de forma definitiva, fazendo de tudo que há debaixo do Sol um único despojo. Ele volta todos os dias para habitar em mais algum Templo Vivo, que edificou e purificou. Lá tu deves estar para levar ao Sacerdote Eterno da Ordem de Melkizedek o Seu Corpo e o Seu Sangue e para celebrar com a Alma requerida a Eterna Aliança, na inauguração de mais um novo Templo Vivo do Senhor.
Vasos das espécies
...Uma espécie preparada pelo fogo externo e outra pelo fogo interno...


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XIV
UR (Luz), RUM.

Depois de uma pausa Melkior prosseguiu:
-Nova e definitiva Diáspora se aproxima, o povo de Deus será disperso pelo mundo até aos confins da Terra, como hidróxido de alumina ao fogo. Séculos e séculos se passarão até que a Tektoniké venha a ser conhecida, compreendida, aceite e vivenciada por todos os Homens em seu cotidiano, compreendendo o Corpo e o Sangue do Senhor.
AbRam um dia saiu de Ur, que quer dizer Luz, seguindo os caminhos das promessas de Deus, que foram se cumprindo, e como Nação vem prosseguindo sempre por melhores e mais excelentes caminhos e promessas, até que um dia todos cheguemos à Luz novamente.
Então o Pastor reunirá seu Rebanho, o povo de Deus se reunirá em torno Israel, que será restaurado e o Messias encarnado em Templos Vivos do Espírito Santo, de todas as Nações, onde o fogo do Altar jamais se extinguirá.
-Porque o Senhor já anunciou por seu Profeta:
Pois eu conheço as suas obras e os seus pensamentos; vem o dia em que ajuntarei todas as nações e línguas; e elas virão, e verão a minha glória.
Porei entre elas um sinal, e os que dali escaparem, eu os enviarei às nações, a Társis, Pul, e Lude, povos que atiram com o arco, a Tubal e Javã, até as ilhas de mais longe, que não ouviram a minha fama, nem viram a minha glória; e eles anunciarão entre as nações a minha glória.
E trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, como oblação ao Senhor; sobre cavalos, e em carros, e em liteiras, e sobre mulas, e sobre dromedários, os trarão ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o Senhor, como os filhos de Israel trazem as suas ofertas em vasos limpos à casa do Senhor.
E também deles tomarei alguns para sacerdotes e para levitas, diz o Senhor.
Pois, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, durarão diante de mim, diz o Senhor, assim durará a vossa posteridade e o vosso nome.
E acontecerá que desde uma lua nova até a outra, e desde um sábado até o outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor.
E sairão, e verão os cadáveres dos homens que transgrediram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne.ש
- E pouco antes do dia da restauração de Israel, prosseguiu Melkior: acontecerá o da restauração destes Faróis que são Qumrum, Masada e Machaerus, que o Senhor reacenderá para todos os navegantes e viajantes do deserto, que buscam com sinceridade a restauração. Agora vá, sirva ao Senhor. Concluiu o idoso rei sacerdote.
Airam adiantou-se para pegar a taça da Ordem, mas, Melkior o interrompeu. - Aonde vais? Confrontou a Airam.
-Pegar a taça e leva-la como instruíste, respondeu Airam.
-Quem te trouxe até aqui?
-O Senhor, respondeu Airam.
-Quem te instruiu a levar e onde levarás esta taça? Persistiu Melkior.
-Segundo meu entender, tu me instruíste e levá-la-ei onde o Espírito enviar para requerer almas. Respondeu Airam.
-E, o que levarás nela? Continuou Melkior a testar Airam.
-Levarei o pão e o vinho para tributar e requerer as almas ou a alma. Respondeu Airam surpreso com a inquirição do velho amigo.
-Senta-te querido Airam, ainda te falta compreender algo. Ordenou Melkior ao que o amigo prontamente atendeu.
-Observa bem, meu amado, quem te instruiu a levar a taça foi o Espírito e não o ego deste velho amigo. Presta atenção!
Airam buscou na memória as palavras de seu velho amigo, constatando que realmente aquele entendimento nascera unicamente em seu coração.
E Melkior prosseguiu: - Nunca um sacerdote do Deus Altíssimo levou pão e vinho nesta taça.
-Mas..., Querido Melkior, hesitou Airam, mas...Tu mesmo, há poucos dias, a mim mesmo... Deste a oportunidade de me aliançar com o Senhor, com pão e vinho que levaste em meu aposento após a vitória que o Senhor me deu na Tektoniké.
E prosseguiu argumentando, enquanto Melkior pacientemente o ouvia: -As próprias Escrituras Sagradas registram que Melkizedek levou pão e vinho a Abraão quando venceu os reis, tributou com pão e vinho e do despojo requereu as almas. E lembrando-se mais, continuou:
- Mesmo os que participaram da Ceia do Senhor, recentemente em Jerusalém, informaram que ele compartilhou o pão e o vinho e até ao que o traía deu o bocado de pão molhado no vinho...
- Sim, meu amado Airam. Respondeu Melkior:- Enxergo teus argumentos. Abraão viu pão e vinho e todos que assim informaram assim viram e confiaram no que viram. Entretanto, somente venceste na Tecktonike porque aprendeste que não podemos nos guiar pelo que vemos ou pelo que ouvimos.
- Diz o Senhor, pelo profeta, sobre o Messias prometido que “... deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem decidirá segundo o ouvir dos seus ouvidos”
-Sim, concordou Airam, iniciando novos entendimentos que se revelavam à sua Razão e novos desafios a sua Fé.
Prosseguiu Melkior:- Tu sabes que os narradores da História também viram pão e vinho, mas, não sabiam o que via Melkizedek, assim como os da Ceia do Senhor não sabiam o que via o Senhor. E os narradores acreditaram no que eles próprios viram e não no que O Senhor viu, mas tu sabes os riscos envolvidos em guiar-se por vista. Airam permanecia humildemente atento a novos aprendizados e Melkior prosseguiu:
- O Senhor os advertiu: “Isto é meu corpo”. E depois “Isto é meu Sangue”. Mas eles preferem acreditar no que vêm, acreditam nos próprios sentidos ao invés de acreditarem na Palavra do Senhor, por isso sofrem na Tektoniké que o Senhor imprime. O Senhor não disse “Isto se parece com meu Sangue” ou “Isto significa ou simboliza o meu Sangue”, não, Ele não disse isto, ainda mesmo que pudesse, perfeitamente, assim dizer. Mas O Senhor foi bem claro e explicito: - ”Isto é o meu Corpo!”. E: - “Isto é o meu Sangue!”.
- Por isso, quando o Senhor lhes diz: - Sois a Coroa da Criação, sois meus filhos amados, sois minhas testemunhas, sois meus eleitos, sois meus escolhidos, sois o sal da Terra, sois a Luz do mundo, sois...Tudo que há de bom e melhor, eles não dão crédito, preferem acreditar no que seus olhos vêm e seus ouvidos escutam do mundo, no que, em verdade, não é:
- Tu não prestas para nada, tu és um vagabundo, tu és um preguiçoso, tu és feio, tu és pobre, tu és de tal ou tal raça, tu és de tal ou tal Nação, tu és de tal ou tal Religião, sempre com desdém, tu és...Tudo que há de pior, e a seus sentidos dão crédito.
- Ou quando o mundo lhes diz, “tu devias ser assim ou assim... Deves te esforçar para ser assim ou assim”. Eles crêem no que seus sentidos, sua memória, sua vaidade, sua cobiça, sua soberba e sua luxúria lhes dizem, mas não dão crédito às Palavras do Senhor.
- Por isso sofrem na Tektoniké que o Senhor imprime em suas vidas, ou quando querem produzir, por si mesmo, a tectônica que desejam para sua vaidade e soberba, para seu deleite, para alterar o que é vontade de Deus. Em sua vanglória, pensam - Eu me fiz por mim mesmo!
-Insensatos, que só confiam na empresa humana e não sabem que tudo o que o homem faz sem Deus, em verdade “não é”!
-Até que o Senhor dá um basta: - “Aquietai-vos e sabeis que Eu sou Deus e serei exaltado sobre a Terra!”.ש
- A Tektoniké correta exalta o que o Senhor quer e não o que o Homem deseja. É por tentarem empreender os particulares desejos e ambições do ego humano que as pessoas sofrem. Por isso há conflito, ansiedade, medo e dor, até que compreendam que é a vontade de Deus, que é e será exaltada na terra por toda a Criação e que a Vida empreendida por Deus, e da qual somos parte, tem Seu Movimento próprio!
Airam calou profundo em seu coração, refletindo as palavras do idoso ancião que prosseguiu.
-Nunca um sacerdote de nossa Ordem tributou com pão e vinho. Estes alimentos encontramos em qualquer lugar, quaisquer, dos mais nobres aos mais vis. Não são eles que tributam. Pelo idoso rei sacerdote se derramavam novas luzes do Espírito:
-O Patriarca Abraão, nosso pai da Fé, era ainda Abrão, o Senhor ainda não havia iniciado o processo de sua Tektoniké profunda, àquela altura, nem mesmo a promessa do nascimento de Isaque lhe havia sido feita. Estava nos primórdios de seu processo, exercitando coragem, desprendimento, solidariedade, habilidades e muitas outras virtudes dele, homem, mas a Fé exigida na Tektoniké ainda não o havia tocado.
-Somente quando o Senhor exigiu em holocausto, em sacrifício, o seu filho amado Isaque, o da promessa, prodígio do próprio Deus na velhice de Abraão e Sara, e somente então, o bom homem começou a se exercitar em seu primeiro abalo sísmico: - Como é possível que ao próprio prodígio de Deus, Isaque, filho amado da sua maturidade, em cumprimento de uma promessa do próprio Deus, Ele mesmo o exija em holocausto?
-Tu sabes, amado Airam, que na Tektoniké beiramos os abismos da dúvida, da murmuração, da loucura e da morte, porque: se recalcitrarmos contra o Agente do novo estamos nos negando a cumprir a vontade de Deus. Somos apegados ao que já conhecemos, mesmo ao que seja fonte de dor, preferimos a dor conhecida ao que a vida traz de novo e arvoramo-nos em juizes do que é novo. O Sol não tem memória, mas o Homem a tem! O Sol brilha sobre todos, pois não lembra quem foi justo ou quem foi injusto ontem. Não cabe a ele e nem a nós a dispensação da Justiça! O problema está em que nós temos memória e dela devemos nos libertar, no libertar pelo Perdão.
Se Deus é assim, o que nos importa? As novidades do Agente são vontade de Deus e podem requerer o holocausto das realizações anteriores do mesmo Agente. E nós, se estivermos apegados reagiremos. Mas, o que temos com isso, se o Senhor, Criador de todas as coisas assim o quiser?
-Também pode o Mesmo Deus, se o quiser, posteriormente, revelar sua Misericórdia, pois Deus é Amor. Mas, antes, esticou a corda, movimentou as energias e forças do interior, na Tektoniké do Homem, provou, mobilizou as forças interiores, quebrantou e alterou a crosta. Só depois, no ultimo momento, sedimentada a Fé que queria realizar em Abrão, não permitiu que a mesma Fé de Abrão mentisse para Isaque, seu filho, então proveu o cordeiro para o seu lugar e manteve sua Promessa sobre a posteridade do Patriarca. Assim também são o pão e o vinho para o corpo e o sangue.
Compreendendo a Tektoniké que resultou naqueles alimentos, podemos compreender por que o Senhor os escolheu para Seu Corpo e Seu Sangue.
-Olha a Videira. Presta atenção! É criatura de Deus, é da Natureza como Ele a criou, uma espécie para crescer, florescer, frutificar belos e saborosos frutos, que se apresentam em união, em belos e harmoniosos cachos. Esta á a primeira fase do processo. Deus os trouxe à realização pela Tektoniké da Videira, nutrida a partir da terra, da água e do Sol. Na presença do Senhor há alegria abundante! Clamou.
-Então se inicia o trabalho do Homem: colhe a uva que Deus proveu, deposita-a num Lagar, é pisoteada, espremida, macerada, premida, prensada, extraem-lhe todo o sumo, seu suco, separa sua substância, deixando um bagaço de fibras vazias. Após este primeiro processo o sumo separado está turvo, com muitos resíduos misturados, então começa a terceira fase do processo:
-Uma fermentação crescente, extremamente ácida, um cozimento pelo seu próprio calor, um fogo interno, processo longo e demorado. Aos poucos se dá a separação do resíduo da fermentação que se deposita no fundo e o vinho, pouco a pouco mais claro, até que fique translúcido. Somente quando assim está pode ser considerado vinho e começa a quarta fase do processo:
-O vinho é guardado em vasos que chamamos de odres, seu processo de fermentação prossegue, ainda que mais brando. Se guardarmos vinho novo em odres velhos, o odre se rompe, quebra, racha e derrama o vinho. Mas se o guardamos em odres novos, um conserva ao outro na interação de seus processos.
-Estes odres com vinho são distribuídos e transportados pelo mundo todo, vão às casas, às hospedarias, para os navios, os palácios, os casebres, os cantis dos viajantes, dos soldados, os bordéis, os templos, enfim, está acessível em muitos lugares.
-Grande parte do vinho é volátil, evapora-se rapidamente mesmo com pouco calor, deixando um resíduo grosso e ácido. Por isso os odres devem manter-se fechados, guardando tudo no seu interior.
-Quando um odre se abre é para servir ao Homem e tu sabes o uso e todas as coisas que se podem fazer com o vinho: Pode servir de remédio, em feridas; pode ser um tônico para a saúde; pode celebrar e alegrar um casamento; uma união; pode celebrar uma aliança, mas, o mais grave é nesta última fase do processo, o consumo humano:
-O vinho que um homem bebe, altera o seu estado de ser. Um homem mal educado e grosseiro, que se contem com esforço, empreende sua própria e pessoal tectônica e apresenta-se como educado entre seus amigos, no entanto, sob a ação do vinho, revela sua real natureza. Assim o ganancioso, o revoltado, o rebelde, o sensual, o luxurioso, o angustiado, todos, todos e tudo que estava firmemente contido sob forças de contenção unicamente humanas, se revelam, aparecem, envergonham e humilham o Homem. O ímpio que estava contido pelo esforço humano aparece! O iníquo se apresenta e assume o controle como se Deus fosse.
Na Tektoniké Sagrada, o mesmo se dá, porém com algumas diferenças fundamentais: Nela também o ímpio que há em todo homem se revela, é um mistério, porque se mantinha oculto e contido por vontade de Deus e não do Homem, nem mesmo o próprio individuo tinha consciência dele, até que Deus, que o continha, o libera e o iníquo que há em todo homem aparece, realiza um ciclo onde chega mesmo a tomar o poder e se faz acompanhar de prodígios, como se Deus fosse, mas é um embuste, um engano. Então o Senhor, com um sopro o depõe, mata o iníquo e restaura o justo, que também há em todo homem. Perde o que havia de ruim e restaura o que havia de bom. Porque o Senhor tem o Poder de estabelecer e de depor a tudo e a todos.
-Já, na tectônica pessoal do embriagado com vinho, o Homem nada ganha, apenas perde: perde a capacidade de auto domínio e toda a sua identidade. Num só ato perde coisas boas e ruins. Perde a vontade própria, perde a memória, perde a dimensão dos valores, exacerba o que não tem valor, distorce os valores de todas as coisas, exaspera-se por pequeninas coisas vãs, enfim, mostra o seu caos natural, que mantinha contido com esforço próprio, seu, cultivando uma imagem pessoal, uma aparência que não era a realidade. Mas, encontrando-se no transe que ele próprio produziu, não possui poder próprio para destronar o iníquo em que se transformou a si mesmo e suas condições finais são extremamente tristes.
- Já, por outra forma, um outro homem que nada possui oculto, que nada mantem sob esforço próprio, humano, nada esconde, nada a defender de si, nada a atacar em outrem, que é claro, explicito, verdadeiro, bom, ama o seu próximo sem fingimento, que é humilde, que sabe a sua real estima, nada deve, nada teme senão a Deus, que anda na luz, que tem equilíbrio, temperança, que gosta de si mesmo e dos seus semelhantes e não há nada que rejeite ou suspeite mal, submetido à Tektoniké de Deus com resignação, não se excede no vinho e, se exceder, nada mostrará senão o que já apresentava antes, e pelo desgaste da ativação de suas funções, pelo que se alegra e comemora e festeja, logo dormirá.
Poderá o homem produzir todos os atos de sua vida por seus próprios motivos, seu produto poderá ser bom ou mau. Somente Deus conhece os motivos dos atos e Seu Juízo é perfeito. Mas o Homem sempre estará consumindo o que é de Deus para realizar seus fins, pelo que é o Homem inteiramente responsável.
Airam ouvia atento e Melkior prosseguiu:
-Agora presta atenção ao processo do trigo: criatura, da mesma maneira, o Criador a trouxe a existir e conforme sua espécie, cresce, frutifica, amadurece em espigas onde os grãos estão unidos, em harmonia, apresentando também sua beleza e sua alegria. Inicia-se então o trabalho do homem:
-Colhe, reúne molhos, bate, separa os grãos, descasca, macera, mói, tritura, peneira, até se tornar uma farinha clara e seca. Guardada adequadamente e, da mesma forma, irá a todos os cantos, estará acessível em muitos lugares e a industria humana prossegue:
-Juntam-lhe água, e um pouco de gordura e o levam ao fogo, é então cozido ou assado o pão, sob a ação do fogo externo, onde perde um pouco a umidade e, depois de assado, é servido para alimento e as pessoas nutridas por ele agirão em suas vidas, envidarão seus esforços para a realização de seus objetivos, de suas vontades e seus cuidados. Enfim, estarão nutridas para existirem. Alguns gastarão suas energias em viagens, outros em trabalhos, outros em produzir mais trigo, outros em dançar, outros em orações, enfim, em quaisquer atividades da existência humana.
Poderá o homem produzir todos os seus atos e quaisquer resultados por seus motivos. Mas só Deus conhece os motivos dos atos e é perfeito Juiz. O Homem sempre se apropria do que não é seu, mas do que é de Deus, para seu uso e é responsável pelo que realiza para si, para seus semelhantes e para Deus.
Assim também é o Senhor. É o Criador que trouxe tudo a existência e tudo que fez viu que era bom. Dos astros ao pó, uma Tektoniké para cada coisa, incluindo cada ser vivo de cada espécie, também a Videira, o Trigo e o Homem, para servir-se de ambos, assim como de toda a Natureza. Mas a Videira, o Trigo, o Homem e sua Tektoniké são de Deus.
Esta é a diferença por que Deus se agradou do sacrifício que Abel Lhe ofereceu e não se agradou do sacrifício que Caim também Lhe Ofereceu. O primeiro Lhe ofereceu um cordeiro, cujo existir dependeu apenas do caráter da espécie em que o Criador o criou e da Tektoniké de Deus para aquele espécime, em nada dependeu de Abel senão guardá-lo para Deus.
O segundo, Caim, ofereceu o produto do que havia ele próprio cultivado com esforço pessoal. Abel foi paciente de Deus e Caim pretendeu ser Agente sobre a Natureza, e sobre Deus e por fim sobre Abel, tornando-se homicida de seu irmão, pretendeu interferir e imprimir sua própria tektoniké sobre as coisas de Deus. Bem podemos dizer que Caim pretendeu ser o primeiro feiticeiro.
Com isto não quero dizer que o Senhor não aprova a industria humana, não, mas o que o Senhor abomina é o orgulho e a soberba daquelas criaturas que não consideram que tudo veio de Deus, que tudo é de Deus e tudo deve ser-Lhe oferecido: a Videira, O Trigo, o Homem, a industria humana e seu produto, tudo realizado sob Sua Tektoniké, a Tektoniké de Deus para todas as coisas.
Ouvi o Canto de um verdadeiro rei porque foi O Senhor que assim o estabeleceu:
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu, tu és magnificentíssimo! Estás vestido de honra e de majestade,
Tu que te cobres de luz como de um manto, que estendes os céus como uma cortina.
És tu que pões nas águas os vigamentos da tua morada, que fazes das nuvens o teu carro, que andas sobre as asas do vento;
Que fazes dos ventos teus mensageiros, dum fogo abrasador os teus ministros.
Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não fosse abalada em tempo algum.
Tu a cobriste do abismo, como dum vestido; as águas estavam sobre as montanhas.
À tua repreensão fugiram; à voz do teu trovão puseram-se em fuga.
Elevaram-se as montanhas, desceram os vales, até o lugar que lhes determinaste.
Limite lhes traçaste, que não haviam de ultrapassar, para que não tornassem a cobrir a terra.
És tu que nos vales fazes rebentar nascentes, que correm entre as colinas.
Dão de beber a todos os animais do campo; ali os asnos monteses matam a sua sede.
Junto delas habitam as aves dos céus; dentre a ramagem fazem ouvir o seu canto.
Da tua alta morada regas os montes; a terra se farta do fruto das tuas obras.
Fazes crescer erva para os animais, e a verdura para uso do homem, de sorte que da terra tire o alimento,
O vinho que alegra o seu coração, o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que lhe fortalece o coração.
Saciam-se as árvores do Senhor, os cedros do Líbano que ele plantou,
Nos quais as aves se aninham, e a cegonha, cuja casa está nos ciprestes.
Os altos montes são um refúgio para as cabras montesas, e as rochas para os querogrilos.
Designou a lua para marcar as estações; o sol sabe a hora do seu ocaso.
Fazes as trevas, e vem a noite, na qual saem todos os animais da selva.
Os leões novos os animais bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento.
Quando nasce o sol, logo se recolhem e se deitam nos seus covis.
Então sai o homem para a sua lida e para o seu trabalho, até a tarde.
Ó Senhor, quão multiformes são as tuas obras! Todas elas as fizeste com sabedoria; a terra está cheia das tuas riquezas.
Eis também o vasto e espaçoso mar, no qual se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes.
Ali andam os navios, e o leviatã que formaste para nele folgar.
Todos esperam de ti que lhes dês o sustento a seu tempo.
Tu lho dás, e eles o recolhem; abres a tua mão, e eles se fartam de bens.
Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o seu pó.
Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra.
Permaneça para sempre a glória do Senhor; regozije-se o Senhor nas suas obras;
Ele olha para a terra, e ela treme; ele toca nas montanhas, e elas fumegam.
Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus enquanto eu existir.
Seja-lhe agradável a minha meditação; eu me regozijarei no Senhor.
Sejam extirpados da terra os pecadores, e não subsistam mais os ímpios. Bendize, ó minha alma, ao Senhor. Louvai ao Senhor.” ט
- Se o Homem reconhecido a Deus, consagra tudo o que é, o que tem, o que faz e o que produz ao seu Criador, jamais produzirá ou sofrerá qualquer dano. Prosseguia Melkior
-Quando o Senhor separa parte das espécies comuns destes alimentos e adverte: “Isto é o meu corpo” e “Isto é o meu Sangue” o faz com toda a Verdade e Justiça. Uma espécie transformada pelo fogo externo e outra pelo fogo interno.
-Também se um homem, ainda que ímpio, destituído da glória - e todos o somos no mundo - e estiver numa casa, num templo, numa hospedaria, num palácio ou num prostíbulo, ou onde quer que esteja e ao comer ou beber qualquer coisa com o que produzirá sua impiedade disser:
- Isto é o que subverto do Corpo e do Sangue do Senhor, também estará dizendo a Verdade e com Justiça. Reconhecendo sua própria condição de erro e sua condenação, são a estes que Deus ama e quer regenerar, restaurar, Salvar, restituir-lhes a Glória! E inicia sua Tektoniké, concedendo àquele homem o arrependimento das suas impiedades e concede-lhes o Perdão terapêutico.
-Assim prossegue, submete-os à Tektoniké até que possam receber o Corpo e o Sangue do Senhor, pelo Senhor, para o Senhor e não por si mesmo e para si mesmo!
- Todo Sacerdote do Altíssimo é Templo Vivo e por aprender em si mesmo a Tektoniké com a ajuda do Espírito do Senhor, que lhe deu vitória, luz e compreensão, sabe e compreende, porque Deus lhe deu por gratuidade, a Tektoniké de todas as coisas, do Homem, da Videira e do Trigo.
- Somente depois de realizado o processo em si mesmo, pela Graça de Deus, um homem pode por Ele ser enviado com esta taça e jamais verá outras realidades senão o Corpo e o Sangue do Senhor. Melkizedek o sabia, mas Abrão e o narrador ainda não, ainda que o Senhor os tenha mostrado, requerendo Almas, viram pão e vinho.
- Somente depois do livramento, quando o Senhor proveu o cordeiro em lugar de Isaque, somente a partir daí Abraão teria a oportunidade de olhar àqueles alimentos e não ver pão e vinho, mas os verdadeiros Corpo e Sangue do Cordeiro de Deus.
- Assim também, amado Airam, na ceia a que você se referiu, a de celebração da Páscoa de Jesus recentemente em Jerusalém, o Senhor os advertiu devidamente: ”- Isto é o meu corpo!” e “-isto é o meu sangue!” , mas quem lhe contou aquele episódio via somente pão e vinho.
- Então, meu amado Airam, continuou Melkior, te pergunto novamente:
- E, o que levarás nela?
- Levarei o Corpo e o Sangue do Senhor. Respondeu Airam.
- E, para quem os levarás? Finalizou Melkior.
- Para o próprio Senhor. Concluiu Airam emocionado.
- Agora, vá e que o Espírito do Senhor te guie. Também a ti confio todas a almas do reino Melki que ainda peregrinam no mundo. - Sei que o Espírito te lembrará, mas devo instruir-te: lembra, toda vez quando fores para requerer almas, adverte:
- “Isto é o Corpo do Senhor” e da mesma forma quanto ao Sangue, adverte:
- “Isto é o Sangue do Senhor, o Sangue da Nova e Eterna Aliança, derramado por ti, por nós e por todos os homens para o perdão dos pecados. É por causa deste Sangue que tu estás de pé hoje! Cumpre, agora, que tu aceites ou não!”.
-O justo vive pela Fé e não pela vista e a Fé mostrará o Corpo e o Sangue do Senhor.

Taça do Sacerdócio

Melkior despediu-se com uma ultima instrução, tomando uma lasca de madeira desenhou na areia fina sobre a pedra, enquanto discorria sobre as Nações:

-Teu Anjo assistiu a teu filho João no deserto, ainda no ventre de Fátima, da mesma maneira como assistiu a Agar e a Ismael, primogênito de Abrão, e agora te trouxe a Israel e em ti os une.
- Segue, lança-te ao que o Senhor reservou para ser o despojo da tua colheita, que remonta a Abrão em Ur e que são Almas, sim, somente as Almas Viventes, da Humanidade que recebe do Criador o fôlego nas narinas, com reconhecimento, devolvendo a Deus o Fôlego que de Deus é. Requeira apenas o despojo que é do Senhor – Almas - ao que Abrão não atendeu, por ver apenas pão e vinho, quando ainda superestimou a matéria.
-Teu nome, Airam, neste sacerdócio é, doravante, Melkiur! Investiu o idoso rei sacerdote despedindo-se com cânticos.
E entoando um hino em uma língua nova, entre gemidos, de entendimento somente de seu coração e do coração de Deus, entregou o sacerdócio de Melkiur.
Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? e que lugar seria o do meu descanso?
A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas eis para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito, que treme da minha palavra.
Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica um cordeiro, como o que quebra o pescoço a um cão; quem oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso, como o que bendiz a um ídolo. Porquanto eles escolheram os seus próprios caminhos, e tomam prazer nas suas abominações.
Também eu escolherei as suas aflições, farei vir sobre eles aquilo que temiam; porque quando clamei, ninguém respondeu; quando falei, eles não escutaram, mas fizeram o que era mau aos meus olhos, e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.
Ouvi a palavra do Senhor, os que tremeis da sua palavra: Vossos irmãos, que vos odeiam e que para longe vos lançam por causa do meu nome, disseram: Seja glorificado o Senhor, para que vejamos a vossa alegria; mas eles serão confundidos.
Uma voz de grande tumulto vem da cidade, uma voz do templo, ei-la, a voz do Senhor, que dá a recompensa aos seus inimigos.
Antes que estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, deu à luz um filho.
Quem jamais ouviu tal coisa? quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas logo que Sião esteve de parto, deu à luz seus filhos.
Acaso farei eu abrir a madre, e não farei nascer? diz o Senhor. Acaso eu que faço nascer, fecharei a madre? Diz o teu Deus.
Regozijai-vos com Jerusalém, e alegrai-vos por ela, vós todos os que a amais; enchei-vos por ela de alegria, todos os que por ela pranteastes;
Para que mameis e vos farteis dos peitos das suas consolações; para que sugueis, e vos deleiteis com a abundância da sua glória.
Pois assim diz o Senhor: Eis que estenderei sobre ela a paz como um rio, e a glória das nações como um ribeiro que trasborda; então mamareis, ao colo vos trarão, e sobre os joelhos vos afagarão.
Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.
Isso vereis e alegrar-se-á o vosso coração, e os vossos ossos reverdecerão como a erva tenra; então a mão do Senhor será notória aos seus servos, e ele se indignará contra os seus inimigos.
Pois, eis que o Senhor virá com fogo, e os seus carros serão como o torvelinho, para retribuir a sua ira com furor, e a sua repreensão com chamas de fogo.
Porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e os que forem mortos pelo Senhor serão muitos.
Os que se santificam, e se purificam para entrar nos jardins após uma deusa que está no meio, os que comem da carne de porco, e da abominação, e do rato, esses todos serão consumidos, diz o Senhor.
Pois eu conheço as suas obras e os seus pensamentos; vem o dia em que ajuntarei todas as nações e línguas; e elas virão, e verão a minha glória.
Porei entre elas um sinal, e os que dali escaparem, eu os enviarei às nações, a Társis, Pul, e Lude, povos que atiram com o arco, a Tubal e Javã, até as ilhas de mais longe, que não ouviram a minha fama, nem viram a minha glória; e eles anunciarão entre as nações a minha glória.
E trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, como oblação ao Senhor; sobre cavalos, e em carros, e em liteiras, e sobre mulas, e sobre dromedários, os trarão ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o Senhor, como os filhos de Israel trazem as suas ofertas em vasos limpos à casa do Senhor.
E também deles tomarei alguns para sacerdotes e para levitas, diz o Senhor.
Pois, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, durarão diante de mim, diz o Senhor, assim durará a vossa posteridade e o vosso nome.
E acontecerá que desde uma lua nova até a outra, e desde um sábado até o outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor.
E sairão, e verão os cadáveres dos homens que transgrediram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne”.ש
Melkiur segurou a enorme taça da Ordem, tendo nela incrustadas todas as pedras, de todos os Templos Vivos, de todos os tempos e Nações. Retirando-se para seu aposento, deixou Melkior em êxtase sobre a Rocha daquele Jardim sem sombras.
Reuniu seus poucos pertences, envolvendo a pesada taça em seu manto estrelado. Ao sair no corredor recebeu um esbarrão do vizinho romano, trajando “hrvat” vermelha, o que extraiu um sorriso de alegria de Melkiur e por aquele homem intercedeu em pensamentos: - Oh! Senhor dai vitória!
Com um grito de júbilo que ressoou nas paredes de pedra do templo, expressando a alegria do Espírito: - Louvores e Glória se dêem a todo momento! Exclamou Melkiur.
- Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacrifício, a Iesve Nazarenum Rex Iodeorum! Respondeu o romano.
Melkiur prossegui, sorrindo, sem voltar-se para traz e se dirigiu à fonte de água, ajoelhando-se junto ao primeiro córrego onde iniciou uma oração de agradecimento a Deus pela vitória em suas novas experiências, com sentimento profundo que o levou a fechar os olhos e assim permaneceu por algum tempo. Uma brisa correu pelo labirinto, cujo toque trouxe a sua atenção para aquela corrente da águas límpidas. Ao abrir os olhos notou a seu lado a presença de um “haberin” com vestes brancas, que metia as mãos n’água.
Imediatamente um raio de duvida percorreu seus pensamentos: - Será que já posso beber de todas as fontes? Buscava a segurança no profundo de seu coração.
Com ambas as mãos firmemente unidas, em forma de concha, o “haberin” a seu lado levou daquela água, oferecendo-a diante do rosto de Melkiur que se mantinha inclinado, ainda, a espera da solução da dúvida, logo desfeita pela oferta que se apresentava a seus olhos, concluindo que, certamente, o próprio Espírito a dirimia, motivando o “haberin” àquele gesto.
Abaixando-se um pouco mais e dirigindo seus lábios às mãos ofertantes para delas beber, sentiu correr pela coluna vertebral um verdadeiro choque que imediatamente acendeu poderoso fogo em seu peito, diante do que via naquelas mãos, bem próximas aos pulsos, duas marcas de cravos. Airam, com reverencia, tocou-as no dorso levando-as à boca, de onde bebeu daquela água até a saciedade.
Envolvido pelo calor e o sentimento de profundo amor, ouviu a voz branda do haberin que lhe falava em Espírito: - Melkiur, segue-me. Estarei com vocês todos os dias até a consumação dos séculos! Logo desaparecendo de seu lado.
Despertando daquele arrebatamento, tocado pela a chama do incêndio interior que jamais o deixaria, trazida por Aquele que veio atear fogo a todas as coisas que, até então, se apagavam, encaminhou-se à saída que dava para o caminho de Belém.
-Sim, é o Mestre, conscientizou entre lágrimas de imensa alegria!
À porta da cidade, uma senhora que Melkiur reconheceu como a bondosa companhia que a Providência de Deus trouxera às suas noites de Tektoniké, elevava as mãos aos céus clamando ao Deus Altíssimo com louvores de agradecimento.
Melkiur aproximou-se o suficiente para acompanhar os últimos gestos com que ela retirava o xale descobrindo o rosto, revelando belos e brilhantes olhos negros iluminados de uma fisionomia que Melkiur reconheceu como íntima:
-Fátima! Exclamou Melkiur, reconhecendo a airamita de sua mocidade e mãe de seu filho João que ainda não conhecera.
Enquanto abraçados iniciaram um canto entre lágrimas, em uníssono, louvando a Deus, agradecidos pela unidade restaurada, um fogoso Ginete persa se aproximava, com a indumentária da montaria que pertenceu ao velho rei, pai de Airam.
Uma capa prateada e azul da cor do céu, com franjas na altura dos jarretes, deixava a crina solta ao vento; com estrelas e luas de prata brilhantes, refletindo a Luz do sol em todo o seu esplendor; sua cela de couro branco, adornada com cravos de prata e forrada com pele de ovelha branca; com rédeas reais douradas que balançavam livres, ainda sem condutor que as retivesse, o animal trotava em direção ao casal real.

...um fogoso Ginete persa se aproximava, com as vestimentas de montaria do cavalo do velho rei , pai de Airam...
- Melkiur gritou antigas vozes de comando do pastoreio de sua infância, ao que o garanhão persa conteve as passadas, aproximou-se lentamente e dobrando as patas dianteiras seguidas das traseiras, abaixou-se, facilitando a montaria de seu rei. Fátima sentou-se na cela, abraçada por seu companheiro.
Ao estalar dos lábios o cavalo se levantou atendendo ao comando de seu nobre cavaleiro, primeiro sobre as patas dianteiras depois as traseiras e galopou para o Norte ganhando a imensidão do Deserto de Judá.
A poucos instantes dali, Airam observou grande nuvem de areia que se levantava no horizonte, onde surgiu uma imensa caravana vinda do Norte, da banda de Jericó, ao seu encontro, centenas e centenas de camelos, dromedários, cavalos, carros carregados, homens, mulheres e crianças em liteiras, que se aproximavam rapidamente. Fátima sussurrou a seu ouvido: - São milhares de almas!
A imensa caravana trazia à frente o comando de um homem maduro, que se destacou e aproximou-se apeando de sua montaria, apresentou-se com simplicidade, baixando a cabeça com olhos marejados de lágrimas pela emoção:
-Pai, eu sou João, teu filho! Eis a tua colheita, produto da tua Fé com a ajuda de Deus!
As lágrimas rolaram pelo rosto do velho rei Airam, agora completamente realizado: Melkiur, Súdito do Reino Eterno do Rei dos Reis, assumia a direção de seu povo.
-Sim, são milhares de almas, milhões, confirmou com alegria o Espírito, como um novo alento em seu peito.
- Armas fora, sussurrou o vento do Espírito em seu coração e Melkiur estava atento para a voz que não erra.
- Armas fora! Ordenou o rei! E toda a caravana desarmou-se, deixando na areia do deserto todas as armas pessoais.
Esticando as pernas com pés apoiados nos dois estribos enfeitados, apontou no Oriente o Nascente do Sol, à Luz, o destino de sua Nação unida à de Melkior:
-RUM, sussurrou novamente o vento do Espírito em seu coração e Melkiur estava atento.
-RUM? Perguntou Fátima sussurrando-lhe no ouvido.
-UR, bradou Melkiur!
Todos da caravana, em único gesto, moveram rédeas e voltaram seus destinos para o novo reino do Oriente:

R U M


ג Salmos 69:33
י *Isaias 44
ש Isaías 10
ש Isaías 64
ש Isaías 66
ש Salmos 96,97,98
ש Isaías 13
ש Isaías 10
ה Zacarias 13
ל Isaías 11
ז Malaquias 1
ם Salmo 104
א Sabedoria 15:7
ד Jeremias 20
ב Salmo 30
ש Isaías 66
Isaías 11
ש Salmo 46
ט Salmo 104
ש Isaías 66























PRÓLOGO



Meu Filho Nando,



Saúde e Paz!



Recebi seu e-mail perguntando sobre Melquisedeque.



Considero meu dever, como teu pai, de te transmitir o que segue:

Melkisedek é um rei mencionado no Antigo Testamento, o prefixo Melk com o fonema El = לה tem sempre elevada significação na terminologia Hebraica para designar os nomes das coisas sagradas, gosto do nome Mello por isso.

A letra M - Mem – tem significado materno, maternidade.

A letra LLamed- é formada por um ideograma que aponta o céu e a terra. ל, Elohim – El ShadaiEl- לה traz sempre a conotação do Sagrado ou da Geração do Sagrado
A Letra Eה – Tem sentido de Matriz, Mater, Base, Matéria, Templo, Casa Materna etc...

Eu gosto do Sobrenome Mello por isso, o ideograma é o mesmo de Melki -.

Melquisedeque é em Português. Também pode ser escrito Melchisedeck, Melkisedeck, Melquizedek, etc...eu prefiro Melkisedek

Melkisedek é referenciado na Bíblia como “Sacerdote do Deus Altíssimo”, a quem Abraão tributou dízimo após a vitória em uma guerra contra cinco reis. (Gênesis 14).

Em resumo:

Melkisedek é o Rei de SalemRei de ShalomRei de Paz.
A ele Deus estabeleceu como Dispensador de Justiça.
Nossa Justiça definitiva foi trazida por Jesus Cristo.
Jesus é o Sumo Sacerdote Eterno da Ordem de Melkisedek.
Com o Holocausto definitivo, com o sacrifício de seu próprio corpo e sangue, obediente até a morte, Jesus Cristo rompeu os grilhões da morte, arrebentou as portas do inferno, e ressuscitou e subiu mais, penetrou nos altos céus e rasgou o véu que separava o Santíssimo(onde ficava Deus) do Átrio (onde ficavam os homens comuns) no Templo da Antiga Aliança, (a Mosaica), ou seja, Jesus removeu toda separação entre o Deus e o Homem. O Homem agora Justificado pode abraçar a Redenção e reaproximar-se de Seu Criador, que é Amor, que é Perdão. Com Confiança, com afeto, com Respeito e Reverência, naturalmente.

Davi no Salmo 110 retoma o tema.

E São Paulo na Carta aos Hebreus retoma o tema e Revela que Jesus Cristo é Sacerdote Eterno Segundo a Ordem de Melquisedeque.

O Tema é vastíssimo, envolvendo a hierarquia da Autoridade espiritual, pois, se o Patriarca Abraão paga dizimo ao Rei de Salem, Rei de Paz, que é Melquisedeque, significa que o Sacerdócio daquele rei é maior que o Patriarcado de Abraão. Essa assertiva é de São Paulo na Carta aos Hebreus

Oficialmente o que é referido na Palavra de Deus é o que transcrevi aqui.

Entretanto, muita especulação se fez e se faz ao longo da História acerca de Melkisedek e a Ordem Sacerdotal de seu Magistério.

Já no Livro de Gênesis, aparecem am referências às espécies do Pão e do Vinho, trazidas por Melkisedeck, pré-figurando a Eucaristia.

Lembre-se de que você é um Guardião da Eucaristia, do Corpo e do Sangue do Senhor, você é um Adorador Noturno, investido assim pela autoridade sacerdotal. Pão e Vinho se guardam em qualquer lugar, mas o Corpo do Senhor não, somente na Ceia do Senhor Os encontramos.

Os Esotéricos e Ocultistas, propõem que há esta Ordem Sacerdotal Secreta, com conhecimentos reservados etc...etc...(nestas posições há muita vaidade e ambição de poder). Além do que, não podemos perder de vista a Pessoa de Jesus Cristo, também como Sumo Sacerdote da Ordem de Melkisedeck, não mente e nunca mentiu em qualquer coisa. Se Jesus Cristo houvesse cometido algum erro, não realizaria a Obra da Redenção da Humanidade e Ele mesmo, diante do Sacerdócio temporal da sua época, que o Argüiu quando foi preso, tendo sido conjurado em Nome do Deus Altíssimo pelo Sacerdote a falar, respondeu: Nada ensinei em oculto, tudo ensinei publicamente e no templo, pergunte então a eles o que eu disse.(mais ou menos isso), como segue:

19 Então o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 Respondeu-lhe Jesus: Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam, e nada falei em oculto.
21 Por que me perguntas a mim? Pergunta aos que me ouviram o que é que lhes falei; eis que eles sabem o que eu disse.(João 18)

Antes havia ensinado:
2 Mas nada há encoberto, que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser conhecido.(Lucas 12)

O Sumo Sacerdote Segundo a Ordem de Melkisedek (que é Jesus Cristo) informou isto.

Acontece que nós, humanos, desde que fomos criados temos esta “cobiça, supomos que ainda há algum conhecimento que nos fará maiores e que está ainda oculto, que Deus não ensinou tudo, etc...com o que nos tornamos presas fáceis para “pretensos donos da verdade”, “donos de Deus”, “donos da Sabedoria” etc...etc... Temos a pretensão de movimentar Deus conforme nossos desejos. Assim inventamos ritos e práticas, fetichismos etc...Pretendendo que Deus atenda a nossas vontades e desejos. Mas, não é assim!

A Existência Humana é breve para conhecer tudo que Deus ensinou e ensina, mas é suficiente para praticar o que conhece e realizar o propósito de Deus para a vida humana.

Deus não é dos Homens, mas os Homens são de Deus!

Deus não empresta ou transfere sua Glória para Ninguém!

Há um testemunho de um pregador do Evangelho, um evangelista, em cujas pregações aconteciam maravilhas, curas, conversões etc...
A cada vez acorria maior platéia a suas cruzadas de evangelismo.
Um dia quando chegou a um estádio viu que estava lotado...e seu auxiliar contou-lhe que o estádio com mais de cinqüenta mil pessoas o aguardava e que, fora do estádio querendo entrar, outras cinqüenta mil pessoas tentavam ingresso.

Ele “pensou” apenas: - É..., Este meu ministério é muito grande, Deus precisa deste meu trabalho para evangelizar o mundo...

Foi o suficiente para o Deus Onisciente, Onipresente e Onipotente, retirar dele todos os dons, seu ministério findou, quebrou, e depois ele passou a testemunhar este triste episódio, da sua vaidade e do seu orgulho e confessa isto publicamente.

Dá uma olhada no Livro de Gênesis e vê o problema, já desde o princípio, de Eva e o fruto da arvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Ela achava que aquele fruto traria acesso a conhecimentos que estavam ocultos e que eles se tornaria como Deus. Ela não percebeu a mesma cobiça (...Ora, Eles já eram Deus! Foram criados à Sua Imagem e Semelhança, privavam com Deus, todos os dias na virada do dia, Deus vinha ter com eles..etc...) e aquela cobiça distorceu tudo.

1 Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência.
A ciência incha, mas o amor edifica.
2 Se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber.
3 Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele.
(I Corintios, 8).

Ainda que o Homem seja dotado de Cérebro, Mente e Órgãos Sensoriais que lhe dão a Percepção, sendo todo equipado para processar Conhecimentos, o Homem não foi criado para APENAS isso. Conhecimento é MEIO e não um FIM em si mesmo.

O conhecimento é sempre imperfeito, é próprio para sua época e logo é reformulado. É útil para construir uma ponte, para um trabalho técnico etc... Mas se torna obstáculo quando se trata de uma experiência NOVA ! Krishnamurti aborda muito bem isto em suas palestras. Ainda que a humanidade persiga o Conhecimento e gere Conhecimento e este se multiplique a cada vez mais, não fomos criados pra isso apenas. Não podemos parar nisto. O Conhecimento leva o ser humano até à maturidade, mas ele deve prosseguir. Em João 12 temos:

20 Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos.
21 Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
22 Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus.
23 Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem.
24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
26 Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.
(João 12)

Os gregos são os pais da Filosofia, são os mestres do Pensamento, já haviam pensado tudo em Sócrates, Platão, Aristóteles, e tantos outros, pais da Lógica, pais da Filosofia...Mas quando chegam a Cristo vê o que acontece.

O grão de trigo chega até a maturidade, mas precisa cair na terra e morrer e produzir frutos.

Existe o conhecimento que se apóia na memória, se apóia no passado, se apóia no tempo, está baseado no Cérebro. Passa o tempo, o cérebro envelhece e morre e com ele vai embora todo o conhecimento baseado no tempo.

Enquanto vivo, este conhecimento reage às percepções e atrapalha a percepção do que é verdadeiramente novo. A minha mágoa de ontem, altera a minha percepção das experiências de hoje, entendeu? Uma coisa é AGIR e outra é REAGIR. Por isso é inacessível ao homem a Verdade por sua percepção direta, mas somente com a REVELAÇÃO de Deus.

Sabe o que é Verdade?

Veja o seguinte esquema:

Quando percebemos a realidade (um ser qualquer) a representamos em nossa mente, como Conceitos da Realidade, vários Conceitos formam um Juízo da Realidade e vários Juízos formam uma Idéia da Realidade. Quando o homem forma uma Idéia completamente idêntica à Realidade, isto é A VERDADE. Acontece que isto, completamente, é impossível! Entre a Realidade do Ser e a Idéia na Mente do Observador há imensas distâncias, muita interferência, alem do que nossos SENTIDOS SÃO LIMITADOS PARA PERCEBERMOS A REALIDADE EM TODA A SUA EXTENSÃO.
Os olhos só percebem uma parte do espectro da luz.
Os ouvidos só percebem uma estreita faixa das ondas sonoras, etc...
Isto no âmbito Físico, Orgânico, alem disto há distâncias físicas, culturais, psicológicas, etc...Que nos bloqueia o acesso completo à realidade, o que impossibilita formar conceitos, juízos e a Idéia idêntica à Realidade.

Mas a Revelação ensina “o que é” a Realidade. Por isso cremos quando Deus, o único “que é” (que se identifica como “Eu Sou”), nos informa: ISTO É O MEU CORPO! Ainda que meus olhos somente vejam o pão e o vinho, se me perguntarem informarei tal qual Ele ensinou: Isto é o corpo do Senhor! Por isso cremos quando Ele diz que somos Nação Santa, Povo Eleito, etc... Ainda que eu veja completamente diferente, somos cinza, pó, cheios de defeito, sim é isto que meus olhos me mostram e meus ouvidos ouvem no dia-a-dia, nos jornais, na televisão...Mas Ele ensinou diferente, Ele é Onisciente, Onipresente, Onipotente, Ele tem acesso à Realidade e, portanto, as suas idéias são Verdade, são Idéias Idênticas à Realidade. E o Todo Poderoso é tão potente que se algo não é, quando seu Verbo diz que É, então passa a ser, passa a existir. Porque Ele disse: Fiat Lux! Faça-se a Luz! E a Luz se Fez! Assim também nos teceu no ventre de nossas mães e com nossos organismos passamos a existir! E mais tarde nosso organismo voltará ao pó, mas a Verdade permanecerá! Pois, Ele disse que Tudo Passará, mas a Verdade e o Amor permanecerão!

Amor? O que é o Amor?

O que o Amor “não é” eu sei! Porque meus olhos vêm perfeitamente e por isso sei o que o Amor “não é’. Não é inveja, não é ciúme, não é posse, não é propriedade, não é dependência, não é sentimentalismo, não é emotividade, não é tantas coisas, ou, qualquer coisa que eu imagine, ou pense, ou veja... o Amor não é.

Eu devo estar atento e observar “o que é”, sei que aquilo que estou observando, em verdade “não é” e, pela negação do que eu percebo, pela negação “do que é”, pode ser que se Revele, em verdade, “o que é”.

Nós não observamos as coisas como elas são em si mesmas mas, nós nos vemos nas coisas e pessoas, nelas nos projetamos, geralmente criticamos mais veementemente nos outros o que são nossos maiores defeitos. Estamos projetados nos outros.

Quando não há um centro observador que interfere e distorce a tudo, nós entendemos que “o observador é a coisa observada”.

Não é que a inveja seja uma coisa externa e entra em mim, ou a tristeza é uma coisa externa e entra em mim, ou qualquer dor seja externa e entra em mim, não. O observador é a coisa observada, eu sou inveja, eu sou tristeza, eu sou dor. Cessa o observador, cessa a coisa. Essa é a única maneira de cura, cessa o centro, cessa o ego, cessa então o egocentrismo, pode então se revelar o Amor! Se Ele quiser!

Ele disse que Amar é crer e esperar das coisas que não se vê, e por isso creio que é a Verdade sobre o Amor:

Só o Amor vê (com olhos da Fé no que ensinou o Senhor) o que é apenas potencial no outro. Vê (com olhos da Fé no que ensinou o Senhor) um Santo em um bandido, Vê (com olhos da Fé no que ensinou o Senhor) um salvo em um perdido. Quando vê (com olhos da Fé no que ensinou o Senhor) um pobre, sujo, faminto, fedido e sofrido, crê que é um Cristo desfigurado pelo sofrimento da Paixão...E matem a viva esperança na Vida Eterna, ainda que nossos olhos somente vejam até a morte. Mantem a viva esperança de há ressurreição enquanto nossos olhos somente vêem degradação e podridão do corpo que morre, por que Ele ensinou que é assim! Ele vê a realidade, as idéias que Ele forma são verdade, por isso eu acredito!

32 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
34 Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
35 Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.
36 Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e contudo não credes.
37 Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.
(João 6)

37 Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.
38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.
39 Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
(João 7)

25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
26 e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?
(João 11)

44 Clamou Jesus, dizendo: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou.
45 E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
46 Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
47 E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
48 Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.
49 Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar.
50 E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.
(João 12)


(Reflete sobre o texto da contracapa o diálogo entre Melkior e Airam) – Em resumo, o homem deve crer no que Deus ensina e não no que ele próprio percebe, vê ou ouve!

Nós não sabemos o que é o Universo, com seus bilhões de Galáxias, não sabemos o que são os seres vivos, as células e tecidos, o “por que” das formas das coisas, por que uma arvore é de tal ou tal forma, poderia ser diferente e fazer as mesmas funções, mas são de determinadas formas cada uma das espécies com suas formas, não sabemos sobre o desenvolvimento de todas as coisas, apenas levantamos hipóteses e mais hipóteses, mas realmente não sabemos, e todo o conhecimento é reformulado um dia. Mesmo o nosso formato “humanóide” com cabeça, tronco e quatro membros, ou dos cavalos com quatro membros também, mas com especialidades diferentes, os reinos Vegetais, Animais, Minerais etc...Tudo é ainda e sempre será imenso mistério para o conhecimento.
E vai por aí afora...

O Sábio aprende de Deus que lhe dá gratuitamente a Sabedoria e tudo mais.

É também Deus que leva um homem até Cristo:

9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus;
10 todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado.
11 Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um, assim como nós.
12 Enquanto eu estava com eles, eu os guardava no teu nome que me deste; e os conservei, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
13 Mas agora vou para ti; e isto falo no mundo, para que eles tenham a minha alegria completa em si mesmos.
14 Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
15 Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno.
16 Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.
(João 17)

O Homem foi criado para Adorar a Deus, em Espírito e em Verdade. Não é com a Razão, com Conhecimento, com a Emoção, com Emotividade, em sonhos, em fantasias, etc, nãninãnãnão!

23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
24 Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
(João 4)

O Espírito está para além das emoções, da memória, da Razão, dos conceitos, dos juízos, das idéias...
A memória é o resíduo ou o lixo das experiências! Totalmente imprópria para enfrentar o novo, aqui, agora, com olhos puros, que nunca choraram!

A memória tem seu lugar próprio, mas só não pode “pressupor” a realidade ou criar “pré-conceitos” etc... Que impedem ou criam obstáculos para que o observador alcance a Realidade. Reagem ao primeiro sinal de semelhança com alguma experiência velha, passada e o homem pára de ver o real, o novo, a singularidade de cada momento do movimento da Vida.

Um dia li o seguinte texto que dizia mais ou menos assim como segue, e operou como uma bomba atômica na mina consciência:

“O autoconhecimento é a observação, momento a momento, das nossas reações ao movimento da Vida”. E “Presta atenção, há um movimento, senhores, para o qual não precisamos fazer nada, nada, nada e se qualquer coisa fizermos em relação a ele, ele cessa, ele somente pode ser percebido onde há a liberdade do centro, da memória, do tempo, do ego, do egocentrismo, se tentarmos qualquer coisa, ele cessa, e nada se pode fazer em relação a ele, pois a Vida tem seu próprio movimento”.

Hoje em dia ainda funcionamos esperando de conhecimentos, de idéias, de ações nossas e de pessoas humanas para as nossas soluções, de políticos, de amigos, do presidente da republica, de fulano, de beltrano, de reformas sociais, de reformas políticas ou reformas econômicas, de revoluções, etc... Mas o que precisamos é uma revolução da consciência humana, da liberdade da percepção do jugo da memória, uma revolução Espiritual, Interior, no Ente Humano, que compreenda a fragilidade de todas as concepções humanas e se entregue à aventura de aprender, humildemente, momento a momento, de si e do movimento da vida!

Existe um homem cheio de Fé que vive somente em adoração a Deus. Se fecha num quarto, leva um garrafão de água, entra numa banheira e lá passa o dia, em oração e adoração a Deus. Quando todo mundo sai em busca de solução para algum problema, ele entra no quarto e lá fica, oito, dez horas assim. Orando, Orando, conversando com Deus. Eu já tentei fazer isso, é muito difícil, distraímos e quando vemos já estamos fora do quarto, vamos tomar um café etc...etc...lembramos disto ou daquilo, distraímos e quando percebemos estamos “pensando”, “sofrendo as reações da memória” e bem longe de Deus. Mas o homem tem que se consagrar a Deus!

O livro atual, que estou terminando, trata exatamente desta temática envolvendo a experiência humana vivida com Deus, que passa por caminhos que parecem ameaçadores para os homens, tem sabor de morte, mas é um Dom de Deus. Fala de Cruz!

Envio a seguir algumas partes dele. É o mais recente que está ainda no prelo, mas em breve será publicado, se Deus quiser e de alguma forma for útil para Ele em seus propósitos com os homens.
Desenvolvi em torno do termo TECTÔNICA (TEKTONIKÉ). De Origem Grega tem vários significados:
Originalmente é “A ARTE DE CONSTRUIR EDIFICIOS” (É Edificar)
Foi adotado na Geologia para significar “Parte da geologia que trata das deformações da crosta terrestre devidas às forças “INTERNAS” que sobre ela se exerceram
O Terceiro significado do Francês, “A ARTE DOS CARPINTEIROS OU DOS MARCENEIROS”.

A Relação e Associação destes significados estabelecem uma certa Ordem na experiência mística cristã, Tendo em Jesus, um carpinteiro hebreu, que Edificou o Homem e elevou-nos à estatura de filhos de Deus, pela ação transformadora do Espírito Santo, o mover Interior do Homem. Jesus leva isto ao extremo, quando é o primeiro a reconhecer a importância dos movimentos interiores do ser humano, atribuindo responsabilidade ao homem pelos movimentos interiores:

27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás.
28 Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.
(Mateus 5)

Outras versões traduzem “olhar para uma mulher para a desejar...”.

Geralmente não consideramos “olhar” como uma ação, mas olhar é extrema ação. Consideramos ação aquilo que implica deslocamentos no espaço, tal como andar, correr, se movimentar de um lado para o outro, enquanto um homem parado, contemplando, olhando, ouvindo, observando, desejando, cobiçando, pensando, meditando, refletindo, etc... não consideramos como ação.
Jesus foi o primeiro a atribuir responsabilidade ao homem pelos movimentos interiores mais sutis. O primeiro reconhecimento da responsabilidade sobre a própria psique humana.

O Capitulo XII TEMPLOS VIVOS
O Capitulo XIII O QUARTO QUADRANTE

As figuras de Ilustração também são de minha autoria ou escolha na montagem:

A Capa; A edificação do Templo de Ouro, o site arqueológico de Qumrum (Kirbet Qumran), no Mar Morto;

(Atos 2)

1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.
2 De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.
3 E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma.
4 E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
5 Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu.
6 Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
7 E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses que estão falando?
8 Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos?
9 Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia,
10 a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
11 cretenses e árabes - ouvímo-los em nossas línguas, falar das grandezas de Deus.
12 E todos pasmavam e estavam perplexos, dizendo uns aos outros: Que quer dizer isto?
13 E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.
14 Então Pedro, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
15 Pois estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto que é apenas a terceira hora do dia.
16 Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos;
18 e sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão.
19 E mostrarei prodígios em cima no céu; e sinais embaixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça.
20 O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor.
21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;
23 a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos;
24 ao qual Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.
(Atos 2)

Aliança com JOSHUA (Jesus) (Heb: הושהי ) הושהי JOSHUA

הוהי JEOVÁ (IEVE , IAVE, JAVE).

ש - SHIN.

הושהי- IESHVE JESUS, IESVE, JOSHUA, IESHUA.

A formação do Nome envolve o Nome de Adonai, O Senhor, impronunciável e Santo.

Conteúdo Bíblico referente a Melquisedeque

1 Aconteceu nos dias de Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goiim,
2 que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de Admá, a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Belá (esta é Zoar).
3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o Mar Salgado).
4 Doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas ao décimo terceiro ano rebelaram-se.
5 Por isso, ao décimo quarto ano veio Quedorlaomer, e os reis que estavam com ele, e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, aos zuzins em Hão, aos emins em Savé-Quiriataim,
6 e aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã, que está junto ao deserto.
7 Depois voltaram e vieram a En-Mispate (que é Cades), e feriram toda a terra dos amalequitas, e também dos amorreus, que habitavam em Hazazom-Tamar.
8 Então saíram os reis de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Belá (esta é Zoar), e ordenaram batalha contra eles no vale de Sidim,
9 contra Quedorlaomer, rei de Elão, Tidal, rei de Goiim, Anrafel, rei de Sinar, e Arioque, rei de Elasar; quatro reis contra cinco.
10 Ora, o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; e fugiram os reis de Sodoma e de Gomorra, e caíram ali; e os restantes fugiram para o monte.
11 Tomaram, então, todos os bens de Sodoma e de Gomorra com todo o seu mantimento, e se foram.
12 Tomaram também a Ló, filho do irmão de Abrão, que habitava em Sodoma, e os bens dele, e partiram.
13 Então veio um que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu. Ora, este habitava junto dos carvalhos de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner; estes eram aliados de Abrão.
14 Ouvindo, pois, Abrão que seu irmão estava preso, levou os seus homens treinados, nascidos em sua casa, em número de trezentos e dezoito, e perseguiu os reis até Dã.
15 Dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus servos, e os feriu, perseguindo-os até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.
16 Assim tornou a trazer todos os bens, e tornou a trazer também a Ló, seu irmão, e os bens dele, e também as mulheres e o povo.
17 Depois que Abrão voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma, no vale de Savé (que é o vale do rei).
18 Ora, Melquisedeque, rei de Salém*, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo;
19 e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra!
20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.
21 Então o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a mim as pessoas; e os bens toma-os para ti.
22 Abrão, porém, respondeu ao rei de Sodoma: Levanto minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra,
23 jurando que não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu, nem um fio, nem uma correia de sapato, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão;
24 salvo tão somente o que os mancebos comeram, e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; que estes tomem a sua parte.
(Gênesis 14) * - Salém significa Paz – ”Rei de Paz”.

1 Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.
2 O Senhor enviará de Sião o cetro do teu poder. Domina no meio dos teus inimigos.
3 O teu povo apresentar-se-á voluntariamente no dia do teu poder, em trajes santos; como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade.
4 Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
5 O Senhor, à tua direita, quebrantará reis no dia da sua ira.
6 Julgará entre as nações; enchê-las-á de cadáveres; quebrantará os cabeças por toda a terra.
7 Pelo caminho beberá da corrente, e prosseguirá de cabeça erguida. (Salmo 110)

1 Porque todo sumo sacerdote tomado dentre os homens é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados,
2 podendo ele compadecer-se devidamente dos ignorantes e errados, porquanto também ele mesmo está rodeado de fraqueza.
3 E por esta razão deve ele, tanto pelo povo como também por si mesmo, oferecer sacrifício pelos pecados.
4 Ora, ninguém toma para si esta honra, senão quando é chamado por Deus, como o foi Arão.
5 assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei;
6 como também em outro lugar diz: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
7 O qual nos dias da sua carne, tendo oferecido, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua reverência,
8 ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu;
9 e, tendo sido aperfeiçoado, veio a ser autor de eterna salvação para todos os que lhe obedecem,
10 sendo por Deus chamado sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
11 Sobre isso temos muito que dizer, mas de difícil interpretação, porquanto vos tornastes tardios em ouvir.
12 Porque, desde a infância sabes as sagradas letras, que podem necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido.
13 Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança;
14 mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal. (Hebreus 5)
1 Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus,
2 e o ensino sobre batismos e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno.
3 E isso faremos, se Deus o permitir.
4 Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo,
5 e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro,
6 e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.
7 Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção da parte de Deus;
8 mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.
9 Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, ainda que assim falamos.
10 Porque Deus não é injusto, para se esquecer da vossa obra, e do amor que para com o seu nome mostrastes, porquanto servistes aos santos, e ainda os servis.
11 E desejamos que cada um de vós mostre o mesmo zelo até o fim, para completa certeza da esperança;
12 para que não vos torneis indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.
13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,
14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.
15 E assim, tendo Abraão esperado com paciência, alcançou a promessa.
16 Pois os homens juram por quem é maior do que eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda contenda.
17 assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento;
18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta;
19 a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do véu;
20 aonde Jesus, como precursor, entrou por nós, feito sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.(Hebreus 6)
1 Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este regressava da matança dos reis, e o abençoou,
2 a quem também Abraão separou o dízimo de tudo (sendo primeiramente, por interpretação do seu nome, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz;
3 sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote para sempre.
4 Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dentre os melhores despojos.
5 E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que estes também tenham saído dos lombos de Abraão;
6 mas aquele cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou ao que tinha as promessas.
7 Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior.
8 E aqui certamente recebem dízimos homens que morrem; ali, porém, os recebe aquele de quem se testifica que vive.
9 E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos,
10 porquanto ele estava ainda nos lombos de seu pai quando Melquisedeque saiu ao encontro deste.
11 De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois sob este o povo recebeu a lei), que necessidade havia ainda de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?
12 Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.
13 Porque aquele, de quem estas coisas se dizem, pertence a outra tribo, da qual ninguém ainda serviu ao altar,
14 visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo da qual Moisés nada falou acerca de sacerdotes.
15 E ainda muito mais manifesto é isto, se à semelhança de Melquisedeque se levanta outro sacerdote,
16 que não foi feito conforme a lei de um mandamento carnal, mas segundo o poder duma vida indissolúvel.
17 Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus.
20 E visto como não foi sem prestar juramento (porque, na verdade, aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes,
21 mas este com juramento daquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre,
22 de tanto melhor pacto Jesus foi feito fiador.
23 E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer,
24 mas este, porque permanece para sempre, tem o seu sacerdócio perpétuo.
25 Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.
26 Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus;
27 que não necessita, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo.
28 Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, para sempre aperfeiçoado.
.(Hebreus 7). * - Salém significa Paz – ”Rei de Paz”.
Assim, estamos com o Sacerdote Eterno.

4 Vós tendes visto o que fiz: aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim.
5 Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra;
6 e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa.
(Êxodo 19)

6 Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido.
7 E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina,
8 e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.
9 Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
10 vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.
(I Pedro 2)
Somos Nação Santa, alcançamos a Justiça por Jesus Cristo que pagou nossa dívida na Cruz com seu próprio sangue!

1 Quem deu crédito à nossa pregação? e a quem se manifestou o braço do Senhor?
2 Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.
3 Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
4 Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
5 Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca.
8 Pela opressão e pelo juízo foi arrebatado; e quem dentre os da sua geração considerou que ele fora cortado da terra dos viventes, ferido por causa da transgressão do meu povo?
9 E deram-lhe a sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte, embora nunca tivesse cometido injustiça, nem houvesse engano na sua boca.
10 Todavia, foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se puser como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
11 Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniqüidades deles levará sobre si.
12 Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu.
(Isaías 53)
Eis aí Nando, nosso Sacerdote Eterno Segundo a Ordem de Melkisedek: Jesus Cristo.
Pilatos disse: - “Ecce Homo” – “Eis o Homem”.
Nós dizemos: – “Ecce Deus”
Nando, se ainda não assistiu ao Filme “Paixão de Jesus Cristo”, de Mel Gibson, O Diretor é Mel também, interessante né? Vá ver, não perca!
A Vida de Jesus Cristo é sincrônica e reverbera em todas as esferas, onde houver Vida, Ele a resgatou para ser vida eterna. È Deus mesmo encarnado, porque a um homem é impossível realizar a Obra de Cristo nas dimensões em que foi realizada, manter-se absolutamente contido e obediente à Vontade de Deus, sem um Ai! Ele é o Salvador Cósmico!
Num templo antigo no Oriente, achou-se no piso, no Centro da Nave Central, uma cruz diferente, como a que segue:


Esta cruz universal significa que o Salvador é Cósmico, em todos os níveis, em todas as esferas, do Átomo às Galáxias, Ele é o Salvador Cósmico, Salvador de todos os Apriscos, de todas as Moradas, Ele veio para restaurar e recuperar a Eternidade para tudo que findava! A Luz resplandeceu nas trevas... e a Vida é a Luz dos Homens. O Universo é um Templo para a Luz, O Cosmos é um Templo para a Luz enquanto o Homem, o Microcosmos, é um Templo para o Espírito Santo, um Templo para a Vida!

1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.
3 E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.
4 E para onde eu vou vós conheceis o caminho.
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
8 Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
9 Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras.
11 Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.
12 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai;
13 e tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei.
15 Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre.
17 a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós.
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.

Segue alguns capítulos do meu Livro “Airam: QUMRUM – Tektoniké”, que tratam do tema em torno da Ordem de Melkisedeck, considerando que um dos Magos que visitou Jesus recém-nascido chamava-se MelkiOr. Sendo que Or e Ur significam OURO e LUZ. Quando Airam é iniciado na Ordem passa a chamar-se MelkiUr.


São Luís, MA, 11 maio 2004.
F.M.C.M.
João Basileu/Fernando M C de Mello














Contracapa: Taça da Ordem








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